Opinião

CARTA DE APRESENTAÇÃO: Envie 3 marcos positivos da carreira e não se esqueça de outros 3 negativos p.f.

Ricardo Tomé, diretor-coordenador da Media Capital Digital

Aborda-se este tema de forma entusiasta em conversa, mas já quanto à prática estamos ainda muito longe. Falar dos erros é ainda tido como reflexo de fragilidade, debilidade e fator dissuasor. Numa palavra: risco. De perder a oportunidade. De parecermos menos competentes. Menos fortes. Irregulares. E, portanto, o que vamos vendo são perfis imaculados, polidos, redondos, falsamente perfeitos.

Vemos um novo colega a chegar à empresa e recebemos o email. PhD disto. Diretor daquilo. Coordenador daqueloutro. Tudo é um micro resumo de momentos de sucesso. No LinkedIn, idem. Dei por mim a olhar para o meu perfil e a pensar que eu era mais um. Só marcos eufóricos do que fiz bem e me pode orgulhar (e bem), mas sem referências do que me fez chegar a esses marcos, das aprendizagens muitas delas por tentativa e erro. Resolvi mexer. Editei com um artigo onde anotei alguns projetos que não correram tão bem e com os quais aprendi: “walk the talk”.

Na partilha, desafiei a partilharem comigo algumas das lições de vida que tornaram cada um um melhor profissional. 1000 pessoas alcançadas com o post. Umas duas dezenas de Likes e apenas um comentário de uma audaz seguidora que o fez (bem haja!).

Olhei para o dia a dia de networking no trabalho em retrospectiva. E em particular aos meus mentores. E não foi para mim lembrar o embaraço de um com quem as apresentações incluíam várias vezes frases começadas por “eu…(fiz, consegui, criei…) de outros que optavam por postura mais discreta. Mas aquele que mais me surpreendeu pela vívida memória foi um que se apresentava exatamente desta forma franca, incluindo os bons e os maus momentos, etapas do seu percurso que tinham sido boas e más e incluindo as pessoas com quem gostou de trabalhar e com quem não gostou, nomeando-as com educação e cordialidade.

Lidamos um pouco amargamente com os insucessos. Há sempre o medo e a tentação da cosmética. O correu mal diz-se que correu menos bem. O insucesso foi afinal de contas uma questão de timing, estávamos era muito à frente do tempo! O estou errado passa a estávamos todos errados. O flop inoportuno foi por culpa de falta de tempo que nos deram e de poucos recursos, porque se fossem muitos estava hoje tudo maravilhoso. Por aí…

Deveríamos estimular mais a partilha das falhas, dos erros, dos insucessos, até porque essa partilha estimula (quero crer) alguma maior franqueza e um relato de memória menos falível (são projetos/experiências que nos marcam mais e retemos mais vividamente, repensando vezes e vezes no que correu mal até encontrarmos as pontas soltas para não as repetir, ao invés dos sucessos que com o tempo a memória vai simplificando e atraiçoando com protagonistas e factos por vezes meio adulterados).

Se todos formos tornando natural esta partilha, esvai-se a vergonha e o medo e todos ganhamos ao poder aprender uns com os outros e evitando repisar onde outros já caíram.

E para além disso, é uma chatice ouvir alguém só falar do que é bom, bonito e de sucesso.

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Ricardo Tomé

Ricardo Tomé

Ricardo Tomé é Diretor-Coordenador da Media Capital Digital, empresa do grupo que gere a estratégia e operação interativa para as várias marcas – TVI, TVI24, IOL, MaisFutebol, AutoPortal, etc. – com foco especial na área mobile (Rising Star, MasterChef, SecretStory) e Over-The-Top (TVI Player), bem como ativação de conteúdos multiscreen em todas as plataformas e realizando igualmente a ponte com o grupo PRISA nas várias parcerias: Google & YouTube, Facebook, Twitter, Endemol, Shine, entre outras. Foi, até 2013, coordenador da... Ler Mais..

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