Até que ponto o tédio no trabalho pode ser benéfico?

O local de trabalho não deve rimar com tédio, mas um estudo recente revela que o desinteresse numa tarefa pode estimular o colaborador a procurar inovação.

Motivação, empenho, entusiasmo são os termos mais frequentemente associados ao mundo do trabalho, contrariamente à palavra tédio que se espera que não exista. No entanto, o aborrecimento pode e acontece de facto em qualquer trabalho e função desde o assistir a uma conferência desinteressante, a lidar com formulários e documentação para finalizar um projeto, ou passar horas de espera entre viagens de trabalho.

Todavia um estudo da Australian National University’s School of Management, publicado recentemente na revista Academy of Management Discoveries, sugere que estar desinteressado numa tarefa pode ter aspectos positivos como levar o colaborador a procurar uma novidade na próxima tarefa. Para algumas personalidades, isso leva mesmo a uma criatividade aprimorada.

Inovadores nascidos do tédio
Pode parecer paradoxal, mas os investigadores do estudo concluíram que o tédio desperta a originalidade. Descobriram que ficar entediado levou as pessoas a produzir mais ideias, quando comparado com um grupo que não estava entediado. No entanto, após uma análise mais detalhada à personalidade os intervenientes n estudo, os cientistas determinaram que as ideias mais criativas provinham de pessoas muito abertas à experiência, orientadas para objetivos de aprendizagem em vez de objetivos de desempenho, tinham uma alta necessidade de conhecimento e provavelmente acreditavam que eles próprios controlavam o seu sucesso, em vez de sorte ou outras forças.

No caso dos indivíduos com estas características de personalidade, o tédio levou-os a explorar soluções alternativas para os problemas ou a desafiar o estabelecido. Sem a capacidade inata de sentir o tédio, os seres humanos não seriam compelidos a sair da sua zona de conforto e procurar circunstâncias diferentes, preferencialmente melhores. Sem esse incentivo, seriam menos adaptáveis às mudanças pela sobrevivência. Esta ideia vai ao encontro da opinião de outros especialistas, que, por exemplo, referem a importância das crianças se entediarem para que possam desenvolver o “estímulo interno” necessário para serem verdadeiramente criativas. No entanto, o estudo desenvolvido pela Australian National University’s School of Management  não determina se os níveis de interesse no assunto funcionam em conjunto com o tédio para gerar criatividade.

O lado obscuro do tédio
Mas nem tudo é positivo no tédio. Para ser positivo e usado como ferramenta potencial para a motivação, deve  ser moderado. Em excesso pode levar a comportamentos violentos e para algumas pessoas, até mesmo um curto período de tédio pode ser intolerável. Se excessivo, o tédio pode levar à depressão e à angústia.

Como usar a indiferença em proveito da inovação
Antes de tentar “usar” o tédio é importante conhecer-se. Será que a calmaria e a oportunidade de sonhar acordado levarão a um pensamento mais expansivo e grandioso? Ou será que pelo caráter do indivíduo a motivação para fazer qualquer trabalho vai desaparecer completamente. Para os empregadores, os autores do estudo propõem uma aplicação curiosa, ao sugerir “equipar as empresas com tigelas de grãos coloridos e pedir às equipas para os separar”, pois foi esta uma das tarefas entediantes do estudo que promoveram a criatividade no grupo em análise.

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