Opinião

Os vizinhos da China e a liderança mundial da IA

Pedro Celeste, diretor-geral da PC&A

Apesar da China se constituir hoje como a segunda maior potência económica mundial, afirmando-se nos mais variados domínios setoriais, não só pela sua capacidade de produção, de financiamento, mas também de inovação, com a introdução de um significativo número de marcas que são bem-sucedidas à escala mundial, as notícias sobre projeções futuras não são tão animadoras.

Segundo o FMI, a economia chinesa deverá crescer 5% em 2024, num momento em que gere uma crise imobiliária e respetivos efeitos em cascata sobre investidores, consumidores e empresas. Nesse contexto, prevê-se que o crescimento baixe para 3,3% até 2029, não só devido a um crescimento mais parco da produtividade, mas acima de tudo pelo envelhecimento da população. Já agora, não esqueçamos que a Índia, país vizinho, cresce a olhos vistos em termos de PIB (8,2%), a par de já representar o país mais populoso do mundo.

Este retrato suscita da parte da China a necessidade de defender a sua posição competitiva em setores considerados verdadeiramente estratégicos, como é o caso da inteligência artificial. O sucesso da NVidia, empresa taiwanesa e também sua vizinha, com o desenvolvimento dos chips que abastecem as grandes marcas globais na lógica da atividade da inteligência artificial, constitui um mau prenúncio para a economia chinesa, por duas ordens de razão:

  • o grau de penetração das soluções da NVidia no mercado chinês aumentou meteoricamente, porque abastecem algumas das suas empresas mais relevantes (Bytedance, que detém o TikTok e a Tencent, uma das empresas mais lucrativas do mundo);
  • o desempenho superior da NVidia face às alternativas internas, como a Yangtze.

Assim, duas das maiores fabricantes de chips para inteligência artificial da China (Shanghai Enflame Technology e Shanghai Biren Intelligent Technology) ganharão protagonismo nos próximos tempos, uma vez que personalizarão o bloco forte das empresas locais nesta guerra pelo futuro.

Não é por acaso que vemos o índice Nasdaq e as grandes tecnológicas atingir a sua valorização mais alta em bolsa nos últimos meses. O crescimento de soluções comerciais de inteligência artificial justifica uma cada vez maior competitividade no preço, aliado à sua maior acessibilidade, performance e aumento da eficácia.

É também nesse sentido, que soluções alternativas podem vir a lutar pelo protagonismo e liderança mundial, a curto prazo. A Palantir, que quintuplicou a sua valorização no último ano é um desses grandes protagonistas. Basta consultar a sua página online para lermos artigos que a colocam como a número um na área da inteligência artificial, data science e machine learning. A grande questão é que a Palantir é norte-americana e especializada em serviços tecnológicos relacionados com o governo dos EUA.

É, pois, muito provável, que encontremos aqui um dos próximos confrontos Oriente- Ocidente pelo poder económico e tecnológico a nível mundial, sendo certo que o tema da segurança dos utilizadores será determinante para o êxito.

É exatamente por causa destes desenvolvimentos que a inteligência artificial muito rapidamente deixará ser um tema exclusivamente económico e tecnológico, para se constituir como uma verdadeira arma política. Disso não tratará este artigo nem nenhum da minha autoria.

Basta estar atento aos últimos discursos de Elon Musk para se compreender a interseção dos temas.

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Pedro Celeste

Pedro Celeste

Doutorado em Gestão pela Universidade Complutense de Madrid. Diplomado pelo INSEAD, London Business School, Wharton School, University of Virginia, MIT Management Sloan Management School, Harvard Business School, Imperial College of London, Kellogg School of Management de Chicago e IESE Business School. Na Católica Lisbon School of Business & Economics é Diretor Académico dos Executive Master in Management e coordenador do Programa Avançado de Marketing para Executivos, do Programa de Gestão Comercial e Vendas, do Programa de Gestão em Marketing Digital... Ler Mais..

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