Entrevista/ “O caminho de estudar o ambiente não terminou quando decidi ser marketeer”

Dedicou grande parte da sua carreira a estudar o ambiente, mas hoje Fábio Chaves, de 32 anos, estuda sobretudo pessoas, na Unilever. Um novo rumo na sua carreira profissional impulsionado pelo The Magellan MBA, da Porto Business School.
Quis estudar Biologia Marinha, em Inglaterra, mas acabou por adiar o sonho para estudar Engenharia do Ambiente, em Coimbra. Rumou a Itália, primeiro para um programa de mobilidade Erasmus, durante o qual desenvolveu um projeto em geotermia – que viria a implementar na sua cidade Natal, em Chaves – e mais tarde, no programa de estágios Leonardo Da Vinci para fazer parte de um projeto de construção de uma ponte que ligaria a Calábria à Sicília, pelo Estreito de Messina. Seguiram-se outros, mas continuava a não ser suficiente.
O engenheiro de formação procurou no The Magellan MBA da Porto Business School (PBS) um novo desafio intelectual que permitisse dar outro rumo à carreira profissional.
Atualmente é Brand Developer da marca Knorr, em Londres, e sente-se realizado, já que estar a fazer o que mais gosta, a estudar comportamentos e pessoas, “numa das poucas empresas que fez da sua principal missão mitigar o impacto dos seus produtos no meio ambiente”.
Qual foi o “click” que o fez mudar de rumo profissional? Deixar a engenharia do ambiente e entrar no mundo das marcas?
Não foi apenas um só click, foram essencialmente dois. Lembro-me de estar na minha última experiência no Hospital de Braga e de ter algo parecido como uma epifania. Se estava a conseguir fazer tanto com tão poucos recursos, de certeza que, com mais recursos ou tendo um papel mais determinante na mudança de comportamentos, os resultados seriam ainda mais positivos. Até porque estava a influenciar a qualidade de vida muitas pessoas. Esse foi o primeiro click: tenho de renovar o meu “skill set” e integrar essas “skills”, primeiro, naquilo que já fazia bem, mas que ainda podia ser melhorado; e, segundo, dotar-me de novas “skills” que permitiriam dar solução a alguns problemas existentes, e como percebi mais tarde, durante o MBA, ser mais assertivo ao lidar com futuros problemas.
A decisão recaiu em realizar um MBA, pois pareceu-me a melhor opção “value & time for money”. E aí acontece o segundo click. Durante o MBA, percebi que o Marketing era a escolha ideal. Era uma área capaz de me garantir um papel mais determinante, porque controlava mais variáveis e me permitia obter resultados mais satisfatórios. Como, devem imaginar, como engenheiro, por muita prevenção que acontecesse ter um acidente no local de trabalho era um resultado quase certo. Mas o Marketing, por outro lado, oferece uma influência mais preponderante, já que é suposto ter-se sempre “real-time info” do nosso “target”, onde estão, onde vão e porque vão usufruir de um determinado produto/serviço. A vantagem parecia óbvia, ter acesso a toda cadeia de eventos, o que permitiria alocar de maneira mais eficiente os recursos disponíveis, e ser mais eficaz.
E como “cherry on top”, ao contrário do que muita gente pensa, o Marketing é um ramo da Economia aplicada, logo, era o perfeito “match” entre a minha criatividade e a minha veia analítica, ganha como engenheiro. O que tornaria a mudança de área mais sustentada e não tão radical. Além disso, dotar-me-ia de uma visão holística de como um negócio pode e deve ser bem gerido, incluindo ferramentas para criar o meu próprio negócio.
Quais os desafios a que esta formação o obrigou a enfrentar, já que vinha de uma área de ciências?
O maior desafio, somos sempre nós mesmos. Tal como tudo na vida, sempre existirão muitos “fantasmas” que nos momentos mais exigentes irão colocar-nos à prova. Mesmo considerando o facto de termos sido nós mesmos a decidir fazer o MBA, ou seja, ter tido a coragem de abdicar da nossa zona de conforto, e mesmo quando toda a gente no nosso círculo íntimo parece não compreender o ‘porquê’. Mas na minha opinião, esse ‘porquê’ deve ser respondido exclusivamente por nós, e foi a ele que me agarrei até à última cadeira.
Depois existem desafios mais pequenos, nomeadamente, descobrirmo-nos a nós mesmos e adaptarmo-nos a uma nova realidade do “eu”. E que antes de ficarmos demasiado confortáveis, percebermos que estamos a trabalhar em grupo, a uma velocidade vertiginosa, e que talvez esse novo “eu” tem de ser simbioticamente e rapidamente integrado com outras pessoas, que podem ou não partilhar/ter a capacidade de assimilar as constantes mudanças de foco e realidade.
E, por último, perceber que o MBA não tem o mesmo formato da Universidade, é muito mais “hands-on” e muito mais competitivo. Primeiro, devido ao sistema de atribuição de notas, não absoluto. Segundo, porque não atingindo os mínimos é-se excluído do MBA.
Que inputs trouxe para a sua nova vida profissional?
Costumo dizer que “hard skills it’s a nice thing to have, but soft skills it’s an essential one”. Obviamente, que o MBA dotou-me de ferramentas analíticas que me são muito úteis no dia a dia, mas se eu não conseguir comunicar os meus resultados ou a minha análise de modo a que outras pessoas compreendam (soft skills), de que me serve? No meu caso, é ainda mais essencial, visto estar no Marketing onde tudo se comunica. Se a mensagem não é ouvida ou entendida pelo meu “target” terei um sério problema entre mãos, e daqueles que ninguém gosta de resolver. Eu diria que esse é o principal input a retirar desta minha intensa experiência, o saber analisar, processar e comunicar a informação de uma forma assertiva, e, no meu caso, garantir que esta seja sempre relevante.
E que ensinamentos trouxe da sua “vida” de engenheiro do ambiente para o cargo de Brand Developer que ocupa agora em Londres?
Sem dúvida, procurar sempre “The Elegant Solution” para a resolução de problemas, como aprendi quando era engenheiro. Uma das maiores lições que guardo, no que toca ao modo de resolução de problemas, é que muitas vezes a solução é conseguida mais através de um pensamento “inside of the box” do que um “outside of the box”. Quero com isto dizer que não é a quantidade de recursos que influenciam o resultado, mas é a nossa capacidade de olhar para os recursos disponíveis e perceber que existe suficiente qualidade para elevar os níveis de eficiência e atingir os níveis de eficácia desejados, e às vezes melhores que os esperados. Contudo, esta última aprendizagem, jamais aconteceria sem ter frequentado o MBA, já que me garantiu uma visão muito mais holística para desconstruir e resolver um problema. E de forma mais assertiva.
Atualmente, e depois de estudar o ambiente, lida com pessoas, estuda pessoas… como tem sido esse desafio profissional?
Não podia estar mais realizado. No entanto, nunca parei de lidar ou estudar pessoas. Acho que agora a diferença é que me divirto a fazê-lo, e talvez também porque o resultado, seja ele qual for, não acaba de forma penosa para nenhuma das partes, não me preocupo tanto. Agora, reconheço que estudar pessoas pode ser frustrante algumas vezes, mas também é isso que me faz ter o foco necessário para tornar a minha criatividade ‘selvagem’.
Para além disso, o meu caminho de estudar o ambiente, não terminou quando decidi ser “marketeer”. Ter a oportunidade de trabalhar numa das poucas empresas que fez da sua principal missão mitigar o impacto dos seus produtos no meio ambiente, é, indubitavelmente, algo com que eu me identifico e me orgulho de fazer parte. Como engenheiro do ambiente que fui, tenho a noção que não podemos impedir o progresso, a evolução, e que isso será muitas vezes interpretado de forma pouco positiva, porque, efetivamente, na maioria dos casos é feito de forma pouco ou nada sustentável. Ao contrário do que acontece na Unilever que, desde o momento que assumimos um projeto, temos que colocar o ambiente em primeiro lugar. A nossa missão torna-se clara: educar desde os nossos fornecedores até aos nossos consumidores para que estes mitiguem o seu impacto no ambiente. Afinal, a primeira mudança deve sempre começar em nós.
Como definiria seu percurso profissional até chegar aqui? Quais as experiências mais impactantes e as que mais definiram o seu perfil profissional até chegar às atuais funções?
Necessário! A nossa experiência é redefinida todos os dias, desde que nascemos, e transformada em conhecimento adquirido em como lidamos e ultrapassámos todos os obstáculos que vão aparecendo. Por isso, não é estática. É mutável. E nunca regride, por isso cabe-nos saber como utilizar este conhecimento da melhor forma possível. Eu prefiro olhar para tudo que tem vindo acontecer-me, não pelo tamanho do seu impacto mas pelo imenso sentido. É por isso, que considero o meu percurso necessário e prefiro considerar todas as experiências, por muito pequenas que tenham sido. Provavelmente, sem engenharia não tinha desenvolvido a parte analítica, não teria ido de ERASMUS para Itália, aprendido, pessoalmente ou profissionalmente, com todas as pessoas com que me cruzei…, e que me moldaram como pessoa.
É verdade que é no Marketing que hoje em dia me sinto mais realizado, mas talvez porque é uma área muito mais vasta que a engenharia.Mas não é garantia de que amanhã não abrace outro projeto noutra área distinta.