Congresso GS1: O atraso tecnológico português e a infidelidade dos consumidores

O Link to Leaders marcou presença na quarta edição do congresso nacional da GS1. Um evento que teve como tema “o consumidor no centro das redes de colaboração”.

Está a decorrer hoje, no Museu do Oriente, em Alcântara, o quarto congresso nacional da GS1 Portugal. Esta edição, que tem como tema “GS1 Portugal 4.0: O Consumidor no Centro das Redes de Colaboração”, conta com a presença de gestores, decisores políticos e convidados internacionais.

“Na 4.ª revolução a Europa está atrasada, mas Portugal está ainda mais”
O evento contou com a participação daquele que é reconhecido como um dos principais atores da dinamização do ecossistema de start-ups em Portugal, João Vasconcelos. O antigo secretário de Estado para a Indústria – e atualmente fundador do Think Tank Conselho – começou a sua apresentação destacando a demora do mercado português em implementar disrupções tecnológicas.
Olhando para as últimas revoluções, Portugal -que aqui recebe o estatuto de lagger – demorou mais de 50 anos a colocar-se a par do que já estava a ser feito internacionalmente e, segundo Vasconcelos, na quarta revolução, que está “aí à porta”, estamos ainda mais atrasados.

O antigo secretário de Estado afirmou também que, ao contrário das outras revoluções que foram impulsionadas por invenções singulares, como as máquinas a vapor (1.ª revolução industrial), eletricidade (2.ª) e a computação (3.ª), a quarta traz uma onda de novas descobertas tecnológicas, como a inteligência artificial, machine learning, big data, Internet of Things (IoT), entre muitas outras.

O facto deste novo virar de página trazer consigo um conjunto abrangente de novas invenções, torna ainda mais difícil que a economia e o tecido empresarial português se coloquem a par das tendências que já estão a ser postas em prática pelos players internacionais.

Recorrendo ao exemplo da evolução de Shenzhen, uma antiga comunidade piscatória chinesa que, entretanto, se tornou num dos maiores polos tecnológicos do mundo, João Vasconcelos sublinha que enquanto portugueses “não queremos [que o nosso país seja] só turismo, vinho e queijo. Mas para isso precisamos de correr duas vezes mais rápido que os outros países”. E, para tal, salientou a importância da criação de empresas novas, visto que há falta de fundadores de projetos em Portugal.

“Os consumidores são menos leais do que nunca”
O palco contou também com a presença de Ana Paula Barbosa, retailer services director na Nielsen Portugal, que introduziu o tema “Tendências 2020: foco no shopper”. Neste contexto, a grande tendência introduzida pela convidada da GS1 passa pela crescente falta de lealdade dos consumidores em relação às marcas.

Segundo Ana Paula Barbosa, este fenómeno vai agravar-se por principalmente por três motivos:

1. Nos próximos 5 a 10 anos os millennials vão ser a geração com maior poder de compra. Um estudo da Nielsen Portugal comprova que, enquanto consumidoras, as pessoas inseridas nesta faixa etária são muito pouco fiéis às marcas;

2. Cada vez vai haver mais escolha, o que dificulta a fidelização das marcas com os clientes;

3. Vai haver mais influência dos diferentes canais de distribuição de conteúdo, como as redes sociais, onde vão ser constantemente publicitados os últimos produtos e serviços. Ou seja, as empresas já estabelecidas no mercado terão de estar constantemente atentos aos pequenos projetos que surgem.

Tendo em conta todas estas circunstâncias, a retailer services director da Nielsen Portugal acredita que há algumas formas de combater esta tendência, começando por perceber as componentes mais valorizadas pelos consumidores:

Sortido: Na ótica da especialista, as lojas online e offline vão ter missões de compra diferentes, pelo que também terão de ter variedades de produtos. Enquanto que as lojas físicas se vão focar nas compras por impulso e nas ocasiões de refeição, as lojas online vão ter uma oferta alargada e produtos exclusivos.

Conveniência: Ana Paula Barbosa acredita que a facilidade e rapidez em encontrar os produtos vão ser um fator importante na decisão dos millennials. Neste aspeto, as lojas físicas terão de ter serviços dentro da loja e de estar cada vez mais próximas dos clientes. Do lado online, o estudo apresentado sublinha que as opções de entrega, o grab and go e a entrega de refeições, vão fazer parte do futuro das lojas que se queiram manter relevantes no mercado.

Experiência: Na experiência do cliente em loja física será dada primazia ao fator humano, ou seja, o atendimento especializado e personalizado será um dado importante a ter em consideração. Do ponto de vista da experiência online, a tecnologia dinamizará todos os canais, com maior eficiência em todo o processo de compra e onde se prevê também a entrada em massa da realidade virtual/aumentada.

Preço: “As guerras de preço vão deixar de fazer sentido. As guerras vão centrar-se nos produtos”, explica Ana Paula Barbosa. Nesta componente, não há diferença entre as lojas físicas e online. Segundo o estudo, 88% dos portugueses estão dispostos a pagar um preço premium por produtos com funções ou desempenhos superiores, pelo que a batalha pelos preços mais baixos vai deixar de fazer sentido. A transparência, a comparação em tempo real e a sofisticação da marca própria são valores fundamentais para que as insígnias mantenham o seu valor junto dos clientes.

E tendo em consideração que a geração dos millennials é tida como um grupo de consumidores mais conscientes, a retail services director da Nielsen aponta como medidas fulcrais para a fidelização dos consumidores a introdução de storytelling, sustentabilidade, diversidade, tolerância, bem-estar e transparência no dia-a-dia das marcas.

O dia ficou ainda marcado pela presença de Luís Marques Mendes, advogado, consultor e comentador televisivo, Alba Ruiz Laigle, business development manager da Alibaba Group para a Península Ibérica, e Álex Rovira, especialista internacional em psicologia da liderança e inspiring speaker.

Segundo o diretor executivo da GS1 Portugal João de Castro Guimarães, os temas debatidos ao longo do dia entram em conformidade com “um ambiente de mudança digital com enorme impacto na realidade das empresas, tornando-se a sua compreensão um fator-chave para garantir a qualidade, segurança e fiabilidade dos modelos de negócio e para responder cada vez mais e melhor às necessidades e exigências de um mercado em permanente evolução. Enquanto parceiro vital e de confiança das empresas, mas também a pensar nos consumidores, consideramos que o papel da GS1 Portugal é potenciar o debate, a partilha e a disseminação de práticas de gestão e casos de sucesso na colaboração entre produtores, distribuidores e o seu público final”.

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