Opinião
Empreender na saúde digital: 5 passos para criar parcerias de sucesso entre start-ups e universidades

O setor da saúde digital está a crescer exponencialmente, impulsionado pela inovação tecnológica e pela crescente procura por soluções mais eficientes e acessíveis. No entanto, empreendedores nesta área enfrentam desafios como a regulamentação complexa, validação clínica e captação de investimento.
Parcerias entre start-ups e universidades surgem como um caminho estratégico para acelerar o desenvolvimento de novas tecnologias, garantindo credibilidade científica e facilitando a adoção no mercado. Baseando-nos em modelos bem-sucedidos, como o caso de colaboração académica na cardio-oncologia, exploramos hoje cinco passos fundamentais para empreendedores que desejam estabelecer colaborações eficazes entre indústria e academia.
- Encontre a universidade certa
Start-ups frequentemente enfrentam dificuldades na validação científica dos seus produtos. Parcerias com universidades permitem acesso a especialistas, estudos clínicos e redes de investigação. O primeiro passo é identificar instituições que possuam centros de investigação alinhados com a sua inovação. Participar em congressos científicos, conectar-se com docentes via LinkedIn e explorar departamentos de inovação aberta são formas eficazes de estabelecer contacto. A sinergia entre a necessidade da academia por novas tecnologias e a necessidade da start-up por credibilidade científica pode resultar numa parceria estratégica.
- Estruture um acordo transparente
Após estabelecer contacto com uma instituição, é essencial formalizar a parceria através de acordos bem definidos. Um Memorando de Entendimento (MoU) pode ser o primeiro passo, delineando objetivos comuns e a metodologia de colaboração. Documentos como Acordos de Confidencialidade (NDAs) e Acordos de Uso de Dados são fundamentais para garantir a proteção de propriedade intelectual e a segurança dos dados dos pacientes. Empresas e universidades possuem objetivos diferentes – a clareza nos acordos reduz conflitos e aumenta a eficiência da colaboração.
- Aproveite a infraestrutura académica
Universidades oferecem recursos valiosos, como laboratórios, bancos de dados clínicos e equipas de investigação multidisciplinares. Pequenas start-ups, que normalmente enfrentam limitações financeiras, podem beneficiar significativamente destes ativos, acelerando a fase de investigação e desenvolvimento (I&D). Ainda, muitas instituições possuem programas de financiamento para inovação, permitindo que start-ups acessem bolsas e fundos para desenvolvimento tecnológico.
- Envolva investigadores e estudantes
A criação de uma equipa de investigação dedicada ao projeto é essencial para gerar dados científicos robustos. Estudantes de mestrado e doutoramento podem ser integrados na investigação, trazendo novas perspetivas e reduzindo custos com pessoal. Em acréscimo, trabalhar com médicos e cientistas permite que a start-up refine seu produto com base em feedback especializado. Ao longo da colaboração, reuniões periódicas devem ser realizadas para alinhar expectativas e ajustar estratégias.
- Valide a tecnologia e escale o negócio
A fase final da parceria deve focar-se na validação clínica e publicação de resultados. Estudos realizados em conjunto com universidades aumentam a credibilidade da solução perante investidores e reguladores. Publicações científicas ajudam na aprovação por entidades como a FDA e EMA, facilitando a entrada no mercado. Uma vez validada, a tecnologia pode ser licenciada para grandes players da indústria ou utilizada para atrair financiamento para a escalabilidade do negócio.
As start-ups de saúde digital que integram inovação com validação científica têm uma vantagem competitiva significativa. O modelo de colaboração entre indústria e academia cria um ecossistema onde a tecnologia é desenvolvida com base em evidências, garantindo credibilidade e facilitando a adoção por profissionais de saúde. Ao seguir estes cinco passos, empreendedores podem transformar uma ideia promissora numa solução médica escalável e impactante.
Tiago Cunha Reis, Ph.D., é doutorado em Sistemas de Bioengenharia pelo programa MIT-Portugal, tendo desenvolvido o seu doutoramento no Hammond Lab (MIT, EUA). Com foco nas necessidades de translação médica, o então engenheiro é agora aluno de Medicina. Reconhecido por sua paixão pela humanização da tecnologia em saúde e por melhorar ferramentas de diagnóstico e prognóstico, Tiago Cunha Reis possui um amplo histórico de prémios, publicações e nomeações internacionais em sociedades científicas europeias. Fomentador de conhecimento aplicado, fundou uma start-up focada em sensores e inteligência artificial, a qual expandiu internacionalmente antes de ser adquirida no final de 2022.