Opinião
Liderança pessoal: o primeiro passo para transformar equipas

Num tempo em que tanto se fala sobre estratégias, performance e metas a atingir, é fácil esquecermo-nos de que a base de qualquer liderança verdadeira começa muito antes de influenciarmos os outros, começa dentro de nós.
Há algo de profundamente transformador no momento em que compreendemos que liderar uma equipa não é, em primeira instância, sobre orientar o outro, mas sim sobre aprender a orientarmo-nos a nós mesmos, com honestidade, coragem e presença.
A liderança pessoal não é apenas um conceito bonito para abrir palestras ou preencher manuais de desenvolvimento humano. É, antes de tudo, um compromisso sério com o autoconhecimento, com a capacidade de olhar para dentro e sustentar esse olhar, mesmo quando ele revela feridas, padrões, incoerências e vulnerabilidades. É sobre assumir total responsabilidade pela nossa jornada interior, pelos nossos comportamentos, escolhas, reações e pela forma como nos apresentamos no mundo, todos os dias.
É impossível inspirar verdadeiramente uma equipa se não estivermos em paz com a nossa própria verdade.
Pensemos num líder como o capitão de um navio. Quando este não tem clareza sobre o destino, quando se perde nas tempestades internas ou reage impulsivamente às pressões externas, toda a tripulação sente. Não importa o quão eloquente sejam as suas ordens ou o quão brilhante seja o seu currículo, a ausência de coerência entre discurso e presença real mina a confiança da equipa, e sem confiança, não há colaboração, nem transformação.
Por outro lado, quando um líder está conectado aos seus valores, sabe para onde quer ir e, mesmo diante das adversidades, mantém a serenidade, a humildade e a escuta ativa, transmite não apenas direção, mas segurança emocional. Esse tipo de líder inspira não pelo controlo, mas pela conexão. Não pela autoridade formal, mas pela autenticidade do ser.
Esse é o verdadeiro poder da liderança pessoal: transformar a relação que temos connosco para, a partir daí, impactar de forma mais íntegra, humana e sustentável as equipas que conduzimos.
Como cultivar essa liderança de dentro para fora?
- O autoconhecimento é o início de tudo
Saber quem somos, como funcionamos e onde nos sabotamos é o ponto de partida. Quando conhecemos as nossas forças e também as nossas fragilidades, sem julgamento, mas com responsabilidade, tornamo-nos mais conscientes das nossas escolhas e mais empáticos com os outros. Um líder que reconhece, por exemplo, que tende a ser impulsivo sob pressão, pode trabalhar intencionalmente para cultivar a pausa, a respiração e a escuta antes de reagir. Essa autoconsciência muda tudo: evita conflitos desnecessários, promove relações mais equilibradas e oferece um modelo de maturidade emocional à equipa.
- Vulnerabilidade não é fraqueza, é maturidade emocional
Existe ainda uma crença resistente de que um líder precisa mostrar certezas, parecer inabalável, ser aquele que tem sempre as respostas certas. Mas a verdade é que as equipas não precisam de heróis perfeitos, precisam de humanos disponíveis. Quando um líder se permite mostrar que também tem dúvidas, que também está a aprender, cria-se um espaço psicológico onde todos se sentem mais à vontade para ser quem são, para errar, para perguntar, para crescer juntos. Dizer “não tenho todas as respostas, mas estou aberto para construirmos juntos” é um dos atos mais poderosos de coragem relacional que um líder pode ter.
- Propósito: a bússola interna que orienta todas as decisões
Liderar sem propósito é como andar às cegas num nevoeiro: seguimos por inércia, mas sem clareza de direção. Já quando temos um porquê claro e sabemos aquilo que verdadeiramente nos move, tudo ganha um novo significado. Um líder com propósito não lidera apenas para cumprir tarefas, mas para elevar as pessoas, para deixar um legado, para transformar a cultura de dentro para fora. E isso contagia. Equipas lideradas com propósito sentem-se mais motivadas, mais comprometidas e mais realizadas.
- O exemplo move mais do que qualquer discurso
Há algo de profundamente incoerente e até desmotivador em líderes que dizem uma coisa e fazem outra. A verdadeira autoridade nasce do exemplo, não da imposição. Um líder que cuida de si, que respeita o tempo dos outros, que investe no seu próprio desenvolvimento e que tem coragem de evoluir constantemente, não precisa de falar muito para ser ouvido. A sua presença já comunica.
Um caso real de transformação a partir do interior
Lembro-me de um líder com quem trabalhei, responsável por uma equipa tecnicamente brilhante, mas emocionalmente desconectada. Ele sentia que, apesar do talento que tinha à disposição, os resultados estavam aquém do esperado e o ambiente era marcado por distanciamento, pouca confiança e alguma rigidez relacional. Ao iniciar um processo de desenvolvimento pessoal, ele confrontou-se com a sua própria forma de liderar: muito exigente, pouco disponível emocionalmente e com dificuldade em mostrar vulnerabilidade. Aos poucos, começou a mudar. Passou a ouvir mais, a partilhar as suas dificuldades, a humanizar os diálogos. Em poucos meses, a equipa transformou-se: mais abertura, mais colaboração, mais brilho nos olhos. Porque quando um líder muda, tudo muda.
Estas são algumas das práticas que recomendo para começar:
- Criar um momento de pausa no seu dia. Nem que sejam cinco minutos de silêncio, respiração ou escrita intuitiva. O importante é aprender a escutar-se.
- Refletir sobre os seus valores inegociáveis. Quais são os três valores que guiam a sua vida? Está a viver em coerência com eles?
- Pedir feedback com humildade. Pergunte a pessoas de confiança: “O que vê em mim como líder? O que acha que posso melhorar?” e escute sem se defender.
- Praticar a escuta real. Nas próximas reuniões, desligue as distrações, olhe nos olhos e ouça como quem quer compreender, não como quem quer responder.
* E Senior Executive Leader