Como se passa de antidrogas a principal investidora em canábis?

Emily Paxhia sempre foi contra a canábis – até familiares bem próximos terem sido diagnosticados com doenças oncológicas. Tal alterou por completo a sua perspetiva. Hoje está à frente de uma das empresas norte-americanas de capital de risco mais bem-sucedidas no segmento.

Durante a adolescência a americana Emily Paxhia era firmemente antidrogas e acreditava que a canábis poderia conduzir ao consumo de estupefacientes bem mais pesados e viciantes. Isto foi antes de os pais terem sido afectados com cancro. Foi então que Emily e o irmão Morgan ficaram a conhecer em primeira mão, através de uma enfermeira, os benefícios medicinais da canábis. Como resultado, as suas firmes convicções sobre esta droga dissiparam-se e, em 2013, os dois irmãos uniram-se para formar a empresa de investimento em canábis Poseidon Asset Management, com sede em São Francisco.

A organização, onde Emily é managing partner, tornou-se desde então numa das empresas de capital de risco mais bem-sucedidas do setor. Atualmente gere mais de 105 milhões de dólares em ativos. Entre os variados investimentos destacam-se a plataforma de retalho de canábis Flowhub e a plataforma online de comércio de canábis e testes de laboratório Confident Cannabis.

O percurso de  Emily Paxhia, a estratégia de investimento da Poseidon, e ainda os desafios que teve de enfrentar enquanto mulher numa área predominantemente masculina, estiveram em destaque numa entrevista da empreendedora à Forbes. Questionada sobre como alguém com o curso de psicologia passa a investidor num setor tão complicado como este, Emily Paxhia explicou que a psicologia “é essencial para uma posição de investimento. Muito do investimento tem a ver com a forma como as pessoas pensam e sentem em relação ao mercado ou às empresas em que estão a investir, ou a perceção sobre todo o conceito”. Por exemplo, frisou, “quando lançámos o nosso fundo, este era bastante contraditório. As pessoas pensavam que éramos loucos por entrar nesta área. Sabíamos que tínhamos de mudar a perceção sobre o setor”.

A empreendedora e o irmão tornaram-se defensores da canábis medicinal após os pais terem sido diagnosticados com cancro. Daí até à formação da Poseidon foi um passo, lembrou a cofundadora do projeto. “Começámos a explorar o conceito e a observar o que estava a acontecer do ponto de vista regulatório. Então, o Colorado legalizou a canábis em 2012. O meu irmão criou a estrutura. Depois tivemos de procurar fornecedores de serviços. Foi assim que começámos. Foi o Morgan quem arrancou com uma estratégia divertida”.

Quanto aos obstáculos enfrentaram nos primeiros anos, Emily recorda que o primeiro desafio foi encontrar um advogado que os ajudasse a formar um fundo. “Mas tivemos muita sorte por termos uma equipa jurídica. Na altura não havia muitos a trabalhar com empresas de canábis”. O desafio seguinte foi encontrar administradores, auditores. “O primeiro banco que abordámos tornou-se no nosso banco até o departamento de risco cortar connosco por causa da canábis. Trabalhámos dois anos com eles. Encontrámos outro banco, mas não foi fácil. Consumiu-nos muito tempo. Agora temos várias contas”.

A Poisedon tem como alvo primordial as empresas tecnológicas de canábis, e só depois os negócios que trabalham diretamente com a planta. Emily Paxhia esclarece que, inicialmente, esta estratégia teve a ver com questões legais. Hoje, “40% do nosso fundo está na tecnologia de canábis. Mas [o fundo] está mais diversificado que no ano passado: 50% estará em empresas que lidam com a planta e 10% está no cânhamo industrial”.

Como tantos outros setores empresariais, também o da canábis é predominantemente masculino. A empreendedora afirma que, definitivamente, há sexismo. “Tenho tido a experiência de estar numa reunião e os homens do outro lado da mesa não me olharem enquanto falo. Olham para o meu irmão! Já constatei que, quando sou apresentada com uma introdução calorosa por um colega ou investidor homem, a experiência é diferente”.

Emily Paxhia acrescenta que “também sou convidada para falar em muitos painéis porque sou um investidor simbólico [feminino] em canábis, mas aceito-o e provo que estou a contribuir para o diálogo – reconheço que é algo que acontece e sigo em frente. Ainda me incomoda a desconsideração, mas tenho tido muita sorte e muitos aliados do sexo masculino que me ajudam a ter um ponto de entrada”.

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