Opinião
Como poderão as start-ups escapar ao vírus? Presidente da APBA responde.
Conseguirão as start-ups portuguesas adaptar-se às consequências do Covid-19? O presidente da Associação Portuguesa de Business Angels (APBA) falou com o Link To Leaders sobre esta e outras questões. Esta é a primeira de cinco entrevistas que iremos publicar ao longo da semana com business angels.
No atual contexto, os desafios que todos enfrentamos são de vária ordem, e completamente diferentes do que foram outrora. Vivemos hoje uma realidade desconhecida, onde tanto cidadãos como empresas, organismos públicos e privados são parte fundamental para os esforços de contenção da pandemia causada pelo coronavírus. Trata-se, inequivocamente, de uma mudança estrutural na vida das pessoas e das organizações, reservando à tecnologia um papel essencial.
Perante este cenário, como ficam as start-ups? O que lhes reserva o futuro? Poderão estar num dos setores mais afetados pela crise financeira que a Covid-19 vi inevitavelmente acarretar? Mais de 70% diz estar já a ter impactos negativos, segundo um inquérito realizado junto de 78 diretores e CEO’s de start-ups com escritórios em Portugal, pela empresa de consultoria de inovação Aliados Consulting e pela agência de comunicação FES Agency.
Falámos com João Trigo da Roza, presidente da Associação Portuguesa de Business Angels, para perceber qual a sua opinião sobre o panorama que assola também as start-ups e como estas poderão fazer desta crise uma oportunidade.
Conseguirão as start-ups portuguesas adaptar-se às consequências do Covid-19?
A crise do Covid-19 é uma crise sem precedentes só comparável no seu potencial impacto à Grande Depressão de 1929. As start-ups são pela sua natureza empresas mais ágeis e, por isso, com maior capacidade de adaptação a este impacto disruptivo,
Por outro lado, são empresas normalmente frágeis na sua estrutura e meios e muitas vezes esquecidas pelas políticas públicas de suporte mais transversal, até porque a sua informalidade dificulta a sua candidatura a esse tipo de apoios. No final haverá start-ups que vão superar esta crise porque a transformaram em oportunidade e outras que não conseguiram escapar ao vírus…
“(…) um dos impactos maiores da presente crise vai ser a aceleração da economia para o modo digital”.
Quais serão os setores mais afetados e quais as start-ups que poderão tirar “maior partido” da situação?
Julgo que um dos impactos maiores da presente crise vai ser a aceleração da economia para o modo digital. Isso pode ser uma oportunidade grande para as nossas start-ups, que na sua maioria atuam nesta esfera. Assim, todas as áreas ligadas ao e-commerce, ferramentas de comunicação e tele-trabalho, tele-ensino e tele- medicina, inteligência artificial e robotização, para só referir alguns, têm aqui uma grande oportunidade.
Aquelas que vão sofrer mais são as mais ligadas ao mundo “analógico”, mas mesmo em alguns setores como, por exemplo, a logística podem ter impactos positivos. Basta pensar na distribuição das encomendas online que estão a aumentar fortemente para todo o tipo de produtos, desde os alimentares até aos farmacêuticos.
“Vai ser um período difícil e desafiador, mas acredito que aqueles que mantiverem a sua capacidade de resiliência e em cada dia conseguirem ver “o copo meio cheio” vão conseguir superar e se possível saírem mais fortes do Covid-19″.
Que conselhos dá aos fundadores das start-ups?
Cada caso será sempre diferente e nesta fase é difícil dar conselhos. De qualquer modo, julgo que no curto prazo a grande preocupação é conseguir gerir a tesouraria. A maior parte das start-ups já está habituada a gerir numa lógica de bootstrap, mas vão ter que fazer um esforço adicional para otimizarem a utilização de recursos.
Por outro lado, um dos riscos maiores neste tipo de crise é o da quebra das cadeias de valor entre empresas, pelo que é importante reforçar os laços de proximidade com fornecedores, parceiros e clientes. Vai ser um período difícil e desafiador, mas acredito que aqueles que mantiverem a sua capacidade de resiliência e em cada dia conseguirem ver “o copo meio cheio” vão conseguir superar e se possível saírem mais fortes do Covid-19.
Esta é a primeira entrevista que publicámos ao longo da semana com business angels. Pode consultar as restantes abaixo.
Uma crise que é um verdadeiro teste às capacidades de gestão e liderança
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“A vergonha lusitana impede muitos de recorrerem ao layoff”