Opinião
A Era do Indivíduo – Parte II

Em julho, a propósito do lançamento das conclusões do estudo Global Talent Trends, da Mercer, escrevi sobre a aceleração exponencial da mudança nesta nova “Era do Indivíduo”.
Hoje escrevo sobre a importância de trabalharmos com um propósito ou, se preferirem, com um desígnio, um objectivo, uma inspiração… Pode parecer um lugar-comum, mas de facto, na era em que vivemos, as pessoas valorizam cada vez mais o “sentido que tem o trabalho que realizamos no dia-a-dia”. As empresas que consigam integrar, na sua proposta de valor, esta dimensão do “Propósito” estarão não só a aproveitar muito melhor o potencial de cada um, mas também a permitir que as pessoas sejam, elas próprias, agentes de mudança que, como sabemos, é um dos factores críticos de sucesso nos dias de hoje.
Conhecer, comunicar e promover este “sentido/propósito do trabalho”, alinhando-o com a missão da empresa e com os valores pessoais, fará com que as pessoas dêem o melhor de si em tudo o que fazem. As empresas que, através dos seus líderes, ajudarem cada um de nós a identificar e a não ter medo de explorar o que de melhor temos em nós, irão certamente crescer e dar fruto tornando-se estruturas em que o trabalho tem um sentido (propósito) conhecido e vivido por cada pessoa.
Thriving leaders make thriving organizations.
Esta necessidade de encontrar um propósito para o trabalho é tanto mais importante se pensarmos que a automação e a IA tendem a reduzir o trabalho a uma mera lista de tarefas a cumprir. Nesta era em que a tecnologia se funde com a pessoa, é importante ajudar o individuo a descobrir o propósito e a relevância do seu trabalho. E esta busca do propósito é importante em qualquer fase da nossa carreira profissional, sendo transversal a todas as gerações.
Sem querer generalizar, atrevo-me a dizer que aos vinte anos é fundamental perceber o que queremos ser profissionalmente e o que a empresa tem para nos oferecer. Aos trinta anos, questionamo-nos sobre o que fizemos até agora e o que ainda queremos fazer. Aos quarenta, surgem reflexões sobre de que forma o nosso trabalho contribui para a nossa felicidade e realização pessoal e para o bem-estar das nossas famílias. Aos cinquenta, questionamo-nos sobre como é que o nosso trabalho pode influenciar as pessoas e os clientes com quem trabalhamos. Aos sessenta e, brevemente, aos setenta iremos questionar-nos sobre o que foi uma vida de trabalho e sobre o que ainda podemos contribuir. Não arrisco vaticinar o que será o propósito do trabalho aos oitenta ou noventa anos, mas acredito que com o envelhecimento da população iremos, de aqui a umas décadas, estar a refletir sobre este tema. Uma coisa parece-me, todavia, certa: a procura do propósito do trabalho acompanhar-nos-á ao longo das nossas vidas.
Para concluir, recorro novamente ao estudo Global Talent Trends da Mercer em que 39% dos inquiridos diz-se satisfeito com o seu atual trabalho, mas equaciona sair da empresa por falta de opções de carreira. Investir nesta ideia de working with purpose parece-me, pois, também crucial para reter talento nas organizações. De acordo com o mesmo estudo, 75% das pessoas responderam que há três vezes mais probabilidades de trabalharem numa empresa que tenha uma missão e sentido de propósito forte e claro. Por outro lado, apenas 13% das empresas inquiridas reconhecem que o seu EVP se distingue pela missão/propósito da organização.
Há, pois, um longo caminho a percorrer. Vale a pena pensar nisto…