Opinião
Cobradores de impostos
Ultimamente gente boa, sempre preocupada com a “igualdade”, vem propondo a criação de (mais) impostos, o último sobre os teletrabalhadores, em especial sobre “a Burguesia do Teletrabalho”. Logo muitas vozes bondosas se condoeram, até mesmo a boa gente (sem ironia) do “Governo Sombra”, desde os mais “marxistas” passando pelo conservador até ao “liberal”. Todos acharam boa a ideia, ou pelo menos uma ideia sobre que valeria a pena reflectir.
Pois esta ideia não deve ser sequer objecto de reflexão, muito menos de implementação. Porque é errada! E esta deveria ser razão suficiente, pois os “teletrabalhadores” são-no porque a isso foram obrigados pelo Estado, e não fosse esse castigo suficiente, não podem ser castigados ainda com (mais) impostos.
E o meu artigo devia terminar aqui! Mas tendo alguns caracteres disponíveis, vou elaborar um pouco mais.
Infelizmente, para os cidadãos pagadores de impostos, há inúmeros exemplos, mas fiquemos pela nacionalização recente da TAP, empresa pela qual tenho carinho, mesmo, mas que quase nunca conseguiu ser lucrativa, nem mesmo num tempo em que as viagens aéreas cresciam desmesuradamente. Muito menos se espera que o seja agora, no “novo mundo” que se adivinha, onde a aceleração digital alterou estruturalmente a forma como as pessoas interagem e viajam, profissionalmente e mesmo em lazer. Ora uma empresa que era privada, e cuja sobrevivência dependeria dos seus accionistas, é hoje (novamente) responsabilidade dos portugueses, e irá custar-lhes nos próximos anos, que se saiba, mais de 4 mil milhões de euros. Não para que um dia seja rentável, mas apenas para que venha a necessitar de ainda mais dinheiro para sobreviver. Neste mesmo país, em que se decide destruir assim 4 mil milhões de euros, a serem pagos por impostos, actuais e futuros dos portugueses, há quem considere que deve ser criado mais um imposto, este agora sobre quem está em teletrabalho, tendo a isso sido obrigado.
Neste país de impostos, taxas e taxinhas, as pessoas e as empresas perdem rendimentos por causa da actual pandemia, e por decisões do Estado. Concorde-se ou não com a decisão, foi o Estado que obrigou os portugueses a confinar, não a Covid! Entre muitíssimos outros efeitos destruidores, na educação dos jovens, na saúde mental da população e no número anormal de mortes, muitas mais devido a doenças não Covid do que à Covid, fruto de milhões de consultas e milhares de operações não realizadas, foram também decisões do Estado que contribuíram para a destruição de empregos e empresas. E quantas seriam as micro e pequenas empresas e empregos que poderiam ser apoiados com 4 mil milhões de euros, estes irremediavelmente e desnecessariamente perdidos? E este é só um exemplo, pois infelizmente há muitos mais milhões perdidos, num país que parece só estar bem quando próximo da bancarrota.
Voltando à mal-amada “Burguesia do Teletrabalho”, ela é constituída exatamente por quem? Pelos pequenos e médios empresários que, se ainda não perderam a sua remuneração, veem-se a esgotar poupanças de uma vida de trabalho árduo, e não dormem a pensar que podem vir a ter de despedir trabalhadores ou mesmo a perder as suas empresas? Ou falamos de trabalhadores que, desesperados, dão o seu melhor a tentar equilibrar obrigações profissionais com o cuidar de filhos em aulas online, muitas vezes em residências sem condições e assustados pela possibilidade de perder o emprego? Ou de trabalhadores enviados para casa sem condições para trabalhar, apesar de o quererem fazer? Ou será dos que tendo condições não querem trabalhar e, como ninguém lhes exige que o façam, passam os dias a colocar “arco-íris” nas redes sociais e a denunciar vizinhos que se atrevem – crime de lesa pátria – a sair à rua para apanhar ar? É que mesmo em relação a estes, a falta de vergonha não se resolve com impostos discricionários.
É por demais cansativo que em Portugal a solução para os problemas seja quase sempre o problema em si, mais e mais Estado, destruição contínua da capacidade e mesmo da vontade dos cidadãos em lutarem por um futuro melhor, resultado do seu trabalho, competências e capacidades, e do seu mérito. Isto num país onde da boca de tanta gente bem intencionada saem palavras bonitas, como tolerância, igualdade, fraternidade, empreendedorismo e inovação, entre tantas outras, ao mesmo tempo que se torna cada vez mais extractivo, e sufocante para quem apenas quer viver em liberdade numa sociedade inclusiva e garante de igualdade de oportunidades (não de resultados). E onde cada um possa usufrui do fruto do seu trabalho, sem que a cada esquina apareça alguém a querer tirar-lhe o que é legitimamente seu e da sua família.
Em pleno século XXI isto já não devia ser assunto, mas infelizmente é-o cada vez mais!
Os portugueses que ainda acreditam em si e no direito a lutarem pela felicidade, sua e da família, e em usufruírem do fruto do seu esforço, têm de levantar a voz! Caso não o façam, para além de tantas vezes maltratados, um dia acordam e percebem que pouco ou nada possuem!
Nota: Este artigo segue a antiga ortografia por vontade expressa do seu autor.