Entrevista/ Ex-jogador de futebol Deco dá o pontapé de saída à Boali em Portugal

Rodrigo Barros, fundador e CEO da Boali, e Deco, investidor na Boali Portugal

Deco vai abrir em Portugal a primeira loja da Boali, cadeia brasileira de restauração saudável. Em entrevista ao Link to Leaders, o ex-futebolista e diretor desportivo do Barcelona revela, juntamente com Rodrigo Barros, fundador e CEO da Boali, que o primeiro restaurante deve abrir portas em outubro em Lisboa ou Porto. 20 operações e 140 postos de trabalho são as previsões para os primeiros dois anos.

“Investimentos podem-se fazer em várias áreas, mas na Boali junta-se, primeiro, uma coisa que eu gosto, que é a alimentação, a ligação com as pessoas, ou seja, a credibilidade que a pessoa do projeto demonstra, a credibilidade das pessoas e do projeto em si, ou seja, a Boali é uma empresa consolidada e tem essa energia boa de querer crescer, de querer fazer coisas”. Quem o diz é Deco, atualmente diretor desportivo do Barcelona, que vai ser investidor da operação da cadeira de restauração de comida saudável Boali em Portugal.

O ex-jogador de futebol esteve em Lisboa com Rodrigo Barros, fundador e CEO da Boali, para falar do projeto que prepara a abertura da primeira loja no nosso país para outubro, em Lisboa e Porto. Depois de Portugal, a aposta da marca brasileira passa por conquistar outros países europeus, com Espanha já no horizonte.

O que é a Boali?
Rodrigo Barros (R.B.):
A Boali vende boa alimentação. Nós somos maioritariamente uma rede de alimentação saudável, um negócio que foi uma evolução da Salad Creations no Brasil, que era um negócio americano e que foi levado para o Brasil em 2007 pelos meus sócios Victor Giansante e Fernando Bueno. Em 2013 eu entro na sociedade como investidor – de certa forma um pouco como o que o Deco está a fazer agora para o mercado português -, e depois em 2015 criámos a Boali. Foi há nove anos e começámos a crescer, naquela época com 19 operações. Quando chegámos a 2019, a empresa tinha 30 operações no Brasil. Naquele momento recebemos uma proposta de venda da operação por um fundo de private equity americano.

Pode dizer o nome do fundo?
R.B.:
Não. Não, porque eu neguei, mas na verdade o fundo fala comigo até hoje. Quando eu neguei o fundo foi justamente porque achei que não fazia muito sentido na ocasião. Mas se forem ao site da Boali há um fato curioso, eu partilhei uma previsão: que a Boali irá fazer um IPO a 27 de abril de 2029. Isto foi escrito em 2021.

“Estamos a criar uma nova empresa em Portugal que é um master franchising da empresa brasileira (…). O Deco é o nosso sócio-investidor no negócio em Portugal”.

Já a projetar o futuro…
R.B
: Podem pensar “o cara é ousado”. Oito anos para frente, escrevi sobre o projeto e deixei lá, publiquei. Não sei se é uma coisa de doidos ou de ousadia, mas acho que tem a ver com a ousadia e visão da empresa. Em 2019, assumi a presidência da companhia justamente quando não aceitámos a ideia de fundo e começámos um crescimento e uma expansão importantes. Saímos de 30 operações, passámos pela Covid em 2020 e chegámos a mais de 80 operações no Brasil. Este ano, na verdade, vamos passar de 100 operações no Brasil. Estamos com uma previsão de 120 contratos até ao final deste ano.

O movimento de internacionalização começou em 2022 e o primeiro grande passo e a grande conquista foi a assinatura que fizemos com a Cisco, que é a maior distribuidora de alimentos do mundo. Fazemos parte de um programa deles chamado Emerging Brands, que são marcas emergentes. E quando assinámos esse programa, ganhámos a liberdade de crescer nos Estados Unidos, mas também de crescer onde quiséssemos no mundo. Pensei em trazer a Boali para o mercado português há dois anos. Aí começámos as negociações com grupos de shoppings como a Sonae, por exemplo, e com fornecedores. E foi nesse ano que me conecto com o Deco devido a um projeto da Boali no Brasil. E falo-lhe do meu sonho de trazer a empresa para Portugal como uma porta de entrada na Europa.

O Deco perguntou o que é que estava a faltar, do que é eu estava à espera para vir para cá. Faltava um parceiro. Foi então que ele me disse: “vamos fazer acontecer porque acho que vale a pena”. Foi assim que surgiu a ideia e estamos a criar uma nova empresa em Portugal que é um master franchising da empresa brasileira em Portugal. O Deco é o nosso sócio-investidor no negócio em Portugal.

Qual o conceito por trás da Boali?
R.B.: Transformar hábitos. Este é nosso propósito, é o nome da empresa no cartão de CNPJ [Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica] e essa é a nossa essência, o nosso movimento. E fazêmo-lo através da alimentação. Queremos universalizar o acesso à alimentação saudável, transformar hábitos e fazer o bem através da comida. Quando falo em universalizar o acesso, falo de um ticket de 10 a 12 euros, por exemplo, que acho que vai muito ao encontro desse propósito e, obviamente, quanto mais expandimos geograficamente mais de facto se universaliza o acesso.

Então expandir geograficamente para nós é cumprir o nosso propósito e temos a visão de ser a maior companhia do mundo no segmento saudável. Isso também está no site, não temos medo de publicar nada do que queremos fazer.

Então Portugal é o primeiro país para internacionalizar a marca?
R.B.: Os Estados Unidos vieram antes.

“(…) [Portugal] vai, sem dúvida, ser um país muito importante porque é a porta de entrada para a Europa”.

Mas Portugal é um país tão pequeno… é uma aposta para dar o salto para a Europa?
R.B.: Primeiro, não achamos que Portugal seja um sítio pequeno. Geograficamente sim, mas vai, sem dúvida, ser um país muito importante porque é a porta de entrada para a Europa. Acreditamos que em 2024 o foco é 100% Portugal e em 2025 começamos a olhar para outros países na Europa. E é muito importante dizer que vamos respeitar muito o consumidor português. Já temos a experiência de levar uma marca para os Estados Unidos e justamente por entendermos que hoje somos um conceito de marca global, e que esse conceito faz adaptações respeitando o mercado local, é como olhamos para Portugal.

Eventualmente, vamos ter um wrap adaptado ao mercado e ao consumidor português, vamos ter uma salada adaptada ao consumidor português, um molho … O meu sócio Victor Giansante, inclusive, está a desenvolver produtos na nossa ementa para Portugal. Sabemos que parte do portefólio, eventualmente 20%, vai ser um exclusivo de Portugal que não está nos Estados Unidos e que não está no Brasil.

E estão de olho em que outro país europeu?
R.B.: Sem dúvida, Espanha, que é vizinha. Deve ser o próximo país.

“O que eu encontrei na Boali foi uma empresa completamente sólida (…) e o projeto de Portugal já estava avançado”.

Depois do futebol, o Deco aposta agora num negócio diferente. Porque decidiu abraçar este desafio?
Deco
: É um pouco como o Rodrigo estava a explicar. Na verdade, um dos projetos que eu tenho no Brasil, a Arena Deco Beach (um projeto de desporto com campos de ténis e de futebol que criámos há dois anos), tem um restaurante e a nossa ideia sempre foi procurar algo que se enquadrasse com as questões da saúde, com o desporto, que é um pouco o ambiente que se vive na Arena e naquilo que procuramos.

E numa dessas procuras, por acaso, o meu filho Pedro falou-me que era um grande consumidor da Boali e eu não sabia o que era a Boali. Até porque estive muito tempo a morar no Porto, tínhamos voltado ao Brasil em 2020… e quando fui ver o que era a Boali encaixava perfeitamente naquilo que procurávamos.

O nosso sócio conheceu o Rodrigo e marcou um encontro para falarmos da Boali. No final, a ideia que era, basicamente, ver a possibilidade da Boali entrar na Arena e, consequentemente, na região, transformou-se num projeto muito mais ambicioso.

Óbvio que isso já vem de algum tempo. O que eu encontrei na Boali foi uma empresa completamente sólida, em todos os sentidos, a experiência de pessoas, o Rodrigo, enfim… e o projeto de Portugal já estava avançado. Não era só uma ideia, tinha muita pesquisa por trás, tinha muito trabalho já feito. Aí perguntei porque não entravam e o Rodrigo disse-me que estavam a ver pessoas e foi quando falei, “eu entro”. Acredito no projeto, acredito no potencial que tem e por ser em Portugal.

Tendo em conta a sua ligação ao Porto, o projeto vai começar mais no Porto? Como vai ser a aposta?
Deco:
Não. É óbvio que a minha ligação ao Porto é com certeza sentimental, com a cidade, com o clube, enfim, mas no fundo Portugal para mim é o país. Acho que não teria sentido ser regionalizado, a marca é internacional e com Portugal é de ponta a ponta. Mas é óbvio que vai ter que ter alguma no Porto, com certeza.

Para além do investimento, o que é que o Deco espera aportar a este projeto, tendo em conta a sua experiência futebolística e tudo o que tem a ver com liderança, com resiliência com persistência…
Deco:
Investimentos podem-se fazer em várias áreas, mas na Boali junta-se, primeiro, uma coisa que eu gosto, que é a alimentação, a ligação com as pessoas, ou seja, a credibilidade que a pessoa do projeto demonstra, a credibilidade das pessoas e do projeto em si, ou seja, a Boali é uma empresa consolidada e tem essa energia boa de querer crescer, de querer fazer coisas… não sei, acho que é o que eu posso aportar. Além da questão financeira, acho que é um pouco essa ligação Brasil-Portugal, essa credibilidade que conquistei ao longo da minha carreira, mas também depois, e de alguma forma a ajudar a certificar uma coisa que não precisa do meu selo.

“O Deco é um líder (…) tem uma postura e um comportamento de liderança. Então isso para nós é uma condição sine qua non que fez com que também escolhêssemos o Deco como sócio”.

E vai ser um sócio ativo? Vai pôr a mão na massa ou é apenas investidor à distância?
Deco: Não, eu já estou aqui hoje. Como falei, sou sócio de outras coisas que as pessoas não sabem, mas acho que o facto de eu hoje estar aqui, a dar a cara e de alguma forma a expor-me e a dizer às pessoas que faço parte do projeto da Boali, é dar a minha credibilidade ao projeto porque se eu não acreditasse, se não tivesse a certeza absoluta da capacidade, acho que seria muito difícil eu fazer isso. Então estar aqui hoje demonstra bastante o quanto eu acredito na credibilidade das pessoas envolvidas e na própria marca em si.

R.B.: O Deco é um líder, ele foi um líder dentro de campo, é um líder fora de campo e tem uma postura e um comportamento de liderança. Então isso para nós é uma condição sine qua non que fez com que também escolhêssemos o Deco como sócio. Uma coisa é ter a Boali no complexo do Deco [Arena Deco Beach], a outra coisa é ter o Deco como sócio da companhia aqui em Portugal.

Posso adiantar que uma das coisas que eu falei foi: “Deco, vou querer muito a tua participação”, mas confesso que não esperava que fosse tanto. O Deco mostrou-se, na verdade, muito participativo desde o primeiro momento.

Percebi no Deco não só a vontade de querer fazer dar certo, como também a disponibilidade de participar. O Deco tem participado nas tomadas de decisão que temos feito em Portugal, então não é aquele sócio que diz “toma o dinheiro e vai fazer”. Mais do que isso, ele tem participado nas decisões. E há também um ponto importante que é o seguinte: seria muito desinteligente da nossa parte não utilizar uma pessoa com a experiência de vida do Deco, com a vivência dele, com a imagem, com a marca. Veja, dentro de campo o Deco tomava decisões a todo momento e boas decisões. É só ver que ele consagrou os melhores do mundo. Foi o melhor do mundo e fez vários serem. Então ele tomava muitas decisões e fora de campo ele sempre tomou muitas decisões. E isso é um asset para a companhia, é um ativo para a Boali.

Fica aqui um ponto de observação importante: os grandes empresários, os grandes líderes no mundo são bons tomadores de decisão. Então quanto melhores decisões tomarmos, mais vamos prosperar. Essa tomada de decisão que vamos tendo em conjunto é, sem dúvida, um ativo importante para a companhia e uma mais-valia para o projeto.

Quais são as vossas expetativas para o projeto este ano? O que querem atingir?
R.B.: 
Acho que falar só deste primeiro ano seria muito curto prazo. Prefiro pensar nos próximos dois anos e apontar para 20 operações em dois anos e pensar em ter entre 26 a 30 operações em três anos. E nos primeiros dois anos ter algo como 3 milhões de euros investidos e 140 postos de trabalhos direto criados. Esperamos para um terceiro ano uma faturação de 10 milhões de euros.

Qual é que é a vossa estratégia para o mercado? Quais os primeiros passos?
R.B.: Primeiro, para um negócio como o nosso, que é um negócio de rede, precisamos de organizar a cadeia de fornecedores. Isso precisa de estar muito bem organizado e muitas marcas cometem o erro de não o fazer. As marcas acabam por vir para cá sem estarem preparadas para crescer e o que muitas vezes impede o crescimento é a falta de capacidade de distribuição e logística. E nisso nós já estamos organizados.

Fizemos um processo inverso de crescimento, preparamo-nos para crescer e para abrir a primeira loja. Hoje já estamos preparados para ter 30 lojas. E vamos abrir a primeira.

Onde?
R.B.: Ainda não temos o local fechado, mas é em Lisboa ou no Porto, ou até em Lisboa e no Porto.

Num shopping da Sonae?
R.B.: Não posso garantir isso, porque hoje temos na agenda sete shoppings. O que posso garantir é que a primeira operação vai ser num shopping.

Ainda no primeiro semestre?
R.B.: Não, no primeiro semestre não. Até junho não daria tempo nem de fazer obras, por mais que eu já tivesse avançado. Mas no segundo semestre com certeza. Temos apontado uma data que é outubro. Vamos ter a primeira loja em outubro.

Vão implementar um modelo de franchising? Quais as condições para se ser um franchisado?
R.B: Ter conexão com o propósito da empresa que está ligada à boa alimentação, à promoção da saúde. Para nós esse é o ponto chave. Segundo, a disponibilidade de investimento. Estamos a falar de um investimento entre 120 a 150 mil euros em cada loja. São 20 mil euros da taxa de franchising e depois algo na ordem dos 100 a 120, 130 mil euros de investimento global para adquirir equipamentos, fazer obras e tudo o resto. Então, a conexão com o nosso propósito, a capacidade de investimento e a vontade de operar são requisitos imprescindíveis.

Não vamos abrir a um investidor puro, mas sim a um investidor/operador. Não estou com isto a dizer que tenha de ficar com a barriga colada ao balcão, como o meu avô fazia na época dele, mas terá de fazer a gestão da operação. Por exemplo, hoje, no Brasil, temos em média três operações por franchising, um número que também queremos replicar em Portugal. Imaginamos que cada franchisado pode chegar a três ou quatro operações.

“No caso dos negócios, é tentar trazer também um pouco desse prazer  [do futebol ] porque o negócio só por dinheiro não tem o mesmo sentido”.

É mais fácil fintar dentro de campo ou no mundo dos negócios?
Deco: Jogar futebol é algo que gostamos, que amamos. Depois passa a ser um trabalho, uma profissão à qual dedicamos muito do nosso tempo. A vida de jogador é sempre uma vida espetacular, pelo facto de se poder fazer o que se gosta, de se ser recompensado por isso, de se ser reconhecido financeiramente de todas as formas, de se estar com pessoas, por tudo o que se aprende, de evoluirmos como pessoas, de estarmos em tantos lugares e de conhecermos muita gente. É muito dinâmico e 10, 15 anos parecem que são 50 anos pela quantidade de vida, de informação, do que passamos com tanta velocidade.

No caso dos negócios, é tentar trazer também um pouco desse prazer porque o negócio só por dinheiro não tem o mesmo sentido. É óbvio que todo negócio tem uma parte financeira, mas é importante que também nos dê prazer, que consiga ter algum propósito e que tenha sentido para nós. Obviamente que, ao ter sentido para nós, tem também para os outros.

O que é que aprendeu em campo que agora aplica no mundo dos negócios?
Deco: Equilíbrio! É óbvio que isso também vem com o tempo. O futebol tem uma coisa muito engraçada, já que quanto mais sabe, menos vai poder fazer, ou seja, no momento em que é mais sábio é o momento em que tem que deixar, tem de abandonar a profissão.
Na vida e nos negócios é um pouco isto também. Para além do equilíbrio, a humildade para aprender, para saber quando às vezes não se sabe nada. Há que ter a humildade de saber que há pessoas que estão à tua frente, que são mais velhas, que têm mais experiência e que te podem ensinar.

Também a cooperação, o jogo em equipa, uma série de coisas relacionadas com a confiança. No fundo, o que eu acredito é primeiro tentar fazer alguma coisa que dê alguma satisfação pessoal e depois que tenha algum sentido, algum propósito.

“Na verdade eu sempre fui empreendedor. Nunca gostei muito de ficar com o dinheiro parado”.

O seu lado empreendedor já existia ou começou a colocar em prática enquanto era futebolista?
Deco: Na verdade eu sempre fui empreendedor. Nunca gostei muito de ficar com o dinheiro parado. Sempre comprei terrenos, casas, desde que comecei a ganhar gostava de ter dívidas. Em algumas coisas tive sorte. Outras devido à inexperiência acabaram por não acontecer. Às vezes não há uma explicação. Não aconteceu porque não tinha que acontecer.

Aprendi desde muito cedo que me tinha de focar no que era o meu momento e o meu momento era jogar futebol, concentrar-me. Eu não tinha capacidade nem foco para fazer outra coisa. Qualquer coisa que eu fosse fazer enquanto jogasse futebol estaria a desviar a minha atenção e não acredito que na vida se consiga fazer algo bem feito sem foco. Acho que é muito difícil. Então, eu sabia que não valia a pena inventar muito.

Tive a oportunidade de criar uma empresa do zero que era uma empresa tanto de consultoria para clubes como para jogadores. Foi uma empresa com sucesso. Paralelamente, tinha colégios, empresas de incorporadora [especializada em imobiliário], fui diversificando os negócios e mais recentemente tomei a decisão de assumir a direção desportiva do Barcelona, um desafio grande, um desafio complicado, complexo, num momento importante do clube.

É fácil conciliar tudo o que tem em mãos neste momento?
Deco: Na maioria dos projetos em que estou envolvido não preciso de estar no dia a dia. Obviamente que quando o Rodrigo falou se eu queria ser sócio em Portugal respondi-lhe: Sou, mas só posso ir até um certo ponto. Primeiro, não tenho conhecimento e não teria a capacidade para liderar algo com tanta responsabilidade como é a implementação de um projeto, a implementação de tudo. É óbvio que vou até ao final, mas dentro da minha limitação. Por isso, acredito que a oportunidade de dar certo é muito grande porque é importante saber até onde se pode ir.

A equipa em Portugal é constituída por quantas pessoas?
R.B.: Neste momento contamos com a equipa que já faz parte da empresa no Brasil. Vamos fazer um kick off e começar a contratar para formar a nossa equipa aqui em Portugal.

Quem está a elaborar as vossas ementas?
R.B.: Sabemos que existem algumas redes portuguesas que contam com um chefe para elaborar as suas receitas. 100% do nosso portefólio é clean label. Temos a preocupação de ser uma rede sustentável, com desperdício quase zero. Todos os ingredientes das nossas receitas chegam às lojas prontos para serem consumidos. Esse é o nosso grande foco.

O meu sócio Victor Giansante, que é o diretor de produtos da empresa, já está a desenvolver parcerias com fornecedores e vamos utilizar a mesma parceria e contrato que temos com a Cisco nos Estados Unidos com a Cisco Europa. A Cisco vai tratar da questão da logística para a Boali e já nos está a ajudar com a questão dos fornecedores, e obviamente que estamos a olhar para fornecedores portugueses para poder movimentar a economia local.

Sabemos da importância de nos adaptarmos à cultura local, de termos interlocutores e parceiros locais. Por exemplo, já estivemos com o pessoal da UNOX que é uma empresa de fornos e vamos adquirir fornos desta empresa que tem distribuição em Portugal e estivemos também com um distribuidor português de equipamentos para a cozinha.

“Acho muito difícil ser treinador, não estudei para isso. Sempre gostei foi de gestão”.

Deco como é que se vê no futuro? Presidente de um clube, treinador ou um homem de negócios?
Deco: Presidente de um clube, não sei. Treinador não. Acho muito difícil ser treinador, não estudei para isso. Sempre gostei foi de gestão. Acabei por abrir uma empresa, que criei do zero, depois tomei uma decisão bastante radical que foi passar para gestão pura e dura do dia a dia de um clube, o que eu dizia que nunca iria acontecer. Falava que não teria um chefe quando parasse de jogar e agora tenho. Então não sei, porque os desafios vão surgido no dia a dia.

A ligação ao futebol vai estar sempre presente?
Deco: De alguma forma sim, porque eu gosto, é uma paixão. Em que conceito, não sei porque também vai definir um pouco os projetos pessoais, familiares. Se estiver bom para a minha família, tudo bem. Se começar a ficar difícil, sou capaz de mudar. É por aí. E que consiga dar atenção aos meus projetos paralelos à medida que as coisas vão evoluindo. De repente qualquer dia eu esteja numa loja da Boali, num shopping.

R.B: Eu vou responder como vejo o Deco no futuro: a tocar o sino com a Boali, a fazer o IPO da Boali em 2029.

Sabendo nós que a profissão de futebolista é de curto prazo, e que muitas vezes os jogadores acabam a carreira sem saber o que fazer a seguir, que conselhos deixa aos seus colegas no sentido de prepararem o futuro, de serem empreendedores?
Deco:
Eu aprendi uma regra há muitos anos, quando comecei a jogar, que o meu pai também falava, que é a regra do 30/70. Se guardar 70% do que ganha enquanto jogador e gastar os 30 não importa o quanto ganha porque vai conseguir ter a mesma vida que tinha enquanto jogador. É uma regra óbvia. Quando deixar de jogar não pode fazer negócios errados, não pode perder dinheiro.

Tentar, de alguma forma, rodear-se de pessoas com qualidade, porque ninguém sabe nada aos 22, 23, 24 anos, ainda mais quando está a ser bem-sucedido, a ganhar dinheiro e fama…É tentar ser o mais normal possível, mesmo quando tem todo este mundo à sua volta.

E, se possível, tentar sempre ver, minimamente, como vai custar a sua vida depois de deixar o futebol e ter o mínimo de equilíbrio para ter oportunidade de escolher, de poder fazer um curso sem ter a pressão de ganhar dinheiro, de poder preparar-se para ser treinador, de abrir uma empresa e ter que investir nela. Ou seja, ter essa capacidade de escolha, porque se tiver uma necessidade urgente de dinheiro talvez as suas escolhas sejam precipitadas e com pouca falta de critério. Ninguém sabe exatamente o que quer fazer quando pára de jogar. Pouca gente tem claro o que vai fazer.

“O segredo, para mim, é ter calma, humildade para saber que a verdade é que você não sabe nada além de jogar futebol e que com o tempo você aprende, com certeza”.

Mas ter esse planeamento ajuda, não!
O planeamento permite, no fundo, ter essa capacidade de aprender, de se dedicar. Se quer ser treinador, não há problema, não vou receber nada agora, mas vou aprender nesses dois, três anos, vou evoluir. Se quer abrir uma empresa de agenciamento, vou poder investir no meu tempo, fazer viagens, contratar gente. Acho que é isso. Outros também fazem ao contrário e dedicam-se aos próprios negócios, à gestão do seu próprio património.

O segredo, para mim, é ter calma, humildade para saber que a verdade é que você não sabe nada além de jogar futebol e que com o tempo você aprende, com certeza. No fundo, ter bastante calma porque a tendência é sempre achar que sabe muita coisa e no fundo não sabe.

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