A crise que vivemos colocou novamente no topo da agenda dos executivos das empresas a necessidade de apostarem fortemente na inovação.
Face às grande alterações a que assistimos, desde da mudança dos centros de poder na direção da Ásia, especialmente em termos económicos, a enorme evolução das tecnologias de comunicação, sendo de destacar a entrada em funcionamento ainda este ano, em fase experimental, do StartLink do Elan Musk, as preocupações crescentes com o ambiente, levando à migração de uma economia assente em combustíveis fósseis para um modelo baseado em energias renováveis, culminando nas alterações culturais profundas, decorrentes da necessidade de “distanciamento social”, é hoje essencial para a sobrevivência das empresas que estas repensem os seus modelos de negócio.
A inovação do modelo de negócio por parte das grandes empresas implica analisar todas as partes do modelo, começando pelos segmentos de clientes em que têm focado as suas atenções. Hoje é essencial reanalisar as necessidades dos clientes atuais, que fruto das mudanças de contexto, poderão também eles ter alterado as suas necessidades e ter novos problemas que gostariam de ver resolvidos. É também muito importante considerar a possibilidade de atender às necessidades de novos segmentos de clientes. Uma opção disponível aos executivos destas empresas é lançarem um Programa de Ideação destinado a descobrir novas ideias de negócio.
No fundo trata-se de apresentar a todos os colaboradores ou mesmo ao público em geral um conjunto de desafios, que podem passar por descobrir para determinados segmentos de clientes quais as suas necessidades que ainda não estão cabalmente satisfeitas e quais as melhores soluções para as satisfazer. Tendo tido a oportunidade de organizar e participar em diversos projetos de “Open Innovation” posso garantir que deles normalmente surgem uma grande quantidade de ideias, muitas verdadeiramente inovadoras e algumas capazes de se tornarem em importantes fontes de receita para as empresas.
Utilizando plataformas como a InnovationCast é possível descobrir muitas ideias de negócio, capazes de responder às necessidades do mercado de forma inovadora. A etapa seguinte consiste em as avaliar, tendo em atenção um conjunto de critérios, para depois selecionar as ideias com melhor pontuação (a título de exemplo disponibilizamos o formulário de Scoring de Ideias desenvolvido pela Fábrica de Startups). Uma vez feita esta primeira avaliação é fundamental que as ideias mais bem pontuadas sejam sujeitas a um processo de validação.
Esta etapa fundamental é muitas vezes ignorada, sendo a decisão de investir em novas ideias baseada na intuição dos executivos das empresas, resultando muitas vezes em investimentos elevados que fracassam pela simples razão que o mercado não está disponível para pagar pelo novo produto ou serviço. A melhor forma de aumentar significativamente a probabilidade de sucesso de novos produtos ou serviços é realizarmos um conjunto de experiências que nos permitam aferir a forma como os potencias clientes avaliam o problema e como desejam a solução.
Não chega fazer um Plano de Negócios, pois, como o Steve Blank diz, “nenhum plano de negócios sobrevive ao primeiro contacto com os clientes”. É essencial identificar as hipóteses mais críticas e realizar uma série de testes envolvendo diretamente os potenciais clientes. Este processo de Validação do Modelo de Negócios, frequentemente denominado Programa de Aceleração, resulta num conjunto de métricas concretas que permitem decidir com maior segurança sobre se cada uma das ideias analisadas avança ou não para o mercado. Existem diferentes formas de realizar a validação de novas ideias, podendo este trabalho ser feito com os colaboradores da empresa ou ser feito por “empreendedores-residentes” ou ainda por start-ups escolhidas pela empresa.
Ao longo dos últimos oito anos temos tido a oportunidade da Fábrica de Startups realizar programas baseados em cada uma destas opções, tendo a primeiro opção demonstrado dar melhores resultados. Contudo, acreditamos que o sucesso deste tipo de programa depende muito da cultura de inovação que existe ou não na própria empresa. Temos tido a sorte de trabalhar com empresas em que a inovação faz parte do seu DNA, empresas em que a liderança define a inovação com prioridade estratégica, conseguindo que toda a organização esteja atenta às mudanças e participe no processo de descoberta de novas ideias. Para outras empresas, mais conservadoras, mais rígidas, com mais dificuldade em mudarem a forma de funcionar, é provável que a melhor opção seja recorrer a “empreendedores-residentes” ou a start-ups externas, com quem façam uma parceria no sentido de validarem novas ideias e assegurarem o lançamento no mercado das ideias cujo resultado das experiências realizadas suportem essa decisão.
Num próximo artigo irei descrever em que consiste o processo de validação de ideias, incluindo como alcançar a validação problema-solução e a validação produto-mercado, etapas fundamentais antes de se lançar um novo produto ou serviço.