Opinião

Encarar 2023 tal e qual como atravessamos a estrada

Tomás Loureiro, Head of Innovation Intel na EDP

A semana do Natal e ano novo é sempre uma época especial. É especial porque é habitualmente uma quadra familiar, mas também porque é uma época de balanços e resoluções para um ano que se avizinha. Este ano estive a pensar e desejo a todos que passem o ano – e vivam 2023 – tal e qual como nos ensinaram a atravessar a estrada – parar, olhar, escutar, avançar, recomeçar.

“Boas festas e boas entradas” dizemos, quase que rotineiramente, a todos com quem nos cruzamos. Mas esta quadra – desde os dias que antecedem o Natal até aos primeiros dias do novo ano – é carregada de importância para as nossas vidas pessoais, profissionais e comunitárias, e por vezes nem nos apercebemos disso. Para uns uma quadra de felicidade e harmonia, para outros de saudade e nostalgia. Para uns de descanso, para outros de trabalho. Para uns de comunhão, para outros de solidão. Para uns de correria, para outros de calmaria. Para uns de encontros, para outros de desencontros. Mas para todos uma quadra que marca, que não nos fica indiferente, que faz sentir, que nos faz sentir, por melhores ou piores razões.

É também uma quadra de resoluções e planos de mudança. É uma época de fecho de contas e finalização de orçamentos nas empresas, de fazer balanços individuais e pessoais e de projetar o ano que aí vem. Não deixa de ser curioso que do dia 31 de dezembro para o dia 1 de janeiro – à exceção da agenda (para aqueles que ainda usam em papel) e um número na data – efetivamente nada muda. E no entanto muda tudo. Muda porque olhamos para este dia como se fosse um ponto de inflexão, um marco para iniciar mudanças. E ainda bem. Todos os anos há a tradição de se pedirem 12 desejos, com as 12 badaladas, para o novo ano. Eu apenas desejo este ano que encaremos 2023 (e o vivamos) tal como nos ensinaram a atravessar a estrada.

Parar | porque tantas vezes andamos a correr, focados na rotina e nas coisas do dia a dia, respondendo a estímulos infinitos das mais variadas formas (às vezes quase como ratos na roda infinitamente girante), que nos esquecemos de parar. Parar para descansar, parar para pensar, parar para pensarmos no caminho que estamos a seguir, para termos a certeza que estamos a atravessar a rua certa. Parar para planear, parar para replanear, parar para avaliar. Parar para contemplar, parar para dar valor, parar para cuidar de nós e do próximo. Parar para tomar melhores decisões, tanto na vida pessoal como profissional, até porque os melhores líderes são precisamente aqueles que sabem parar e entendem quando isso é necessário, seja para descansar, para reunir, para pensar, para discutir. No final do dia, parar antes que sejamos obrigados a parar. Parar para não sermos abalroados por um carro mais desatento na estrada que atravessamos.

Olhar | porque tantas vezes erramos porque fizemos as coisas sem olhar, ou porque olhámos sem realmente vermos ou observarmos. Num mundo em que abunda a informação e os estímulos é fundamental que saibamos realmente olhar, e discernir o que é importante do que não é. Olhar à volta para percebermos o que nos rodeia, olhar para entendermos os acontecimentos que se vão desenrolando, para conhecermos o mundo. Olhar para estarmos informados, para sermos cultos, para termos opinião. Olhar para sabermos onde devemos estar e onde não devemos estar. Olhar por nós próprios e olhar pelo próximo. Olhar para melhor gerir, até porque um bom líder é capaz de olhar, entender, observar as melhores práticas, entender comportamentos, ver para além do óbvio. Em 2023, desejo que saibamos olhar mais, mas acima de tudo melhor, para que também consigamos perceber e lidar com os carros na estrada.

Escutar | porque é a escutar que realmente aprendemos (que é diferente do que simplesmente ouvir). A escutar os outros, a escutarmo-nos a nós próprios, a escutar a atmosfera e os sinais à nossa volta. Não é por acaso que as melhores marcas são aquelas que escutam ativamente os seus consumidores e a sua opinião, nem é por acaso que os melhores líderes são aqueles que são capazes de ouvir as suas equipas e as organizações para perceber as suas necessidades. Tal como na vida, também quando atravessamos a estrada é importante sabermos escutar, porque muitas vezes há veículos ou contrariedades que à 1.ª não conseguimos ver, mas conseguimos ouvir. Que em 2023 sejamos capazes de escutar mais, individualmente, enquanto empresas e enquanto governos e sociedades.

Avançar | porque por mais que paremos, que olhemos, que escutemos, só atravessamos a(s) estrada(s) se avançarmos. Fazer planos e tomar decisões nem sempre é fácil, mas o difícil realmente é ter a coragem para avançar. Grande parte das empresas (e já agora dos governos) tipicamente não falha por erros na estratégia ou no planeamento. Falha sim pela fraca execução e pela falta de coragem de transformar decisões em ações, com coragem e de forma consequente. Que em 2023 haja mais coragem para avançar a todos os níveis da nossa sociedade.

Recomeçar | porque 2023, como qualquer ano, é feito de inúmeras estradas para atravessar, com mais ou menos dificuldade. E elas são para ser atravessadas, com coragem e determinação. Nunca é tarde para voltar atrás e recomeçar o processo, mesmo quando já demos alguns passos na estrada. Aliás, todos os momentos são bons para aprender com os erros e começar, até porque nunca recomeçamos do zero, mas sim da experiência – tanto a nível pessoal como profissional. Num ano que se avizinha difícil a nível económico para as empresas, a capacidade de recomeçar, a resiliência e a coragem serão fundamentais para o seu sucesso.

Finalmente, e seguindo a metáfora da estrada, desejo que todas as entidades que de alguma forma têm influência naquilo que é a vida quotidiana das pessoas e na atividade produtiva das empresas (reguladores, governos, etc), possam elas ser facilitadoras (e não complicadoras) deste “atravessar da estrada”, sabendo colocar passadeiras e semáforos onde são necessários.

Caso isso não seja assegurado, e especialmente no contexto atual, as pessoas e as empresas irão progressivamente procurar locais com estradas mais fáceis de atravessar.

Desejo a todos um ótimo 2023 e que consigamos sempre atravessar as estradas a que nos propusemos ou que surgiram no caminho.

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Tomás Loureiro

Tomás Loureiro

Tomás Loureiro é Head of Innovation Intel na EDP, responsável por apoiar o CEO da EDP Inovação na definição da estratégia global de inovação e das apostas futuras do Grupo EDP. Anteriormente, foi Chief of Staff to CEO / Advisor do Board no Grupo Media Capital, responsável por acelerar a implementação da visão estratégica e transformação do grupo, acompanhando também os temas ligados à inovação e customer & business intelligence. Foi ainda consultor na Boston Consulting Group durante seis anos,... Ler Mais..

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