Enquanto cofundador, qual a percentagem da empresa a que tenho direito?

Uma questão que muitas vezes se levanta entre os cofundadores é a da percentagem da empresa a que cada um tem direito. A resposta pode fazer a diferença entre alcançar o sucesso ou acelerar para o insucesso.

Michael Seibel, CEO e partner do Y Combinator (YC), uma das 10 melhores aceleradoras de start-ups do mundo segundo o Entrepreneur, aponta a divisão percentual da start-up como uma questão que lhe é frequentemente colocada por cofundadores.

“Quando pesquiso na internet sobre este assunto encontro frequentemente conselhos horríveis, que defendem uma divisão desigual entre os diferentes membros da equipa fundadora. Vemos essa tendência refletida todos os anos nas milhares de candidaturas que analisamos no Y Combinator”, refere o líder no blog da aceleradora.

Segundo este, os motivos mais invocados para uma desigual divisão da empresa são:

– Fui eu que tive a ideia da empresa;
– Comecei a trabalhar meses antes do meu cofundador;
– Foi isso que combinámos;
– O meu cofundador recebeu um salário por vários meses e eu não;
– Comecei a trabalhar a tempo inteiro meses antes do meu cofundador;
– Sou mais velho e/ou mais experiente do que o meu cofundador;
– O meu cofundador juntou-se depois de já ter angariado x milhares de dólares para a empresa;
– O meu cofundador juntou-se depois de ter lançado o meu MVP (produto viável mínimo);
– Precisamos de alguém que desempate caso não haja consenso entre os fundadores.

Segundo Seibel, todos estes argumentos caem por terra perante quatro factos:

– São precisos 7 a 10 anos para construir uma empresa de grande valor. Pequenas diferenças ocorridas no primeiro ano da empresa não justificam diferenças substanciais na divisão percentual da mesma num período entre 2 a 10 anos.

– Mais percentagem = mais motivação. Quase todas as start-ups falham. Quanto mais motivados estiverem os seus fundadores, mais hipóteses têm de alcançar o sucesso. Conseguir uma fatia maior da empresa não vale nada caso tal se traduza numa perda de motivação na equipa fundadora e acabe por levá-la ao falhanço.

– Se não valorizar os seus cofundadores, ninguém mais o fará. Os investidores olham para os fundadores de acordo com a percentagem que detêm da empresa, vendo nisso a forma como o CEO os valoriza. Se apenas der a um cofundador 10% ou mesmo 1%, todos os demais irão pensar que ou este não é suficientemente bom ou que não vai gerar grande impacto no negócio. A qualidade da equipa é frequentemente uma das principais razões pelas quais um investidor avança ou não com o dinheiro. Para quê dizer aos investidores que tem uma equipa que não valoriza?

– Nas start-ups tudo depende da execução, não das ideias. Divisões percentuais muito desiguais entre os fundadores decorrem de uma preferência indevidamente dada ao cofundador que teve a ideia que levou ao arranque da empresa, em oposição aos fundadores que tiveram a cargo a captação do mercado e geraram a tração inicial.

“O meu conselho sobre a divisão percentual da empresa é provavelmente controversa, mas foi o que fizemos em todas as minhas start-ups e o que recomendamos quase sempre no YC: uma divisão igual entre os cofundadores”, refere Michael Seibel.

O CEO do YC relembra que é com os cofundadores que se vai para a guerra, com quem se passa mais tempo do que com a maioria dos familiares e quem o ajudará a tomar as decisões importantes da empresa.

“Acredito que uma divisão igual ou quase igual da empresa entre os membros fundadores deverá tornar-se no padrão. Se não está disposto a dar uma parte igual ao seu sócio talvez este não seja o parceiro certo para si”, refere Seibel.

O empreendedor refere, no entanto, algumas formas de se precaver sem comprometer a igual divisão da empresa entre os cofundadores.

“Se tiver receio do que possa acontecer caso tenha de dispensar um cofundador, certifique-se de que tem um cronograma apropriado. Em Silicon Valley, o cronograma habitual integra quatro anos de aquisição com um ano para “queda”. Ou seja, embora possa deter 50% da empresa no papel, se sair ou foi demitido no prazo de um ano, sairá sem nada. Após um ano obtém 25% das suas ações. Todos os meses depois receberá uma percentagem adicional do total. Desta forma só detém todas as ações previstas depois de quatro anos. Isso garante-lhe que os fundadores irão estar ao seu lado a longo prazo – e se surgir algum problema pode corrigi-lo sem prejuízos no primeiro ano”, partilhou Seibel.

O empreendedor acrescentou ainda outra medida de contingência –  apenas o CEO compõe a administração até que seja angariado um valor considerável de capital. Seibel acredita que “tal evitará discussões de administração durante a tomada das decisões difíceis, como no caso improvável de o CEO ter de demitir um cofundador”.

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