Opinião
Com 3 biliões de dólares para investir, o Brasil avança em inteligência artificial e bioeconomia amazónica
O Brasil vive um momento vibrante no cenário de tecnologia e inovação, com soluções criativas e de alto impacto que têm despertado crescente interesse no mercado internacional.
O país não apenas lidera o setor na América Latina e Caribe, mas também ocupa a 50.ª posição no Índice Global de Inovação (IGI), um ranking que avalia 133 nações. Este ano, tecnologias emergentes como cibersegurança e, principalmente, inteligência artificial, foram temas centrais em eventos importantes como o Startup Summit. A adoção de IA avança de forma intensa: 48% da população brasileira já utiliza ferramentas do género, e o país está entre os maiores utilizadores de ChatGPT do mundo. O impacto é visível tanto no dia a dia, com uma média de 9,2 horas online por pessoa, quanto nos negócios. Um exemplo é a fintech Cloudwalk que, usando IA, conseguiu bloquear mais de R$ 15 biliões em fraudes e automatizou 75% do seu suporte ao cliente.
O ecossistema de start-ups também mostra uma notável expansão e descentralização geográfica. Embora a região Sudeste ainda lidere com 35,8% das empresas, o Nordeste surge como um pólo emergente, respondendo por 24,4% das start-ups ativas. Simultaneamente, pólos como Florianópolis e o Vale do Pinhão consolidaram-se no mapa da inovação.
Sustentabilidade e a Amazónia no centro das atenções
Com a aproximação da COP30, que será realizada em Belém (PA), a sustentabilidade ganhou maior protagonismo. A conferência da ONU colocará a Amazónia no centro das discussões climáticas globais sobre preservação e desenvolvimento inclusivo.
Iniciativas como o Amazontech 2025, realizado em Roraima, e o programa Inova Amazónia, do Sebrae, já impulsionam a bioeconomia na região. O Inova Amazónia, por exemplo, apoia 409 empresas, das quais 62% registaram crescimento de receita e 31% estão em processo de expansão internacional. Outro destaque é a HuNIM, um hub de negócios que promove o empreendedorismo indígena e a criação de um modelo económico regenerativo na floresta.
Presença brasileira no cenário global
O interesse das empresas brasileiras pela internacionalização segue em crescimento. Em novembro, a ApexBrasil e o Sebrae levarão 250 start-ups ao Web Summit Lisboa, consolidando Portugal como porta de entrada para o mercado europeu.
Além disso, três start-ups brasileiras foram selecionadas para participar do ALL IN 2025, o maior festival de inteligência artificial do Canadá: Squair (redução de 30% no consumo energético de ativos frigoríficos), Bee Touch (rastreio e predição de riscos em saúde mental) e Attilime (recuperação de óleo offshore com 80% de reaproveitamento).
Maturidade tecnológica, desafios e o cenário de investimentos
O Prémio Sebrae Startups revelou a sofisticação do setor: entre 2.655 empresas inscritas, 48,3% demonstraram alta maturidade no uso de IA, com soluções em produção e escalabilidade. As deeptechs representaram 14,8% das start-ups analisadas.
Apesar do otimismo, o mercado enfrenta desafios. O Brasil sofre com a falta de especialistas em IA e gestão de produto, mesmo possuindo a quarta maior comunidade de desenvolvedores no GitHub.
No campo dos investimentos, o cenário é de cautela e estratégia. Segundo o relatório do fundo Atlântico, os investidores brasileiros têm 3 biliões de dólares disponíveis para aportes, mas estão mais seletivos e focados em rondas iniciais. Algumas start-ups captaram recursos em downrounds (com avaliação menor que a anterior), um reflexo do ajuste do mercado ao impacto da IA. Ainda assim, muitos unicórnios brasileiros já operam com fluxo de caixa positivo, planeando um crescimento mais sustentável.
Conclusão
O Brasil consolida-se como protagonista regional em inovação, equilibrando crescimento tecnológico com sustentabilidade ambiental. A convergência entre eventos globais como a COP30, a expansão geográfica do ecossistema de start-ups e a maturidade crescente em IA posiciona o país para um salto qualitativo no cenário internacional. O desafio agora é desenvolver talentos especializados para sustentar essa trajetória de crescimento e aproveitar plenamente os 3 biliões de dólares disponíveis para investimento.
Com a Amazónia a ganhar destaque global e o Nordeste emergindo como novo polo de inovação, o Brasil tem todos os elementos para se tornar não apenas líder latino-americano, mas um player relevante no ecossistema global de inovação tecnológica.








