Opinião

Dois países, um destino: a força do turismo na cooperação ibérica

Rui Ventura, presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal

Há fronteiras que dividem e outras que aproximam. Portugal e Espanha, que durante séculos se olharam à distância, escolheram nas últimas décadas uma nova forma de estar: a cooperação.

A parceria entre o Centro de Portugal, o Alentejo e a Extremadura espanhola é disso exemplo: três regiões que partilham muitas afinidades e que, desde 2009, constroem juntas um projeto muito maior que a mera soma das suas partes.

A eurregião Euroace, que congrega os três territórios, nasceu como uma ideia política e uma construção institucional ambiciosa. Hoje é uma realidade tangível que se mede em resultados concretos – 92.500 quilómetros quadrados, quatro milhões de habitantes e uma história comum que se adapta aos desafios atuais. O que começou como cooperação formal tem vindo a transformar-se numa plataforma robusta de desenvolvimento partilhado, capaz de gerar valor económico e criar oportunidades reais para empresas e comunidades.

O turismo tornou-se, desde 2017, uma das apostas centrais da cooperação dentro da Euroace. Não é por acaso: as três regiões reúnem 19 sítios classificados pela UNESCO, paisagens de rara beleza que vão das planícies alentejanas às montanhas da Serra da Estrela, passando pelos tesouros monumentais da Extremadura, uma gastronomia distintiva mas que utiliza produtos e formas de confeção idênticos, e tradições também elas similares. Tudo junto, constitui um património imaterial singular. Já tínhamos os ingredientes de excelência. Faltava-nos a receita conjunta.

É essa receita que temos vindo a aperfeiçoar, evento após evento, parceria após parceria. Dos Estados Unidos à China, em Londres, Bruxelas, Berlim, Madrid e Lisboa, têm sido muitos os palcos internacionais em que estas três regiões se têm apresentado em conjunto, com ações promocionais que levam os respetivos territórios mais longe.

É essa receita que temos vindo a aperfeiçoar, evento após evento, parceria após parceria. De Nova Iorque a Bruxelas, de Xangai a Madrid e a Lisboa, têm sido muitos os palcos internacionais em que estas três regiões se têm apresentado em conjunto, com ações promocionais que levam os respetivos territórios mais longe.

Em cada ação, promovemos uma narrativa coesa sobre quem somos e o que oferecemos ao mundo. O mesmo voltou a acontecer no dia 19 de junho, em Madrid, na prestigiada Real Academia de Belas Artes de San Fernando, ocasião em que voltámos a demonstrar que a união faz a diferença, numa ação promocional para a imprensa que combinou apresentações institucionais, divulgação de produtos turísticos inovadores e degustações da nossa riqueza gastronómica.

Foi também nesta ocasião que propusemos, aos nossos parceiros do Alentejo e da Extremadura, a criação de um passaporte enoturístico ibérico – uma ferramenta simbólica e prática que incentive os visitantes a percorrer os territórios das três regiões através do vinho, valorizando a autenticidade das produções locais, a identidade cultural e a oferta de experiências exclusivas. Com um formato simples e apelativo, este passaporte pode tornar-se uma poderosa alavanca de fidelização e mobilidade turística, promovendo, ao mesmo tempo, a cooperação entre produtores, agentes económicos e entidades públicas.

A colaboração entre as três regiões vizinhas responde a uma necessidade muito real do mercado. Num contexto turístico global cada vez mais exigente, que privilegia a autenticidade sobre o massificado e procura experiências marcantes e transformadoras, faz todo o sentido aproximar territórios que partilham valores, memórias e horizontes comuns. Sozinhos, corremos o risco de ser apenas regiões periféricas. Unidos, somos um destino emergente com real força competitiva.

A promoção conjunta traz-nos benefícios imediatos: maior competitividade nos mercados internacionais, visibilidade acrescida, maior capacidade de atração de investimento. Mas o impacto vai muito além das estatísticas do turismo. Falamos de desenvolvimento económico sustentável para territórios que enfrentam os desafios estruturais da interioridade e da baixa densidade populacional. Falamos de coesão territorial, de identidade renovada, de orgulho partilhado pelas comunidades locais.

O futuro da parceria Centro de Portugal – Alentejo – Extremadura passa por aprofundar e diversificar esta estratégia vencedora. Criar mais produtos turísticos transfronteiriços, desenvolver roteiros integrados que façam sentido para o visitante, qualificar continuamente a oferta dos dois lados da fronteira. Investir decisivamente na inovação digital, na mobilidade sustentável, na valorização das pessoas – empresários, artesãos, produtores – que fazem estes territórios diferentes de todos os outros.

Quando dois países se unem para promover um destino comum, o resultado transcende largamente o turismo. É desenvolvimento económico que se partilha e é território que ganha voz própria nos mercados globais. Esta é uma aposta estratégica que merece continuidade, ambição redobrada e capacidade de ir ainda mais longe. O Centro de Portugal está, e estará sempre, na linha da frente deste projeto.

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Rui Ventura

Rui Ventura

Rui Manuel Saraiva Ventura nasceu a 26 de agosto de 1971, em Pinhel, onde reside. O seu percurso tem sido maioritariamente marcado pela sua envolvência na política e no associativismo cultural e desportivo. É presidente da Comissão Executiva da Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal desde 15 de abril de 2025. Presidiu à Câmara Municipal de Pinhel entre 2013 e 2025, para a qual foi eleito após ter sido adjunto, vereador e vice-presidente do anterior presidente da Câmara.... Ler Mais..

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