Espanha: diretoras pedem medidas para dar visibilidade à mulher nas empresas

Cinco diretoras espanholas reuniram-se num debate organizado pelo site Expansión para discutir os desafios e soluções para a mulher no mundo das empresas, como fomentar a igualdade e a visibilidade no ambiente laboral, abordando também outros setores como a educação.

A Espanha está melhor posicionada em relação a outros países em matéria de políticas de igualdade de género, mas, como assegura a diretora da Mujeres&Cía, Mercedes Wullich: “Há que ajustar algumas medidas”. As empresas são uma das áreas onde urge a revisão e criação de novas medidas para fomentar o talento feminino, e consequentemente, a igualdade.

Uma das principais medidas que se discutiu foi a conciliação. A diretora de Operações da Direct Seguros, Silvia Gayo, recordou que “a parte da conciliação nas empresas é fundamental”. Além disso, a Direct Seguros acaba de lançar a medida do teletrabalho para facilitar a conciliação.

A fundadora da Club Malasmadres, Laura Baena, entende que o teletrabalho é somente uma medida de “flexiblização”, e concorda com a importância da conciliação, já que segundo Baena é “a única opção”. Além disso, afirma que um dos seus principais problemas é “a falta de responsabilidade por parte do homem”. Baena reivindica que se devem “promover horários flexíveis com flexibilidade horária”, para que a conciliação seja efetiva.

Mercedes Wullich não tem dúvidas de que a sociedade avança e por isso há que “repensar as empresas porque a geração pede outras coisas”. Wullich afirma que o principal problema das empresas é que “estão estruturadas de tal maneira que as mulheres não estão dispostas a assumir o custo da posição do homem”.

Neste sentido, a fundadora e conselheira delegada da Spain Startup-South Summit, María Benjumea, acha que o “fundamental” é a liberdade de escolha da mulher.

A desigualdade é evidente, mas a conciliação não é a única medida. A ausência de mulheres, não só nas empresas, mas também noutros setores é palpável, mas o campo da tecnologia é o mais afetado no que toca à visibilidade.

A falta desta provoca que haja um menor número de mulheres que optem por postos diretivos, como afirma a diretora de Comunicação e Assuntos Públicos da Google Espanha e Portugal, Anaïs Pérez Figueras: “É fundamental que a educação não seja só desenvolvida por parte das empresas, mas que se inicie nas escolas. Deve começar-se a fazer feiras e congressos onde se realce a figura e papel da mulher. O crescimento da empresa é de 15% quando há 30% de executivas em postos superiores”.

Além disso, acrescenta que as empresas devem mudar o sistema de seleção de pessoal, pois continuam a recorrer aos mesmos centros educativos onde o número de mulheres é reduzido.

Pelo contrário, para María Benjumea não se trata só da visibilidade, o que há é uma “falta de escolha por parte da mulher nas carreiras tecnológicas”, e defende que ” pode educar-se para a igualdade, mas os gostos e preferências têm influência”.

O fator sociocultural e a família continuam a ter influência no conceito da mulher no mundo laboral, por isso não há que afastar-se disso, mas tê-lo presente. Afirma Baena: “Há que consciencializar as empresas de que muitas das barreiras que as mulheres têm dentro delas vêm do lar”.

Wullich afirma que o género feminino continua a ter “muitas prioridades repartidas”, ao contrário dos homens. A maternidade entra em jogo neste conceito, onde segundo Baena “6 em cada 10 mulheres renuncia à sua carreira profissional para ser mãe”. Baena afirma que isto provoca que 40% das mulheres se tornem empreendedoras para poder conciliar.

Em Espanha há empresas que cumprem com a quota de género. Apesar das regras estarem a seu favor e acreditarem que são necessárias, pensam que não devem ser somente uma questão de números. Por outro lado, Baena critica que o Governo não queira as quotas. Para Wullich as quotas de género devem-se ao facto da Espanha estar na UE, para que não haja um sexo super-representado, enquanto que Figueras entende que as quotas devem estar ligadas às mudanças sociais.

Wullich declara estar “cansada”. Por isso, acredita que “há que cerrar um pouco os dentes e pedir as coisas que fazem falta” porque, depois da sua experiência de anos de luta, não quer ter “conversas sobre igualdade” em pleno século XXI com as suas netas.

Benjumea assegura que se devem empoderar mais as mulheres com mensagens.

Laura Baena discorda com o discurso “positivista” de Benjumea. Segundo Baena, o discurso de empoderamento não resulta, “se depois esbarras nas estruturas que estão condicionadas para que a mulher não sobressaia”. Para que haja mudança, é necessário empoderamento juntamente com uma alteração nas leis, e insta as mulheres a “continuar a revindicar, falar destes temas e lutar juntas”.

Gayo assegura que os desafios principais desta batalha para a igualdade são só três: o primeiro “é que a luta deve ser conjunta entre homens e mulheres; o segundo tem que ver com que a educação deve fazer-se “desde a escola até à empresa”; e o terceiro, tem que se caminhar para que a remuneração deve ser por “objetivos e não por tempo”.

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