Entrevista/ “Descalços e Felizes”

“Descalços e Felizes” é o título de um livro de Angela J. Hanscom em que se explica que as brincadeiras ao ar livre ajudam a criar crianças fortes, confiantes e capazes.
Nas empresas também fazem falta “brincadeiras ao ar livre” e líderes “descalços e felizes”.Quando me refiro às “brincadeiras ao ar livre” nas empresas não estou a pensar apenas nas dinâmicas de grupo (team building), mas em ocasiões em que se proporciona aos colaboradores “momentos sem filtros” onde se foge da rotina diária e se encontram escapes para poder explorar algo diferente. Refiro-me a todas as formas de promover o espírito de equipa, a entreajuda, a criatividade ou apenas momentos para se desfrutar da companhia dos colegas de trabalho.
É preciso encontrar tempo nas empresas para mais “brincadeiras ao ar livre”; isto é, mais oportunidades para as pessoas deixarem as rotinas e despirem os “bonecos” que usamos tantas vezes ao longo de dias, semanas, meses e até anos. A forma como lidamos com as pessoas que trabalham connosco, com os nossos chefes e colegas, clientes e fornecedores dão-nos poucas oportunidades para estarmos “descalços e felizes”. A necessidade de cumprir procedimentos, processos e políticas transforma-nos em autómatos roubando-nos a capacidade de pensar, criar e inovar.
Como nas brincadeiras ao ar livre das crianças, também nas empresas haverá nesses momentos cabeças partidas, nódoas negras, algum choro e birras, mas estou certo que haverá também momentos de enorme alegria, compromisso e entreajuda. Tal como nas brincadeiras ao ar livre das crianças, esses momentos de liberdade e de experimentação, sem agenda, permitirão desenvolver competências sociais e comportamentais que nos ajudarão a perceber melhor os nossos colegas, clientes e parceiros. Por exemplo, se conseguirmos olhar “descalços de preconceitos” para o nosso negócio ou para uma política de preços, encontraremos certamente caminhos e soluções que, de outra forma, dificilmente descobriríamos.
Acredito que os líderes que tiverem a coragem de proporcionar momentos para as pessoas questionarem e agirem sem filtros, estarão a dotar-se das ferramentas para serem mais criativos, disruptivos e visionários ao mesmo tempo que estarão a construir equipas mais fortes, confiantes e capazes.
Os líderes que ousarem liderar as suas empresas “descalços e felizes”, estarão certamente melhor preparados para prosperar num Mundo em que os valores da ousadia e liberdade, assim como a necessidade de arriscar, estão cada vez mais presentes. Acredito que uma liderança que promova essa capacidade de “brincar fora das nossas áreas de conforto” estará a proporcionar ferramentas que permitirão às pessoas cresceram profissionalmente de forma mais livre, proporcionando momentos de felicidade e, com isso, maior compromisso com a organização.
É preciso reconquistar a alegria da descoberta e de nos libertarmos do espartilho em que, inconscientemente, nos deixámos prender quando nos tornámos reféns de políticas, procedimentos e rotinas que não questionamos.
Está na altura de voltarmos a descobrir o gosto pela descoberta e de voltarmos a sonhar. Mas também de voltarmos a vibrar com o medo do desconhecido que nos leva a ganhar resistências e a superar os desafios que se nos colocam pela frente.
Quem não se lembra das partidas que fazíamos aos professores na escola ou das primeiras aventuras no bairro em que vivemos em criança? Foi isso que nos fez tornarmo-nos crianças mais fortes, confiantes e capazes.
Está na altura de recuperar essa alegria de “viver e pensar ao ar livre” para sermos pessoas e líderes mais fortes, confiantes e capazes.