Como salvaguardar a saúde mental no trabalho? A EU-OSHA responde.

Créditos: EU-OSHA / Adina Noel

As tecnologias digitais expõem os trabalhadores a riscos psicossociais, alerta William Cockburn, diretor executivo Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA), na sua mais recente análise ao mercado.

Designada “New technologies, new challenges: safeguarding mental health at work”, a análise que o diretor executivo da Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA) faz à forma como as tecnologias continuam a transformar os locais de trabalho, assim como os efeitos que essa transformação tem no bem-estar dos trabalhadores, deixa alguns insights sobre estas matérias, concretamente acerca dos impactos da digitalização na saúde mental.

William Cockburn salienta que a digitalização oferece vários benefícios potenciais para a saúde mental dos trabalhadores como, por exemplo, o trabalho remoto. As tecnologias proporcionam maior autonomia e flexibilidade, contribuindo para um melhor equilíbrio entre a vida profissional e pessoal de muitos trabalhadores. Da mesma forma, a automação de tarefas repetitivas e monótonas através da robótica e da IA permite que os trabalhadores se concentrem em atividades mais estimulantes, o que pode melhorar a satisfação no trabalho e reduzir o esgotamento, entre muitos outros benefícios.

Todavia, o diretor executivo da Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho lembra que estes benefícios devem ser contrabalançados com as preocupações manifestadas Healthy Workplaces Campaign (HWC) 2023-2025, com base numa investigação exaustiva sobre como tornar o trabalho seguro e saudável na era digital.

Mas afinal de que forma as tecnologias digitais expõem os trabalhadores a riscos psicossociais?
William Cockburn explica que a digitalização está a afetar os riscos psicossociais no local de trabalho em vários domínios. Apesar dos benefícios associados, a ascensão do trabalho remoto e híbrido tem sido acompanhada por várias questões. A falta de interação presencial dificulta as relações sociais, pode levar a sentimentos de isolamento profissional e pode resultar em falta de apoio social.  “A conectividade constante possibilitada pelas ferramentas digitais pode esbater as fronteiras entre o trabalho e a vida pessoal, contribuindo para um mau equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada”, refere Cockburn.

Destaca ainda o facto das plataformas de trabalho digitais, que fazem corresponder os trabalhadores aos empregos através de algoritmos, apesar de oferecem flexibilidade, também podem gerar riscos psicossociais. Isto porque “a gestão algorítmica aumenta a precariedade laboral, reduz a autonomia dos trabalhadores e amplifica a pressão de desempenho. Por exemplo, os gig workers muitas vezes enfrentam cargas de trabalho imprevisíveis, trabalho ruim, segurança e proteção inadequada ao abrigo da regulamentação em vigor em matéria de SST (Saúde e Segurança do Trabalho)”.

Também a introdução generalizada da robótica avançada e da automatização de tarefas suscitou receios quanto à segurança no emprego, pois os trabalhadores se preocupam-se com a possibilidade de serem substituídos por máquinas, o que contribuiu para causar ansiedade e exaustão.

Embora os sistemas de gestão de trabalhadores através da IA possam otimizar a programação do trabalho e melhorar a eficiência, a sua utilização na monitorização dos trabalhadores pode levar à vigilância excessiva, à pressão sobre o desempenho, a uma autonomia reduzida e à falta de confiança no local de trabalho. Pode fomentar um sentimento de injustiça e desconfiança, comprometendo o bem-estar mental.

Acresce que a implementação de inteligência artificial para a gestão de trabalhadores aumenta, muitas vezes, a carga cognitiva e o stress destes. Aliás, a vigilância digital contínua e gestão algorítmica são frequentemente referenciadas como fatores de insatisfação no trabalho e de declínio da saúde mental, salienta o diretor executivo da EU-OSHA.

Perante as contingências associadas à aplicação da tecnologia no ambiente laboral, a aplicação de medidas preventivas é algo que não deve ser descurado, afirma aquele responsável. Assim, as considerações de segurança e saúde deverão ser integradas na fase de conceção das tecnologias e processos digitais, e não apenas na fase de implementação.

Para fazer face aos riscos, é essencial uma estratégia preventiva baseada no princípio STOP, destaca William Cockburn. E aqui podem ser aplicadas medidas como Substitution (sempre que possível, os processos digitais prejudiciais serem substituídos por alternativas mais seguras; Technical protective measures (os empregadores podem implementar sistemas de monitorização respeitadores da privacidade); Organisational protective measures (os empregadores estabelecem limites claros no horário de trabalho para evitar excessos, fornecer formação e promover um ambiente de trabalho favorável); e Personal protective measures (medidas pessoais, incluindo acesso ferramentas de saúde mental).

Uma parte fundamental da solução reside também na realização regular de avaliações de risco por parte dos empregadores, que abordam especificamente os riscos psicossociais associados à digitalização. Estas avaliações devem abranger as tecnologias digitais e a forma como interagem com a organização do trabalho.

Refira-se que a próxima campanha Healthy Workplaces (HWC) 2026-28 centrar-se-á na saúde mental e na digitalização, uma oportunidade de sensibilizar para os riscos psicossociais associados à utilização crescente de tecnologia no trabalho. O diretor executivo da EU-OSHA destaca que as políticas futuras devem ter em conta tanto as oportunidades como os desafios colocados por digitalização, a fim de garantir que os locais de trabalho continuem a ser seguros, inclusivos e favoráveis a todos os trabalhadores

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