Opinião

De ‘Chief Twit’ a ‘Twitter Complaint Hotline Operator’

Henrique Jorge, fundador e CEO da ETER9

Elon Musk não segue os mesmos padrões que a maioria dos empresários segue. Ele é diferente, gosta de ser diferente!

E quando se é diferente e não se tem medo de o ser, não tem problemas em testar um charuto (ou devo dizer ‘joint’?) de tabaco misturado com marijuana, no famoso podcast de Joe Rogan. Mas se observarmos bem, Elon apenas foi simpático (educado) e seguiu o roteiro elaborado de Rogan. Antes de o experimentar, Musk até lhe perguntou se aquilo era legal.

Depois, todas aquelas expressões faciais de Musk, que os foto-jornalistas gostam muito de apanhar, tornam-se virais como se ele estivesse ali a promover qualquer droga leve ou a passar para o exterior que o seu gabinete na Tesla (ou na SpaceX) está envolto numa grande nuvem de fumo.

Muito pelo contrário. As próprias expressões falaram por si, como que a dizer: “Isto não é nada de especial, Joe. Porque me fazes perder tempo com estas cenas?”. Musk até afirmou que a ‘weed’ não é nada boa para a produtividade. Mas que não tem nada contra (tal como eu, aliás).

Joe Rogan foi demasiado atrevido e presunçoso em pensar que Elon Musk seria um tipo tão criativo e rápido no que faz, graças a ‘weed’ ou quaisquer outras drogas, leves ou pesadas. Ele respondeu à altura e de forma directa, educada e muito lúcida.

No entanto, os media preferiram exaltar o “não conteúdo” da entrevista e fazer sobressair o que menos interessou só porque ele foi simpático em testar um “charuto” que gerou uma enorme nuvem de fumo ao verdadeiro conteúdo.

Bem, as pessoas vêem mais aquilo em que estão focadas!… Definitivamente, Musk está mais focado em outras coisas.

Elon Musk gosta de fazer coisas úteis para as outras pessoas. Ele próprio o disse, acreditem ou não. Apesar de a aquisição do Twitter ser um desejo ardente de Musk, ele percebeu há muito que podia fazer melhor do que era feito com uma máquina tão poderosa como é este ‘microblogging’. Tratou assim da “limpeza”, sem perder tempo. Ele, aliás, até preparou as pessoas com o ‘easter egg’ (lavatório) que levou ao colo para a sede do Twitter em São Francisco.

O mesmo precisa de ser feito em relação ao Facebook, que está péssimo. Super lento; cheio de remendos; muitos recursos que não funcionam apropriadamente; algoritmos muito pouco, ou nada, inteligentes — ou melhor, até têm inteligência, mas para um mundo de ignorantes (sim, o Facebook, ou o seu algoritmo “mestre”, julga os seus utilizadores como ignorantes); instabilidade e incongruência no ‘engagement’; etc.

A união de todas as plataformas Meta — Facebook, Instagram e WhatsApp, principalmente —, fez com que todo o sistema se transformasse em tudo menos prático e nada ‘user friendly’.

O Facebook (rede social em si) precisa urgentemente de mudança se quiser sobreviver ao novo futuro que se avizinha. E não me refiro ao futuro que Mark Zuckerberg quer (metaverso) e sim ao verdadeiro futuro da Internet, da nova Internet, quer lhe chamemos Metaverso ou outro nome qualquer.

O elefante do Mark está velho e cansado. Parece mais um mamute preso na pré-história. Pode ser muito grande e pesado, mas de que adianta uma enorme pegada lá distante no tempo dos mamutes?

Os dias de glória do Facebook já lá vão e é tempo de refrescar o novo mundo! Não é com conceitos retrógrados que a nova e exigente sociedade se mantém activa nesta já obsoleta e gasta rede.

Voltando ao Twitter, foi preciso um homem super corajoso e visionário — adore-se ou odeie-se —, para, necessariamente, mexer e abanar toda a estrutura da organização.

Também não gostaria de ser despedido assim tão ‘on short notice’, mas se olhar para a ‘Big Picture’, não me parece dramático. Jack Dorsey, co-fundador e ex-CEO do Twitter, que já não tem qualquer voz activa na organização, diz que os funcionários da empresa são resilientes e que vão sobreviver à mudança. E, na minha humilde opinião, tem razão!

As reacções fazem-se sentir por toda a Internet, ridiculamente por todos aqueles que sempre usufruíram do Twitter sem pagar um centavo. Agora, com a mudança, julgam-se senhores da razão sem terem razão absolutamente nenhuma.

Naturalmente que este tipo de “limpeza” causa estranheza, principalmente a quem está do lado de fora e não vê o interior da pesada “máquina”. Estranheza essa que, caso deixem o ‘Chief Twit’ trabalhar, vai entranhar e acabar por se tornar ‘mainstream’.

(Normalmente, as pessoas que pouco fazem, talvez por desocupação, não têm paciência para esperar o resultado do trabalho árduo de quem faz realmente as coisas.)

Muita gente diz que Elon Musk é a demonstração do poder de fazer ‘whatever the f*ck he wants’. Julgo que não é bem assim. Ele até ouve as pessoas! Farta-se de pedir opiniões para poder ser mais útil para as pessoas. Contudo, o poder de Elon Musk é legitimo.

Quando ele afirma que os 8 dólares mensais do plano “Blue Twitter”, onde é incluído o ‘Verified Badge’ (visto azul de verificação), são para pagar, está no seu pleno direito de o fazer. Afinal, ele pagou 44 mil milhões de dólares pela plataforma.

Quem são os ofendidos que sempre usufruíram do Twitter e do ‘Verified Badge’ gratuitamente? Sim, porque ter um ‘Verified Badge’ no Twitter (e noutras redes) é como ter um estatuto social e, quer queiramos, quer não, são vistos com outros olhos. Por isso uso a palavra “usufruíram”.

A política de verificação de contas do Twitter (e também do Facebook e Instagram) é completamente ridícula e desigual quando um dos requisitos para tal é ser uma “pessoa notável” ou ter uma conta “notável”. Come on! Give me a break. Existem muitas contas verificadas (demasiadas, até) de pessoas que são tudo menos notáveis. Onde está a igualdade, então?

Se é para dar poder ao povo, como o próprio Musk afirma, há que fazer as mudanças necessárias para tal, e ele está a fazê-las. Só quem não vê para além da sua aura de egoísmo é que não se apercebe do que estas (necessárias) medidas trazem.

Ora, o que Elon Musk quer aqui é enaltecer o ‘free speech’, libertando as amarras das outras pessoas que, não se encaixando no estatuto social do velho Twitter, não tinham a “liberdade de expressão” para serem ouvidas. Um sistema mais justo e democrático, precisa-se!

O Twitter mantém-se gratuito, obviamente, mas quem quiser contas ‘Premium’ paga uma pequeníssima mensalidade de 8 dólares (7,99, para ser mais preciso). Nessa mensalidade, está incluída a verificação de conta, sendo que as actuais contas verificadas precisam de aderir a este plano para manterem o “estatuto de pessoa notável”, dito ‘Verified Badge’. Quem não pagar, fica sem o selo. Qual é o drama disso?

Quer queiramos, quer não, Elon Musk é uma força da natureza que já deu mais que provas da sua determinação.

Os que mais se queixam da sua irreverência, se são utilizadores do Twitter e não concordam com a sua política, têm uma solução que é, naturalmente, sair.

Os que se mantêm no Twitter gratuitamente e reclamam à menor coisa, acho que não o deviam fazer se fazem parte dessa casa social.

Os que pagam, podem sim queixar-se dos serviços pagos se estes não estiverem em conformidade com o que lhes foi vendido. Caso contrário, também não devem fazer grandes ondas.

Deixem o homem trabalhar e dêem tempo ao tempo. O Twitter foi criado em 2006 e demorou 16 anos a ser o colosso que é hoje, criando muitos círculos viciosos difíceis de largar em detrimento de tudo o que contrarie esses mesmos círculos.

Há que mudar para nos mantermos dinamicamente inovadores!

Nota: Este artigo não obedece, propositadamente, ao Novo Acordo Ortográfico.


Empreendedor, Programador e Analista de Sistemas, Henrique Jorge é o fundador e CEO da ETER9 Corporation, uma rede social que conta com a Inteligência Artificial como elemento central, e que atualmente está em fase BETA.

Desde sempre ligado ao mundo da tecnologia, esteve presente no início da revolução da Internet e ficou conhecido pela introdução da Internet e das tecnologias que lhe estão associadas em Portugal, sendo um dos pioneiros nessa área.

Passando por vários episódios de desconstrução e exploração das linguagens dos computadores, chegou à criação da rede social ETER9, um projeto que tem conhecido projeção internacional, e que ambiciona ser muito mais que uma simples rede social. Através de Inteligência Artificial (IA) pretende construir a ponte entre o digital e o orgânico, permitindo a todos deixar um legado digital ativo no ciberespaço, inclusive pela eternidade. Fora do espaço virtual, é casado, pai de duas filhas, e “devora” livros.

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