Opinião
Do or do not, there is no try
É impressionante a quantidade de lições de gestão e empreendedorismo que, nos dias que correm, conseguimos retirar de filmes, séries, livros ou outro tipo de formas de entretenimento, aparentemente inócuas ou meramente destinadas, pelo menos aparentemente, a servirem de escape ou passatempo, face às exigências diárias, quer profissionais, quer emocionais.
O título deste artigo é um excelente exemplo disso mesmo. A frase celebrizada por Yoda, no segundo filme da saga da Guerra das Estrelas (quinto na ordem cronológica kafkiana que George Lucas decidiu introduzir), foi não só um mote à ação, mas também uma lição de perseverança e tenacidade digna de um qualquer manual de Peter Drucker. Talvez tenha sido um pouco desconsiderada, porquanto proferida por um anãozinho verde e de orelhas pontiagudas, que mais parece o gato velho da nossa vizinha do terceiro andar, mas a verdade, a acuidade e, acima de tudo, a intemporalidade daquele mandamento não podem nem devem ser ignoradas.
Ninguém tem, infelizmente, a chave para o sucesso de um negócio, de uma empresa, de um determinado investimento.
Podemos ter uma boa ideia, um bom plano de negócios, uma base de clientes garantida, uma estratégia de marketing, enfim tudo aquilo que, no dia-a-dia, nos permite, com algum grau de certeza e razoabilidade, determinar ou prever o possível sucesso do que pretendemos levar adiante. Mas, ainda assim, isso nunca é garantido.
Mesmo nos casos em que se possa dizer de alguém “que tem o toque de Midas”, subsumir o sucesso dessas pessoas simplesmente ao facto de serem elas a avançar com uma ideia, é totalmente redutor. Há um limite do que podemos controlar e, naturalmente, parte do sucesso resulta da preparação que conseguimos fazer, do estudo, do esforço e trabalho intenso.
A tal teoria das percentagens de inspiração e transpiração, que está na base de todo o sucesso, tem mérito, muito mesmo. Mas depois vem o resto, i.e., a realidade, aquilo que, efetivamente, pode acontecer no mundo louco dos negócios.
Quantas boas ideias estavam destinadas ao sucesso antes da crise de 2008?
Quantos jovens empreendedores “morreram na praia” com start-ups com enorme potencial, porque a carga fiscal, os atrasos nos pagamentos, as greves e convulsões diversas conduziram à insustentabilidade das suas empresas? Demasiados, infelizmente.
Mas o Yoda tinha razão no pressuposto base. Ser empreendedor exige esforço e dedicação. Exige entender que só controlamos parte do processo, maior ou menor, e que o resto é também uma conjugação de situações que podem catapultar uma excelente ideia para a fila de desemprego, ou uma ideia aparentemente fraca até Silicon Valley.
A diferença, muitas vezes, está também no quão queremos as coisas, no realmente decidirmos fazer algo, e não meramente ficar pela tentativa e depois logo se vê. Os mercados reagem, normalmente, com alguma parcimónia aos “wannabes”, por oposição ao entusiasmo que mostram face aos “doers”, àqueles que não têm medo de falhar, que lutam pelos seus projetos e sonhos, convictos da qualidade do seu produto e que, por isso, mais facilmente convencem os outros.
Aliás, costuma-se também dizer na sabedoria popular – e aqui nem temos de propriamente vasculhar manuais de gestão ou vendas – que não é possível vender algo, se nós próprios não acreditamos no que estamos a vender, certo?
Nunca nos podemos esquecer de que a base é sempre a mesma: uma ideia. Melhor ou pior, mais estruturada ou mais conceptual, a verdade é que, sem uma ideia, não passaremos nunca aquela barreira que nos transforma de idealistas em “idiotas”, que nos lança no caminho dos fazedores, dos que preferem sair da sombra e lutar pelo seu próprio sonho.
Vai correr bem? O tempo dirá, nada é garantido. Mas, se não fizermos – outra vez o Yoda –, não vale sequer a pena almejar mais acima (um pouco como aquelas pessoas que querem ganhar o Euromilhões, mas nunca jogam…). E, se não correr bem – fazendo agora uso das palavras de outro senhor da nossa História, Nelson Mandela, este bem mais real do que Yoda –, também nunca se perde. Ou ganhamos, ou aprendemos.