Entrevista/ Como começar um gabinete de arquitetura do zero e chegar a uma multinacional

Mariana Morgado Pedroso, CEO da Architect Your Home

“Deveríamos poder ter uma casa que evolui com o crescimento da família, com as mudanças na nossa vida, que não é estática”. É assim que Mariana Morgado Pedroso, CEO da Architect Your Home, descreve a casa ideal. O Link to Leaders falou com a responsável do gabinete de arquitetura que surge com uma nova imagem para comunicar também com o mercado B2B.

A Architect Your Home(AYH) tem uma nova imagem que espelha um novo posicionamento no mercado. Esta decisão surge depois de, em 2023, a Architect Your Home Limited UK ter sido adquirida por Mariana Morgado Pedroso, hoje owner e CEO da empresa em Portugal. Desta forma, a operação da marca é, agora, gerida a partir de Paço de Arcos, na sua sede no Oeiras Valley.

“Foi um processo natural e inevitável, para acompanhar a aquisição da marca ao Reino Unido. Depois de um caminho a conquistar mercados diferentes dos que originalmente caracterizavam a marca, precisávamos de uma imagem que espelhasse o posicionamento que a marca já conquistou no mercado português”, explica Mariana Morgado Pedroso.

A marca está presente em Portugal desde 2012 e, com a aquisição da casa-mãe britânica, juntou ao seu portfolio nacional 12 ateliers, 35 arquitetos e mais de 200 projetos ativos, bem como toda a operação que decorre no Reino Unido.

Quem é a Mariana Morgado Pedroso?

Hoje sou arquiteta e gestora, owner e CEO da Architect Your Home. Era há 12 anos uma arquiteta empreendedora, especializada em recuperação de património e tinha um franchising da marca inglesa AYH. Ao longo de mais de uma década a trabalhar a marca no seu universo característico B2C, escolhi alavancar a marca para um universo mais alargado, tanto em Portugal como em vários países do mundo. Foi assim que em 2023 adquiri a casa mãe, incorporando, de forma consistente na sua atividade, a vertente B2B.

O que tem de diferente este conceito no nosso mercado?

Este conceito caracteriza-se, desde o primeiro dia, pela sistematização dos seus processos, numa lógica muito anglo saxónica, disponibilizando aos nossos clientes uma equipa de arquitetos qualificados que, em Portugal e fora, são associados da marca e a trabalham nas diferentes especialidades, em diferentes lugares. Este “desenho” permite-nos trabalhar muito próximo do cliente, gerando relações de confiança e eficiência, relativamente à execução dos projetos, tanto de pequena como de grande escala.

Que balanço faz destes 12 anos da Architect Your Home?

Um balanço extraordinário. Foi um período em que a marca, tendo crescido no seu perfil inicial, conseguiu também explorar o mercado mais direto com investidores e, hoje, somos uma empresa diferente da que éramos há 12 anos. Crescemos no negócio e crescemos nas equipas. Tivemos, ao longo destes anos, a possibilidade de aprimorar os nossos processos de execução e de criar uma comunidade de clientes que nos são muito fiéis, bem como uma comunidade de arquitetos nas mais diferentes vertentes, espalhados por Portugal e pelo mundo.

“(…) diria que tive, em momentos de igualdade, de esforçar-me muito mais para me posicionar para determinados projetos, pelo simples facto de ser mulher”.

Foi fácil impor-se num mercado tão dominado pelos homens?

Essa é uma pergunta de resposta quase óbvia. Embora não tenha nenhuma história singular para contar, senti a dificuldade de integração num meio muito masculinizado, como é o da construção. Portanto, diria que tive, em momentos de igualdade, de esforçar-me muito mais para me posicionar para determinados projetos, pelo simples facto de ser mulher.

E porquê um rebranding da marca agora?

Foi um processo natural e inevitável, para acompanhar a aquisição da marca ao Reino Unido. Depois de um caminho a conquistar mercados diferentes dos que originalmente caracterizavam a marca, precisávamos de uma imagem que espelhasse o posicionamento que a marca já conquistou no mercado português. O rebranding e a nova comunicação têm neste momento que falar para dois universos de negócio (B2B e B2C), de forma a consolidar a imagem desta “nova AYH”.

Quais as mensagens que quer passar com este rebranding?

Sendo muito sintética: mudança consolidada e crescimento; eficiência e confiança; modernização e internacionalização.

“A história da marca em Portugal, ao longo dos anos, ditou que a área de atuação fosse mais abrangente do que apenas o mercado residencial doméstico (…)”.

O que a levou a adquirir a casa mãe ao Reino Unido, depois de ter trabalhado a marca em Portugal nos últimos 12 anos, principalmente no mercado B2C?

Este foi um passo importante para a consolidação da marca. Mais do que apenas o potencial de investimento na compra da casa mãe, o que ditou a decisão de avançar com a aquisição, foi a mais valia de trazer para o nosso país a sede da empresa, o que permitiu uma gestão portuguesa estratégica, alavancando as decisões essenciais para o processo de expansão para outros países. Contudo, continua a ser promovida a colaboração com uma equipa maior e internacional, onde a troca de ideias entre todos os envolvidos ganha com a riqueza das suas culturas e visões distintas – tudo a partir de território nacional! A história da marca em Portugal, ao longo dos anos, ditou que a área de atuação fosse mais abrangente do que apenas o mercado residencial doméstico, com a expansão para a área da promoção imobiliária e colaboração com os maiores players do mercado, posicionamento esse que se pretende expandir às restantes geografias onde a marca atua.

Quando olha para trás, quais são os projetos mais emblemáticos e que mais orgulho tem?

Olho para trás com um imenso orgulho pelo caminho percorrido. Olhando para trás e para alguns projetos ainda em execução, posso distinguir o Palácio Nacional de Queluz, projeto emblemático em termos de recuperação de património classificado; o Vila Rio, como testemunho da versatilidade da marca em trabalhar construção nova vocacionada para um cliente promotor; e, pessoalmente, vários projetos para clientes privados, pelos clientes que se transformaram em amigos e trazem um cunho pessoal ao nosso percurso profissional, todos estes testemunham esse crescimento no volume e na forma.

Sente que arquitetura é cada mais valorizada em Portugal? Quais são os desafios que o setor enfrenta?

Em relação ao reconhecimento da arquitetura em Portugal, temos bons clientes com quem temos um relacionamento profissional de respeito, mas vemos muitas situações em que se entende que ainda há um grande percurso a percorrer. A arquitetura é muitas vezes vista como um mal necessário para atingir um fim, sem haver uma consciência clara do apport que o arquiteto traz para a qualidade dos espaços construídos. Acresce ainda, no caso de existirem problemas, é sempre ao arquiteto que se pedem as responsabilidades, pelo que às vezes é uma posição difícil.

Para si qual é a casa ideal?

É aquela que responde ao momento da vida em que estamos. Deveríamos poder ter uma casa que evolui com o crescimento da família, com as mudanças na nossa vida, que não é estática.

E como perspetiva a casa do futuro?

É uma casa inteligente e sustentável  – já o pode ser, atualmente -, mas que não perde o fator de conforto, da escala humana, mantendo a sensação real de casa, na acepção que é um espaço onde nos sentimos protegidos do mundo exterior, em família.

“Sempre me interessou a recuperação de casas antigas, a exploração de mundos e espaços pré-existentes, poder imaginar o que se passou nestes ambientes”.

Fale-nos do seu percurso académico e profissional? De onde lhe surgiu esse interesse pela Reabilitação?

Sempre me interessou a recuperação de casas antigas, a exploração de mundos e espaços pré-existentes, poder imaginar o que se passou nestes ambientes. A oportunidade de fazer um percurso académico no Instituto Superior Técnico, primeiro com os 5 anos do curso de Arquitetura e depois com o Mestrado em Recuperação e Conservação do Património Construído, consolidaram os conhecimentos para poder de facto atuar enquanto especialista neste meio, sendo hoje também membro do Colégio do Património da Ordem dos Arquitetos e tendo desenvolvido muitos projetos e obras neste campo.

Que planos faz a médio prazo? Como vê a Architect Your Home dentro de cinco anos?

No presente, estamos a consolidar todas estas mudanças para que, dentro de dois ou três anos, estejamos preparados para dar mais um salto de internacionalização. Em 5 anos vemos a Architect Your Home estabilizada no mercado B2B nacional e a crescer sustentavelmente na Europa.

Respostas rápidas:
Maior risco:  Na vida profissional, na Architect Your Home, foi a compra da casa mãe e do negócio no Reino Unido.
Maior erro: Enquanto arquiteta, aceitar prazos demasiado apertados a pedido dos clientes.
Maior lição: Enquanto gestora, aceitar certas batalhas como derrotas e tirar daí a devida aprendizagem é uma lição que aprendi ao longo dos anos.
Maior conquista: Um grande orgulho em começar um gabinete com zero projetos e chegar hoje a uma empresa multinacional com centenas de clientes e dezenas de arquitetos envolvidos.

 

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