Entrevista/ “Portugal tem-se posicionado como um hub tecnológico”

Aongus Hegarty, presidente da Dell EMC

Reforço dos investimentos, proximidade ao cliente, inovação tecnológica e soluções à medida, são apostas estratégicas que Aongus Hegarty, presidente da Dell EMC, quer manter nos negócios portugueses da empresa.

O presidente da Dell EMC- Europa, Médio Oriente e África, esteve em Portugal recentemente numa visita à empresa portuguesa, a parceiros locais e para participar no Dell EMC Fórum em Lisboa. O Link to Leaders entrevistou Aongus Hegarty sobre a sua visão para o grupo e as expetativas para Portugal.

Qual a sua visão do mercado português de empreendedorismo e tecnologia?
Eu sou da Irlanda, um país de tamanho semelhante e uma economia muito aberta, e acho que nos últimos anos, assim como a economia europeia e a global começaram a crescer novamente, também muitas das economias e mercados como Portugal e Irlanda, e outros mercados, viram um forte crescimento e recuperação.
Portugal tem uma economia baseada em serviços e a sua capacidade para crescer através da exportação de serviços e produtos é muito forte. O continente europeu tem crescimentos económicos muito fortes, par da forte economia global no momento.

O segundo aspeto é que Portugal têm-se posicionado, com muito sucesso, como um hub tecnológico. É algo muito interessante do ponto de vista do investimento e do desenvolvimento tecnológico. Temos acelerado e aumentado os nossos investimentos aqui na equipa da Dell Technologies, na EMC e na VM, mas também nos nossos parceiros. Estamos a fazer investimentos significativos com os nossos parceiros, como a Tecdata, por exemplo, mas também outros. Pensamos que Portugal tem uma excelente oportunidade para se posicionar como um hub de tecnologia na Europa e, em certos aspetos, até mesmo globalmente.

Em que aspetos?
Têm o Web Summit a acontecer aqui, por exemplo. E muita inovação e desenvolvimento está a acontecer em data technology e em IoT. E a área de transformação digital está a acontecer com clientes e parceiros que estão a ver como podem transformar as suas forças de trabalho de uma perspetiva digital, como podem modernizar as suas infraestruturas para constuirem uma transformação digital do seu negócio. A tecnologia está no centro dos serviços e produtos e dos novos modelos de negócio que se estão a desenvolver em muitas indústrias. Há muitos exemplos na banca, no setor financeiro, do ponto de vista do turismo. Há exemplos em Portugal e noutros locais. Vemos esse investimento acelerado na tecnologia e estamos a trabalhar com os nossos parceiros e clientes, investindo à frente dessa curva.

Há dois anos completamos a fusão entre a Dell e a EMC e formamos a Dell Technologies e a premissa disso tem tudo a ver com juntar a tecnologia, encontrar as  melhores soluções para os nossos  clientes, para os seus negócios, e isso, conjuntamente com o crescimento económico, com a expansão e a transformação dos negócios em redor da tecnologia, avaliamos uma performance bem-sucedida do nosso negócio nos últimos anos, e um forte desempenho das perspetivas de marketing. Quero continuar a investir no negócio e nos nossos parceiros.

Então Portugal tem um bom ambiente para os negócios?
Sim. É muito pro-business. Vejo isso nos meus contactos com clientes, há muita confiança. A confiança nos negócios é forte e a dos consumidores também. Achamos que esta é a altura certa para os negócios aqui em Portugal, para investir em tecnologia, para transformar as sua infraestruturas, tornando a força de trabalho mais produtiva. Claro que mantendo todo esse ambiente seguro.

Que expetativas tem acerca do negócio Dell em Portugal?
O nosso negócio em Portugal tem vindo a crescer de forma sólida há vários anos. Vejo as condições de crescimento económico e a transformação dos negócios de um ponto de vista tecnológico. Também trouxemos para Portugal o nosso Dell Financial Services e a sua capacidade para fornecer modelos mais flexíveis para implantar tecnologia.

A companhias que querem investir mas últimas tecnologias para transformar e modernizar os seus negócios, em vez de recorrem a avultados investimentos de capital, podem fazê-lo através da Dell Financial, ter as últimas tecnologias e a pagá-las ao longo do tempo. É um modelo que tem sido muito atrativo para os nossos clientes, em todos os setores.

O que é novo é que assim que criámos a Dell Technologies, criámos soluções financeiras que cobrem todo o espetro de necessidades, desde hardware a software, serviços… criámos muito modelos, há muita flexibilidade para trabalhar com os clientes. Estamos muito otimistas quanto aos nossos investimentos em Portugal.

De que forma a própria Dell também está a mudar o ambiente tecnológico em Portugal?
Vejamos um exemplo, a força de trabalho nas organizações. A forma como as pessoas estão a olhar para o trabalho está a mudar completamente. A ideia tradicional de que o trabalho é um lugar onde se vai, uma secretária onde se está de segunda a sexta, está a mudar. Diria que em todos os aspetos dos empregados, particularmente os empregados mais jovens, querem ambientes de trabalho mais flexíveis, mais e mais pessoas trabalham com mobile, há mais trabalho remoto, a partir de casa, trabalho flexível…
À medida que o desemprego está mais baixo em Portugal e as capacidades exigidas são de natureza tecnológica e os negócios são cada vez mais procuradas, acho que as companhias procuram ser cada vez mais flexíveis e criar ambientes mais produtivos.

Na Dell criámos soluções tecnológicas, equipamentos, quer notebooks ou work stations, com segurança, com soluções para permitir às empresas e aos colaboradores que trabalhem remotamente em segurança e serem produtivos e transformar a forma como a sua força de trabalho funciona. De certa forma, é a forma como as empresas estão a atrair equipas mas também a retê-las.

Historicamente, as empresas usavam diferentes fornecedores para diferentes áreas, computadores, para redes, armazenamento, software… Nós criámos soluções à volta dos data centers que convergem todas essas infraestruturas. Um bom exemplo disso é o que chamamos de VxRail Solution que junta todos esses elementos – Dell, EMC, VM – numa maior convergência através das quais as empresas podem modernizar os seus data centers, modernizar as suas aplicações de uma perspetiva digital para crescer e desenvolver os seus negócios. Essa é o tipo de inovação em que trabalhamos.

Depois há a questão da segurança. Os CEO pensam em como ter os seus data centers seguros, com os seus empregados a trabalharem de casa, remotamente. Como mantenho a sua segurança e consigo que tenham acesso a informação relevante para serem produtivos e eficientes? Desenvolvemos essas soluções na perspetiva de segurança dos dados, dos equipamentos, protegendo os nossos clientes com soluções nessas

Essa é a forma que têm de mudar o ambiente, criando inovação?
Exacto. A companhia tem inovado em tecnologia, inovado do ponto de vista dos produtos e serviços digitais, inovado nos modelos de negócio. E, globalmente, continuamos a investir três biliões de dólares por ano em R&D e inovação, trazendo todo esse fluxo de serviços, produtos e soluções para o mercado português.

Criam inovação e novas soluções especificamente para um determinado mercado?
Trabalhamos com os nossos clientes para identificar que tipo de soluções são precisas para o seu negócio e customizamos soluções que possam ajudar a transformar o seu negócio, o seu novo produto ou serviço, que lhes permita acelerar o crescimento do seu negócio e servirem os seus clientes da maneira que estes querem ser servidos.

Qual a posição da Dell face à inteligência artificial e machine learning, os temas do momento?
É definitivamente a “buzz word” do momento. Acho que tecnologia está a presente em todos os equipamentos, e todos esses equipamentos estão a gerar dados, a informação que tem de ser armazenada e analisada para se perceber que parte dos dados pode ser usada no negócio. À medida que a tecnologia se desenvolve, vamos ter a oportunidade para se ser torne um processo mais interativo, a inteligência artificial, machine learning e robotics, tudo isso vai permitir que máquinas e as pessoas trabalhem juntas para fornecer um ambiente seguro mais eficaz e que desenvolva toda uma nova série de novos produtos e serviços que não existem hoje. Humanos e máquinas a trabalharem juntos é algo que já existe há muito tempo.

Como se preparam para essa realidade?
Servimos os nossos clientes globalmente nestas matérias. Acho que para muitas companhias robotics e deep learning é algo que está um pouco à frente. Muitas empresas estão mais no nível de pensar com transformo e modernizo a minha tecnologia. Como uso a tecnologia numa perspetiva de negócio para os meus empregados, mais produtiva, mais eficiente mas segura? Como uso a tecnologia para criar uma infraestrutura em que possa desenvolver aplicações digitais. Se não modernizar os data centers e as infraestruturas de um ponto de vista tecnológico, não pode desenvolver aplicações e novos produtos e serviços.

Vemos que os clientes em Portugal, e na região, estão focados em construir essas capacidades de infraestruturas, trabalhando com a Dell a modernizar as suas soluções, usando ambientes como Cloud e desenvolvendo novas aplicações

Acho que as companhias estão mais nessa modernização e à mediada que vão mais fundo estão a analisar esses dados, para levar esses insights para a organização. É nisso que a maioria das empresas está a trabalhar para melhor as suas empresas.

Qual o papel da Dell no ecossistema das start-ups?
Em primeiro lugar, nós próprios tivemos um início como empreendedores. O Michael Dell era um empreendedor quando fundou a empresa ainda enquanto estudava, no Texas. Acho que o DNA de empreendedor é importante para todas as companhias. Tem a ver como tomar riscos, ser disruptivo. Enquanto companhia queremos esse tipo de abordagem: os riscos num ambiente seguro, mas é preciso arriscar, inovar e ter esse espírito empreendedor. Isso é importante para nós. O que temos feito com os empreendedores aqui em Portugal e noutras regiões onde trabalhamos é apoiar esse ecossistema.

Em alguma área e particular?
No Web Summit, e estamos envolvidos com o WS há muito tempo, fizemos por exemplo sessões sobre propostas de pitch, como apoiar empreendedores, trabalhamos com empresas particularmente na área tecnológica e na forma como usam a tecnologia em novas e inovadoras áreas do empreendedorismo. Tivemos um foco especial nas mulheres empreendedoras?

Porquê?
Porque apenas 20% dos empreendedores são mulheres e 50% da população é feminina. Começamos o que designamos Dell Women’s Entrepreneur Network há oito anos e fizemos essa conferência na minha região três vezes nos últimos quatro anos, em Berlin, Istambul e levamo-la para África porque 30% dos empreendedores no continente africano são mulheres. E tentamos entender o porquê. É importante. Para a tecnologia portuguesa, o emprego, a expansão da economia é sustentado pelos empreendedores em especial pelos pequenos negócios que estão a crescer e a expandir-se. A grande maioria do emprego é nessa área e se tiver o ambiente que está a criar positividade para os empreendedores arriscarem e apoiá-los, isso cria mais crescimento económico.

Tem a responsabilidade de gerir uma área grande, Europa Médio Oriente, África… que diferenças encontra nesses mercados?
Já estive em Portugal e em Lisboa várias vezes em negócios e vi, particularmente nos últimos três ou quatro anos, o foco em tecnologia e a oportunidade para Portugal se posicionar como um hub de tecnologia. Têm grandes eventos que se realizam aqui como o Web Summit… Vemos Portugal como um país que está a ver como pode ser líder na tecnologia e inovação. É uma grande oportunidade para Portugal se posicionar dessa forma. Diria que os portugueses estão a implementar a tecnologia, em alguns casos diria até que mais rápido que noutros ligares da Europa. Vemos muita inovação à volta da tecnologia, no sector público, com os nossos parceiros, na inovação das soluções dos clientes. Diria que em algumas áreas, Portugal está à frente o que vemos noutros lugares por causa do foco na transformação e das oportunidades de digitalização. Isso é típico de pequenas economias, abertas e muito inovadoras e focadas em novas ideias e no empreendedorismo. Não estou surpreendido por ver isso em Portugal.

Em termos de negócios que expetativas tem para Dell em Portugal, em crescimento, inovação?
Vejo grandes perspetivas de crescimento. Globalmente, o nosso negócio está a crescer e os últimos resultados mostram isso. Vemos isso aqui, provavelmente um pouco mais rapidamente. Enquanto equipa continuamos focados na implementação de novas tecnologias, na inovação, na transformação de algumas das áreas de que falámos, à volta da força de trabalho, da modernização, de infraestruturas. Em todas essas áreas, queremos ter oportunidades para as trazer para Portugal.

Temos uma equipa focada no cliente e nas soluções tecnológicas e vamos fazer cada vez mais isso e desenvolver os nossos planos para expandir os investimentos, faz parte dos nossos planos de crescimento para os próximos dois a três anos. Temos uma visão de longo prazo, mas estamos muito contentes com a performance e os resultados que fizemos até agora. E acreditamos que Portugal é um excelente local para continuar a acelerar esses investimentos.

Têm uma série de programas sociais como o Legacy for Good, que impacto têm na empresa?
O que fazemos no campo social e da sustentabilidade é muito importante. É importante que tenhamos uma equipa que sinta que faz parte da família da Dell Technologies. Queremos dar-lhes a oportunidade de serem capazes de trabalhar com a comunidade, com grupos, com caridade, com organizações a que possam dar um pouco do seu tempo. Falámos com três dos grupos que estão estabelecidos em Lisboa, um no Nariz Vermelho, na área hospital, outro na Liga Portuguesa contra o Cancro e outro no Exército de Salvação Os nossos trabalhadores estão com eles. Ajuda a pôr as coisas em perspetiva, a pôr os pés no chão e ver que há outras pessoas que não estão tão bem como nós e como podemos dar o retorno e ajudar. Isso é replicado em todos os países em que estamos. É uma parte do trabalho. Queremos abraçar a diversidade e criar ambientes multiculturais. Outro aspeto é que os nossos clientes perguntam-nos qual é o nosso programa de sustentabilidade.

Esse é o outro lado do mundo dos negócios, um lado bom…
É um lado muito importante porque cada vez mais os clientes decidem os seus parceiros e produtos que compram com base nos seus valores. Isso também é muito importante da perspetiva de negócio.

Onde gostaria de ver a Dell nos próximos anos?
Gosto de onde estamos agora, que é uma posição muito boa para servir os nossos clientes. Temos muito capacidade tecnológica, sucesso e uma boa equipa. Quando penso como serão os próximos seis ou 12 meses ou cinco anos, que é importante é que continuemos focados nos clientes. Quando estamos focados nos clientes e conhecemos o seu negócio, pensamos sempre em acrescentar-lhes mais valor. Temos de continuar a ser cada vez mais relevantes, todos os dias, para os nossos clientes.

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