Opinião

CEO robot & The robot enterprise…

Jorge Delgado, CEO Grupo Compta

Será que ainda sou do tempo em que o maior ativo das empresas são as pessoas?

Não necessitamos de estar muito atentos para rapidamente compreendermos a importânca que as questões relacionadas com a Inteligência Artificial, e outras transformações tecnológicas de relevo, ocupam na ordem do dia. Estes aspetos refletem-se do ponto de vista do debate e na prioridade com que cada vez mais as instituições e organizações olham para estes temas.

No Global CIO Survey 2018 da Deloitte, a Inteligência Artificial, o Machine Learning, a IoT (Internet of Things) e o RPA (Robotic Process Automation) aparecem no topo da lista de preferência das tecnologias emergentes da grande maioria dos CIO globalmente consultados. A esta distância parece assim inevitável que estas tecnologias se massifiquem e cada vez mais se tornem acessíveis, criando um “mar” de oportunidades, mas também de potenciais ameaças.

Estamos a abrir caminho para a já falada singularidade tecnológica, teoria segundo a qual as máquinas entram num processo de autoaperfeiçoamento repetitivo, resultando num estado em que superam toda a inteligência humana. Encontrando-nos ainda um pouco longe dessa realidade, interessa refletir seriamente sobre os passos que estamos a dar e o caminho que estamos a traçar para a nossa sociedade.

Um estudo do Fórum Económico Mundial (WEF) intitulado “O Futuro dos Empregos 2018” dá conta de que as máquinas e os algoritmos no local de trabalho podem vir a criar 133 milhões de novos postos de trabalho, causando a perda de 75 milhões de empregos a serem deslocados até 2022. De acordo com o mesmo estudo, o crescimento da inteligência artificial vai criar 58 milhões de novos postos de trabalho nos próximos anos.

Vista a questão desta forma, estamos perante um saldo positivo, e ao que parece a empresa e a gestão robot estão ao virar da “esquina”. O que não me parece ainda claro é como vamos preparar a nossa sociedade para este novo paradigma, como vamos estabelecer estas linhas de colaboração entre “homem” e “máquina”. Se em alguns casos, por exemplo na indústria automóvel, existem já métodos de produção colaborativa e processos de divisão de trabalho entre ambos, no que toca a outras indústrias e serviços ainda existe um longo caminho a percorrer.

Essa viagem rumo a este admirável mundo novo já começou sendo que o bilhete de entrada são as competências. E é aqui que reside a questão central! Temos de preparar os mais jovens para esta realidade, embora não nos possamos esquecer que esta profunda transformação social tem impactos multigeracionais e que, a prazo, afetarão de forma significativa também as atuais gerações ativas em termos de mercado de trabalho.

Torna-se crucial a criação de uma estratégia de aquisição de competências ao longo da vida que nos valorizem, e caso necessário reorientem competências para uma inclusão efetiva de todos nesta transformação em curso. Caso isso não aconteça, corremos o risco de vermos delegadas mais funções e de termos muitos “atores secundários” num filme que pode ser dirigido criando uma história que não seja a da nossa melhor vontade.

O CEO robot & The robot enterprise podem ainda ser figuras de ficção, mas certamente teremos melhores empresas, melhores recursos e melhores gestores se tivermos melhores competências. Só assim podemos criar espaço para continuarmos a afirmarmo-nos a peça central desta transformação, o maior ativo para uma Sociedade Digital inclusiva onde se opte para entrar e onde não nos seja vedada a entrada.

Na certeza de que, no futuro, as pessoas para continuarem a ser os melhores ativos das empresas terão de fazer a diferença pelo humanismo, pelo constante enriquecimento e valorização das suas competências e pela criatividade.

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O percurso profissional de Jorge Martins Delgado esteve sempre ligado à indústria das Tecnologias de Informação e Comunicação, universo onde consolida a carreira desde 1982. Presidente da comissão executiva da COMPTA até meados de 2019, Jorge Martins Delgado exerceu funções de gestão, direção e administração em organizações como a Holding Servicios (Portugal), o Grupo SolS & Solsuni, a Vortal ou a Gerco (Grupo Mota-Engil). O processo de internacionalização do Grupo SolS & SolSuni, que teve oportunidade de liderar através de operações na Europa (Espanha e Polónia), em África (Angola) e na América Latina (Argentina), constitui-se como outro dos marcos da sua extensa trajetória no mundo das TIC. Exigente, competitivo e ambicioso, avesso à perpétua resistência à mudança e adepto de um modelo de liderança sustentado no mérito, ocupa as suas muito poucas horas vagas na gestão do Clube Recreativo Leões de Porto Salvo. Uma instituição desportiva de Utilidade Pública, do concelho de Oeiras, que lhe permite estar socialmente ativo, trabalhar em prol da comunidade e fomentar o conceito de payback à sociedade.

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