Opinião

De volta ao “novo normal”: tempo para repensar e redesenhar os processos de negócio

Paulo Azevedo, Business Process Optimization Lead da Bizdirect

Passaram-se três meses desde a declaração do Estado de Emergência em Portugal, período durante o qual o nosso país e o mundo viveram a maior paragem da economia de que há história.

Embora estejamos ainda em estado de calamidade, o achatamento da curva epidemiológica tem permitido a diminuição progressiva das restrições sociais e consequente retoma da atividade, crucial para a sobrevivência da economia e para o bem-estar das populações.

Em todos os media, os impactos a longo prazo desta pandemia são objeto de discussão frequente, traçando-se os mais variados cenários futuros de recuperação económica. Genericamente, sou muito cético no que toca a confiar em projeções e acredito que quanto mais nos regermos por factos, e menos pelo que pode vir a ser, melhor sucedidos seremos.

Acredito que, em matéria de empresas, há 2 factos muito simples a ter em consideração:

  • um acionista investe numa organização com um propósito: obter retorno, sustentadamente;
  • as organizações, no geral e devido ao COVID, perderam muito dinheiro, se não ameaçando a sua sobrevivência, pelo menos prejudicando profundamente a rentabilidade desses capitais investidos.

A conjugação dos dois, alerta para algo óbvio: insatisfação dos acionistas. Esta é uma realidade que se mostrará crescente, forçando as organizações a continuarem focadas em minimizar estes impactos mesmo após pandemia, restituindo a sua performance financeira o mais depressa possível.

Contudo, há um “pormenor” que passa despercebido no meio do stress atual das decisões de sobrevivência das organizações.

Quando uma dada organização voltar a um nível de atividade pré-Covid, mesmo que consiga atingir um nível de rentabilidade perto do normal, ainda lhe vai faltar recuperar toda a rentabilidade negativa em que incorreu, devido a todo o dinheiro que perdeu no entretanto.

Por isso, não chega voltar ao normal. Para conseguir recuperar a satisfação do acionista, é preciso conseguir-se eliminar este hiato. Mas como?

A meu ver, tal só se faz passando-se a trabalhar num nível de performance superior ao que se tinha pré-COVID. Performance superior significa simplisticamente, ou mais dinheiro a entrar para os mesmos custos, ou o mesmo dinheiro com menos custos.

Qualquer que seja a estratégia, só é possível alcançá-la se se aumentar a eficiência dos processos. E a melhor forma que conheço para aumentar a eficiência dos processos chama-se Lean.

Na sua essência, as metodologias Lean são um conjunto de formas de pensar estruturadas, que quando aplicadas a um processo permitem eliminar atividades que não acrescentam valor, resultando num processo mais ágil e eficiente.

Curiosamente, na sua génese, as metodologias lean foram concebidas precisamente como resposta a uma situação de crise grave. Em particular, foram a principal razão pela qual a Toyota conseguiu sobreviver ao pós 2ª Guerra, quando estava à beira da falência. Desde então, espalhou-se pelo mundo, tendo resultados comprovados nos mais variados setores de atividade como uma forma simples e sustentável de melhorar empresas.

A aplicação destas metodologias é algo que a Bizdirect pratica há vários anos com os seus clientes, tendo ajudado a produzir resultados de melhoria vitais para o alcance dos seus objetivos estratégicos.

Para além da melhoria e otimização per se dos processos, é também muito importante não esquecer que eles vão ter obrigatoriamente de mudar, em duas vertentes: internamente, as relações laborais estão a ser alteradas e o trabalho remoto veio decididamente para ficar como regra ou pelo menos como opção. Só isto coloca novos desafios às empresas porque os processos atuais não preveem esta situação, tornando-se necessário muito mais colaboração do trabalho e de monitorização dos resultados. Por outro lado, externamente, a forma como os clientes pretendem exercer a sua experiência está também a mudar, com muito maior interação remota e novas necessidades de comunicação, mais desmaterializada, menos física.

Acredito que os novos processos a colocar em prática nas organizações terão de ser mais otimizados mas também simplesmente adaptados à nova realidade que estamos a viver.

Uma questão de pouco tempo até este “pormenor” ser algo crítico com o qual todos os gestores vão ser confrontados pelos seus acionistas. Assim recomenda-se que as organizações comecem já a melhorar os seus processos, aproveitando a disponibilidade das equipas e de demais stakeholders para um novo normal, como forma de garantir o futuro num patamar superior de rentabilidade e sustentabilidade, antes que seja tarde de mais.

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