Entrevista/ “É crucial ter as pessoas certas para nos aconselhar numa área em que não somos especialistas”

Pedro Drummond Borges, proprietário da Quinta do Carvalhido

“A minha experiência como gestor e empresário determinam que, apesar da enorme paixão, a razão se sobreponha e determine os superiores interesses da quinta e da empresa. Mas é bom lembrar que sem paixão e uma dose de risco adequada não se atinge o sucesso que todos sempre pretendemos”, revela Pedro Drummond Borges, proprietário da Quinta do Carvalhido.

A Quinta do Carvalhido tem mais de 100 anos e uma história de família por trás. Foi em 2013 que Pedro Drummond Borges, em conjunto com a sua mulher e os seus cinco filhos, começou a dar os primeiros passos neste projeto e a recuperar as vinhas.

A decisão de se criar uma marca própria acontece quatro anos depois, em 2017, quando concluem que as videiras são capazes de produzir uvas de qualidade superior. “O grande objetivo dos primeiros anos era recuperar as vinhas e videiras, implementar as melhores técnicas e criar rotinas na vinha que a médio prazo nos pudessem dar a maior qualidade de uvas possível e também em maior quantidade. Em 2017, é tomada a decisão de criar a marca de vinho Quinta do Carvalhido e produzimos o primeiro tinto”, partilha com o Link to Leaders Pedro Drummond Borges, o atual proprietário.

Em 2020 juntam ao portfólio o primeiro branco e em 2022 criam uma gama com o nome Carvalhido, conta o produtor, um homem de negócios, com experiência consolidada de mais de 30 anos em multinacionais e de outros 20 anos como empreendedor. Lança-se neste projeto pela paixão à quinta, mas com também com o objetivo de “tudo fazer para que possamos passar a quinta às gerações vindouras em situação de total independência financeira e de reconhecimento pelo mercado”.

Que balanço faz deste ano de lançamento da Quinta do Carvalhido?

O balanço que fazemos do ano de lançamento da empresa e respetivos vinhos é muito positivo. Não só se atingiram os objetivos de vendas em número de garrafas, como também se cumpriram as metas financeiras definidas para o ano de 2023.

Qual o conceito da marca?

O conceito estabelecido para a marca Quinta do Carvalhido é um conceito de topo, ou seja, de alta qualidade para que projete a empresa e os seus vinhos para o segmento mais alto do mercado vitivinícola em Portugal.

Quais são as ambições para a Quinta do Carvalhido?

As ambições para o futuro próximo são, por um lado, a total sustentabilidade da quinta e da empresa que a gere, bem assim como atingir o reconhecimento e notoriedade que a marca e os seus vinhos merecem.

Como caracteriza o tipo de vinho que produzem? O que vos distingue?

São vinhos de clara transição, onde tem muito do classicismo do Douro, principalmente no nariz com algum aporte de Trás-os-Montes, principalmente no palato pela sua frescura. A viticultura de montanha é bastante explícita e sente-se principalmente à prova, enquanto no nariz a fruta madura, característica do classicismo do Douro, sente-se à parte olfativa. Queremos que os nossos vinhos representem a região e o terroir, mas que pela sua elegância e frescura se distingam e aos mesmo tempo os elevem aos olhos dos consumidores.

“Em breve iremos lançar mais uma novidade, uma gama de vinhos com 100% de estágio em cimento, e assim iramos fechar o nosso portfólio”.

Qual a história que está por detrás da Quinta do Carvalhido?

A história que está por trás da Quinta do Carvalhido é essencialmente uma história familiar. A quinta está nas mãos da família há quase dois séculos, mas é, em 2013, que, em conjunto com a minha família (a minha mulher e os meus cinco filhos), começamos a dar os primeiros passos deste projeto. As primeiras decisões foram relacionadas com as vinhas, o que fazer, como fazer e com quem fazer. É crucial ter as pessoas certas para nos aconselhar numa área em que não somos especialistas. É assim que juntamos ao projeto o Engenheiro José Miguel Telles e que com ele começa a reestruturação de tudo o que relaciona com a parte vinícola e vitícola.

O grande objetivo dos primeiros anos era recuperar as vinhas e videiras, implementar as melhores técnicas e criar rotinas na vinha que a médio prazo nos pudessem dar a maior qualidade de uvas possível e também em maior quantidade. Em 2017, é tomada a decisão de criar a marca de vinho Quinta do Carvalhido e produzimos o primeiro tinto. Nesta fase, através de alguns conselhos, chegamos ao enólogo Francisco Baptista que está connosco desde então. Nesta primeiro colheita, e após longas discussões sobre o perfil que procurávamos decidimos engarrafa cerca de 1.300 garrafas com o propósito de beber com a família e amigos (e claro dar a provar a especialista para receber feedback sobre o que estávamos a fazer). Nos anos de 2018 e 2019 aplicamos a mesma estratégia. É em 2020 que juntamos ao portfólio o primeiro Branco, também com a marca e numa quantidade pequena, que rondou as 1.000 garrafas.

Com o feedback que fomos recebendo, e tendo consciência que tínhamos um excelente produto e que a uva da quinta nos garantia qualidade para crescer em quantidade, decidimos em 2022 criar uma gama com o nome Carvalhido (inclui um tinto, um branco e um rosé) e fazer a apresentação ao mercado.

Em breve iremos lançar mais uma novidade, uma gama de vinhos com 100% de estágio em cimento, e assim iramos fechar o nosso portfólio. Acreditamos que temos três gamas destintas que irão satisfazer os consumidores nos diferentes momentos de consumo, quer seja para beber um branco fresco com as entradas, um rosé ao fim da tarde com amigos ou um tinto para acompanhar um almoço de feijoada. Mas tudo isto tem de acontecer de forma sustentada e o crescimento deverá sempre ser pensado de acordo com o que o mercado e o negócio vão permitindo. Para finalizar, o grande objetivo de todos nós é tudo fazer para que possamos passar a quinta às gerações vindouras em situação de total independência financeira e de reconhecimento pelo mercado.

Que área de vinha têm e qual a produção anual?

A área atual de vinha da quinta é de 16ha e a produção de vinho situa-se nos 15000L

Têm previstos novos lançamentos para breve? O que podemos esperar?

A gama atual é composta por duas ofertas, os vinhos de quinta branco e tinto Quinta do Carvalhido, e ainda os vinhos colheita branco, tinto e rosé Carvalhido. Estamos já em condições de anunciar o lançamento de uma nova gama denominada Quinta do Carvalhido Concrete com fermentação e respetivo estágio em cubas de cimento, também nas três versões de branco, tinto e rosé. É a grande novidade da quinta do Carvalhido para 2024.

“(…) a minha ambição é criar um projeto sustentável e de qualidade reconhecida e que espero que perdure por várias gerações”.

Quando é que descobriu a sua paixão pela produção de vinho?

Foi uma paixão à primeira vista, ou seja, mal a quinta nos chegou às mãos. Desde esse momento que a minha ambição é criar um projeto sustentável e de qualidade reconhecida e que espero que perdure por várias gerações. Estamos ainda no início, mas o facto de já ter tido a oportunidade de sentar a mesa toda a família e beber um vinho produzido por nós, de já ter pisado uvas com os meus filhos e espero que em breve com os meus netos faz com que esta paixão cresça todos os dias.

De que forma a sua experiência como gestor e mais tarde como empreendedor o influenciam hoje em dia?

A minha experiência como gestor e empresário determinam que, apesar da enorme paixão, a razão se sobreponha e determine os superiores interesses da quinta e da empresa. Mas é bom lembrar que sem paixão e uma dose de risco adequada não se atinge o sucesso que todos sempre pretendemos.

É fácil ser-se empreendedor no setor vitivinícola em Portugal?

Tenho de ser totalmente transparente, não há negócios ou mercados fáceis. Depende sempre de quem atua em cada um dos cenários torná-los mais ou menos apetecíveis, e isso só se atinge com estudo apurado e a respetiva motivação para que se atinja o sucesso.

Como encara atualmente o setor do vinho em Portugal?

Este setor é como todos sabemos muito maduro e altamente competitivo, com uma enorme diversidade de players de muito gabarito o que nos traz uma responsabilidade ainda maior.

Quais os problemas e desafios que o setor enfrenta?

Eu estou ainda numa fase de aprendizagem e de estudo do mercado do vinho, e tenho para mim que um dos grandes desafios, entre outros, é, por um lado, a falta de gente para o tratamento das nossas vinhas e, por outro, o sempre presente desafio da rentabilidade.

Qual o contributo que pretende deixar para a cultura portuguesa do vinho?

Como contributo pretendo deixar a motivação aos mais novos de que vale a pena apostar neste setor e continuar a contribuir, à minha dimensão, para uma cada vez maior presença dos nossos vinhos no mercado internacional.

Se pudesse dar um conselho aos produtores portugueses, qual seria?

Sejam competitivos, mas não suicidas.

 O que podemos esperar da Quinta do Carvalhido no futuro?

Qualidade e estar sempre na linha da frente da inovação.

A internacionalização está na mira?

É o próximo passo, mas sempre com os pés bem assentes na terra. A levar a cabo dentro de dois anos.

“Temos a ambição de estar entre os melhores e para isso temos de acompanhar de forma muito atenta o que se vai desenvolvendo”.

Que outros projetos podemos esperar do Pedro? Ligados ao setor vinícola?

Como empreendedor que sou, é difícil estar parado. Sou bastante atento a tendências da sociedade e tendo cinco filhos também vou acompanhando os avanços tecnológicos e sempre com uma preocupação acrescida em ter um impacto positivo na sociedade em que estamos inseridos e na sustentabilidade dos projetos que vamos criando.

Sendo mais específico, no setor vinícola queremos estar na vanguarda na inovação. Temos a ambição de estar entre os melhores e para isso temos de acompanhar de forma muito atenta o que se vai desenvolvendo. Por outro lado, a questão da sociedade, de apoiar as pessoas da nossa terra e de criar emprego é fundamental no projeto que estamos a criar. E tudo isto terá sempre se ser sustentado e será esta a grande mensagem que espero deixar para os meus filhos e netos.

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