Conheça quem inspirou as cientistas e líderes do Programa das Nações Unidas para o Ambiente

O Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) é a principal autoridade ambiental global e um espaço onde o papel das mulheres tem ganho relevância. A organização foi saber o que inspirou algumas das suas líderes a seguirem os caminhos da ciência.

O Programa das Nações Unidas para o Ambiente tem vindo a promover a igualdade de género e o empoderamento das mulheres na conservação e no desenvolvimento sustentável. 28% do total de investigadores de todo o mundo são mulheres e, desde Marie Curie, em 1903, apenas 17 foram galardoadas com o prémio Nobel da Física, em comparação com 572 homens.

Durante séculos, o papel das mulheres na ciência foi subestimado. Raios-X, movimentos ambientalistas e até a descoberta de matéria escura, todos ocorreram graças ao trabalho de mulheres na ciência. No entanto, na maioria dos casos, as mulheres receberam pouco reconhecimento e foram discriminadas pelos seus colegas.

Essas mulheres lutaram para aprofundar o conhecimento científico e quebrar as barreiras de género. Hoje, as suas descobertas e realizações continuam a inspirar inúmeras outras a seguirem carreiras na ciência.

Segundo as Nações Unidas, menos de 30% dos investigadores científicos em todo o mundo são mulheres. Por isso, para celebrar as suas conquistas na ciência e incentivar a sua participação nos estudos de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, as Nações Unidas declaram o 11 de fevereiro como o Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência.

Para comemorar a data, o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) conversou com cinco mulheres que trabalham para a organização sobre as líderes que as inspiraram a seguir um caminho na ciência, na tecnologia, na engenharia e na matemática.

Joyce Msuya, secretária-geral Adjunta das Nações Unidas e diretora-executiva Adjunta do PNUA
Na Tanzânia, não era comum uma menina estudar física, química e biologia. No entanto, Joyce Msuya tinha uma diretora e “mentora maravilhosa”, Mama Kamm, que acreditava que as meninas deviam estudar ciência.

Kamm inspirou Msuya a querer formar-se em imunologia e bioquímica. “Tornou-se claro para mim o quanto esse campo era dominado por homens quando participava em competições ou eventos científicos e percebia que era uma das poucas mulheres presentes”, conta a secretária-geral adjunta das Nações Unidas e diretora-executiva adjunta do PNUA.

Msuya iniciou a sua a carreira como pesquisadora, mas mais tarde dedicou-se à saúde e às políticas públicas e, hoje em dia, está ligada ao meio ambiente. “Foi a minha base científica que tornou isso possível”, revelou.

Musonda Mumba, chefe da Unidade de Ecossistemas Terrestres do PNUA
“Fui criada no norte rural da Zâmbia pela minha avó, Lizzie Musonda Mumba, que adorava a natureza. Ela levava-me a mim e à minha irmã gémea para passear na nossa região, que é coberta por pântanos e por espaços de água doce incríveis”, começou por contar Musonda Mumba.

“Ela queria ensinar sobre como as áreas húmidas fornecem alimento à nossa comunidade. Falava-nos também dos nomes locais dos pássaros que visitavam essas zonas. Só descobri muito mais tarde que fazíamos parte de um caminho de aves migratórias”, explicou.

A irmã Matandiko, uma das suas professoras, e também freira e cientista, foi uma grande inspiração para Mumba. Tinha como missão pessoal garantir que as meninas não se sentissem intimidadas com o estudo da ciência e que participassem em feiras científicas.

“Na verdade, ganhei alguns prémios nessas feiras, o que me deixou incrivelmente feliz. Quando terminei o ensino secundário, tinha a certeza de que queria fazer algo na área da conservação ou do meio ambiente. Acabei como uma das poucas mulheres da Universidade da Zâmbia a inscrever-se no curso de Conservação e Educação”, revelou a chefe da Unidade de Ecossistemas Terrestres do PNUA.

Doreen Robinson, chefe de Vida Selvagem, da Divisão de Ecossistemas do PNUA
Doreen Robinson sabia que queria trabalhar com a vida selvagem desde que era criança. Conheceu Sheila O’Connor em meados dos anos 1990, quando colaborava para o World Wildlife Fund, e foi contratada por ela  para trabalhar no desenvolvimento de novas abordagens para a conservação de grandes terras e paisagens marinhas.

“Sheila O’Connor tem um doutoramento em biologia aplicada pela Universidade de Cambridge. A sua natureza inquisitiva e questionadora era contagiante e o seu espírito era de abertura e inclusão. O’Connor mostrou-me como procurar abordagens baseadas em evidências, mas tinha uma maneira interdisciplinar de pensar que abria novas soluções”, explicou Robinson.

“Ela usava a ciência para gerar novas ideias e parcerias. Ao contrário de muitos outros cientistas com quem eu trabalhava, que pareciam adotar uma abordagem mais protetora do seu próprio trabalho, O’Connor mostrou-me que, ao partilhar o nosso conhecimento, as nossas ideias e as nossas perguntas com outras pessoas, na realidade ampliávamos o nosso conhecimento e tínhamos mais influência”, acrescenta a chefe de Vida Selvagem, da Divisão de Ecossistemas do PNUA.

Sheila O’Connor acabou por ajudar Robinson a fazer a ponte entre os mundos das ciências naturais, sociais e económicas e a comunicar essas ideias para um público mais amplo, com vista a encontrar soluções práticas e reais. “Inspirou-me a ser uma cientista prática, do mundo real, que aborda os maiores desafios da natureza com humildade, empatia e uma abordagem colaborativa”, concluiu.

Tunnie Srisakulchairak, oficial de Programa, Escritório Regional da Ásia e do Pacífico
“Sempre me deslumbraram as maravilhas do nosso planeta, mas foi na universidade que realmente comecei a gostar de ciência, graças a uma das minhas professoras”, revela Tunnie Srisakulchairak. Na International Pacific University, Srisakulchairak frequentou um curso durante a sua licenciatura ministrada por Christine Muckersie.

“Ela aproximou-me da natureza e inspirou-me a entendê-la melhor. Lembro-me de uma aula com carinho, quando nos levou para fora para explicar a formação das nuvens. Isso abriu-me os olhos para a maneira como os sistemas do nosso planeta interagem”, afirmou Srisakulchairak que, confessa, que o que Christine Muckersie lhe ensinou sobre interligações na natureza ainda hoje a ajuda, “já que estamos a trabalhar para resolver tantos problemas ambientais conectados”.

Georgina Athamandia Avlonitis, coordenadora do projeto Young Champions of the Earth
Georgina Athamandia Avlonitis é sul-africana, foi criada pela mãe e a avó (Nonna). “As minhas primeiras lembranças são de Nonna a pegar-me na mão e a levar-me até ao jardim selvagem, para tocar e cheirar as folhas e as flores. Sempre a plantar, a inspecionar e a cuidar dos gerânios, dos lírios, das estrelícias, das gazânias”, conta.

“A minha Nonna foi provavelmente a primeira mulher a trazer o mundo natural vivo até mim. Ela plantou e germinou essa semente”, sintetiza.

AlAnoud Alkhatlan, Global Environment Outlook do PNUA
Desde a sua infância que AlAnoud Alkhatlan se sente inspirada pela natureza. Pela diversidade da flora e da fauna, pelas enormes montanhas e camadas de rochas sedimentares, pelos cristais, minerais, pelos desertos… Essa inspiração veio dos avós, que “agiram sempre de maneira sustentável e foram cuidadosos com a natureza, além de terem um vasto conhecimento acerca dela. Estudar geologia deixou-me ainda mais conectada com a mãe Terra”, começou por referir a empreendedora.

Alkhatlan mudou do Kuwait para o Bahrein para fazer um mestrado e um doutoramento que lhe deram a oportunidade de conhecer e trabalhar com a “heroína do meio ambiente”. “Asma Abahussain ensinou-me a expressar o meu amor e apreço pelo meio ambiente, aumentando o meu horizonte de conhecimento e, inspirando-me com a generosidade com a qual divulga o conhecimento científico”, frisou.

Além do conhecimento, “Abahussain deu-me apoio ilimitado e, com sua inspiração, iluminou a minha caminhada. Eu aprendi que ser mulher não é fácil, especialmente no campo da ciência, particularmente no campo do ambiente marinho. No entanto, isso motiva-me a ser completamente dedicada e apaixonada pelo que faço”, concluiu.

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