Opinião

As empresas, salvo raras exceções, vão passar por muitas dificuldades. Os seus colaboradores também. Esperar que haja ventiladores de negócio milagrosos só pode ser perigoso. E a alternativa não pode ser esperar pela visão cintilante do líder. Como na pandemia, a solução passa por todos trabalharem em conjunto.
A situação vindoura veste-se de vicissitudes imponderáveis. Podemos (e devemos) recalcular trajetórias com base em experiências passadas. Mas saberemos que com toda a certeza vamos falhar numa percentagem qualquer – não sabendo é quanto. Traçar vários cenários é, pois, o melhor caminho. Isto para não ficar esmagado debaixo de uma repetição exaustiva de previsões de orçamento e incumprimento que lhe consuma toda a energia. Cenários de grande volatilidade não pedem modelos senão que sejam ágeis e permitam essa mesma agilidade de movimentos à empresa.
Problema, quais cenários?
Olhamos todos para a cabeceira da mesa. Ao invés da cultura japonesa, onde o líder se senta perto de um dos cantos da mesa, promovendo e deixando com a sua discrição a sala avançar na sua dinâmica, na nossa tradição ocidental ao topo convergem os olhares e a escuta atenta. Dali advirão as soluções. Só que a mesa não pode mais ser retangular. À cabeceira temos apenas um dos elementos da equipa. E ainda que o líder tenha um papel fulcral, até ele neste contexto precisa do contributo de todos os elementos como nunca sucedeu até aqui. A mesa deve ser redonda. Com todos em volta. E a começar com a partilha de informação. De ideias. De feedback. O papel do líder está, pois, na dinamização dessa circulação de informação, dessa promoção de tal dinâmica. Se todos forem chamados a contribuir, faremos da solução que nos trouxe até aos dias de hoje na nossa evolução enquanto espécie também a possível solução para a nossa empresa.
A visão de um território será tanto mais precisa quanto mais informação recebermos dos vários olhos que o estão a ver. Esta visão, recordemos, não é apenas factual. Vemos o mundo à nossa volta interpretando-o. Por isso esta aparente e factual visão é sempre e também uma subjetiva interpretação do que vemos. Implica uma análise. Que será, sempre, pessoal, de cada um dos colaboradores que assim veem o mundo e o negócio à sua volta de um determinado prisma. Quanto mais pessoas e visões se juntarem, por isso – melhor. Vendas. Marketing. Apoio ao Cliente. Produção. Distribuição. Investigação. Recursos Humanos. Gestão. Etc.
A economia terá certamente intervenção do Estado. Mas não podemos deixar de lado a dinâmica do mercado. O vírus pode ter trocado as voltas à rotina e à curva linear, fazendo-a agora ondular em L, em U, em V, o que for. O que as equipas precisam é, portanto, de se unir em torno dos mesmos sacrifícios e benefícios. Horizontalizando-se.
Ao líder cabe liderar. E não queixar-se de que não tem os perfis adequados, de que lhe faltam recursos com visão aguçada para com ela poder adornar-se de mais dados e assim tomar decisões mais ajustadas. Ficar esmagado na solidão da decisão é, por isso, sinal de que algo precisa ser mudado, se anterior a essa solidão estiveram outras… ou seja, se durante o processo até aí chegado ninguém mais foi chamado. Se todas as vicissitudes têm demonstrado é que a sobrevivência e crescimento não se fazem com os mais geniais em modo solitário nem com maior número só por si, mas com os mais bem organizados.
Talvez neste momento, como deveria ser sempre, haja finalmente muitos que decidam investir ainda mais nos seus elementos humanos, sabendo que são as equipas na sua união, complementaridade e diversidade (ao invés de homogeneidade e visão afunilada) que melhor darão à empresa, e ao seu líder, a estrutura que permitirá quebrar as maiores barreiras e superar mais uma batalha.