Cultura pode impulsionar funcionários insatisfeitos a serem empreendedores

A probabilidade dos funcionários insatisfeitos se tornarem empreendedores pode ser determinada pelo seu contexto cultural. A teoria é avançada por um estudo conjunto das universidades de Liverpool e de Xangai.

O nível de intenção empreendedora entre os funcionários insatisfeitos é muito afetado pelo seu contexto cultural, sugerem os resultados de um estudo liderado pela equipa de investigadores da Xi’an Jiaotong, Universidade de Liverpool (XJTLU), e da Universidade de Xangai, na China, publicado no International Small Business Journal Researching Entrepreneurship.

Jie Li, da International Business School Suzhou (XJTLU), explicou que, no passado, foram diversos os estudos que mostraram uma correlação positiva entre a insatisfação no trabalho e a vontade empreendedora. Contudo, centrar a questão apenas na insatisfação laboral não justifica tudo. E esclarece porquê: “No nosso estudo, descobrimos que o contexto cultural desempenha um grande papel. Em sociedades que apoiam e valorizam ações de empreendedorismo, bem como países onde as pessoas são propensas a assumir riscos e estão mais confortáveis com a mudança, há uma ligação muito mais forte entre a satisfação no trabalho e a vontade de iniciar um negócio”.

Em países onde acontece o oposto, ou seja, apoios insuficientes ao empreendedorismo e uma maior taxa de aversão a incertezas, a insatisfação do emprego raramente se traduz em novos empreendedores. Os investigadores citam o exemplo do Japão, onde há um elevado índice de evasão de incertezas e baixa legitimidade empresarial, e taxas muitos baixas de vontade empreendedora. Por outro lado, as pessoas na Colômbia têm relativamente baixa incerteza, têm maior consideração pelas ações de empreendedorismo e têm altas taxas de intenção empresarial.

Jie Li inspirou-se, em parte, pela auto-depreciação usual entre os dos trabalhadores de escritório na China que se autodenominam de “escravos assalariados”. “Embora expressem que estão insatisfeitos com os empregos, a maioria deles apenas reclama e continua nas empresas”.

Perante este cenário, o investigador da International Business  School Suzhou (XJTLU), tratou de averiguar que outros fatores poderiam influenciar esses funcionários insatisfeitos a iniciar o seu próprio negócio. Analisou os relatórios do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) e descobriu que as taxas de novos empreendedores variavam significativamente entre países, e por isso tentou analisar quais os fatores macro que poderiam explicar esse fenómeno.

A amostra do estudo foi extraída de duas bases de dados internacionais: o APS GEM 2013 e o projeto GLOBO. Este último envolve um grande grupo de investigadores de todo o mundo e investiga a relação entre a cultura e a liderança. As pesquisas do Global Entrepreneurship Monitor recolheram dados anuais de, pelo menos, dois mil adultos selecionados aleatoriamente de cada país envolvido, sobre as atitudes dos participantes em relação às suas atividades empreendedoras. Contudo, muitos dos participantes são funcionários e não declararam suas intenções de empreendedorismo quando participaram nesta pesquisa.

Jie Li refere que o empreendedorismo é uma parte integrante do crescimento económico e lembra que entender as barreiras sociais é crucial para iniciar novos negócios. “Para impulsionar a atividade de start-ups, os legisladores devem primeiro estimular a vontade dos empreendedores. Se as pessoas têm paixão e vontade de iniciar um negócio depende de dois fatores: da sua vontade pelo empreendedorismo e do ambiente social e cultural para o empreendedorismo e a inovação”, concluiu.

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