Entrevista/ “As empresas que se querem manter relevantes deverão aplicar políticas de sustentabilidade e governance”

Inês Sequeira Mendes, managing partner da Abreu Advogados

Mudanças no mundo laboral, digitalização da economia, cibersegurança e liderança no feminino são alguns dos temas abordados por Inês Sequeira Mendes em entrevista ao Link To Leaders. A nova managing partner da Abreu Advogados fala ainda de igualdade de género em cargos de liderança.

Inês Sequeira Mendes vai liderar os próximos quatro anos da Abreu Advogados, tornando-se, assim, a segunda mulher a chefiar esta sociedade de advogados, um desafio que abraça com “uma enorme responsabilidade e confiança”, confidenciou em entrevista ao Link To Leaders. Defensora de que os advogados e as sociedades de advogados devem acompanhar e antecipar as mudanças do mundo atual, a managing partner da Abreu Advogados lembra que a digitalização da economia ou a inteligência artificial são desafios transversais a todas as áreas e setores e que irão afetar não apenas o modo como o mundo laboral se vai organizar, mas a própria vida em sociedade.

Para esta profissional, as empresas que se querem manter relevantes deverão, cada vez mais, aplicar políticas de sustentabilidade e governance. Na sua opinião, este é um tema transversal a toda a sociedade e que deve ser cada vez mais uma prioridade estratégica de todas as empresas que queiram ser mais inovadoras e competitivas, independentemente da sua dimensão.

Inês Sequeira Mendes acredita que “a melhor liderança é aquela que se faz pelo exemplo e que assenta no propósito de dar aos outros a possibilidade de crescerem profissionalmente e de darem o melhor de si nesse contexto”.  A quem entra neste universo profissional, lembra que “uma característica importante para singrar no meio profissional é a capacidade de adaptação e de encontrar soluções para as adversidades. Tudo isto, reforça, “conjugado, naturalmente, com uma grande capacidade de trabalho”.

Como encara esta nomeação enquanto managing partner da Abreu Advogados?
Com uma enorme responsabilidade, mas também com um grande sentimento de orgulho pela confiança que os sócios da Abreu Advogados depositaram em mim e no meu trabalho. Integrei a Comissão Executiva do escritório no mandato de 2017/2018 a convite do nosso anterior managing partner, Duarte de Athayde, que me lançou o desafio de liderar a reformulação das nossas áreas de prática, setores de atividade e desks internacionais.
Continuei, depois, no mandato seguinte, e no total foram quatro anos muito desafiantes que graças a uma excelente liderança e a uma equipa de grande qualidade, tanto de advogados como nas várias áreas de apoio, produziram excelentes resultados. Na verdade, acabei por me envolver bastante mais na gestão do escritório do que inicialmente contava pelo que este sinal de confiança dos meus colegas ao nomearem-me managing partner é o reconhecimento do bom trabalho que tem sido feito e deixa-me muito satisfeita.

Quais os seus principais objetivos no mandato que agora inicia?
Em primeiro lugar pretendo dar continuidade ao percurso de crescimento sustentado e de reconhecimento que a Abreu Advogados tem vindo a trilhar e de afirmação, cada vez mais, como uma das principais sociedades de advogados independentes em Portugal. Sabemos que somos já um player incontornável nos mercados nacional e internacional, mas ainda temos espaço para continuar a inovar e a crescer, e é isso que pretendemos fazer, até porque dispomos das competências técnicas e humanas necessárias para cumprir esse objetivo.

Depois, é importante não nos desviarmos daquela que é a nossa cultura e propósito na Abreu Advogados. Desde o seu nascimento que a Abreu é um projeto humanista que extravasa a mera prestação de serviços jurídicos e é nesse código genético, e a partir dele, que continuaremos a desenvolver o nosso trabalho, com a transparência, rigor e excelência a que, desde sempre, habituámos os nossos parceiros e clientes.

E quais os principais desafios que terá pela frente neste novo contexto?
O contexto de pandemia que vivemos há mais de um ano é de facto totalmente novo e desafiante, desde logo pela mudança acelerada de paradigmas que têm impactos profundos na vida social e económica e pelas incertezas decorrentes de um período particularmente conturbado e imprevisível à escala global. O principal desafio passa pela capacidade de adaptação a este novo contexto, algo que a Abreu Advogados tem conseguido, com um foco muito claro nos nossos clientes e nas melhores formas de os ajudar a ultrapassar os desafios que surgem, na qualidade dos serviços que prestamos e na aposta no talento das equipas.

Este novo contexto implica também uma maior capacidade de antecipação das soluções técnicas que os nossos clientes vão necessitar em conjunturas cada vez mais complexas quer a nível legal, quer no plano socioeconómico, sendo que esta perspetiva está intrinsecamente relacionada com a emergência da transformação digital das organizações e a enorme exigência de atualização e adaptação pessoal e organizacional que implica. Para isso, e num momento tão exigente, teremos de ter equipas altamente motivadas, coesas e focadas num objetivo comum. Felizmente, a Abreu Advogados tem um grupo de profissionais que são inexcedíveis no trabalho que desempenham diariamente e que têm vindo a ultrapassar os vários desafios que aparecem pela frente.

Como avalia o desempenho da sociedade de advogados num ano particularmente conturbado como o de 2020?
Tal como qualquer outra organização sentimos o impacto da pandemia e tivemos de nos adaptar às novas formas de trabalhar e de interagir com os nossos clientes, no entanto estávamos preparados para isso e o processo de adaptação foi rápido, mas rigoroso. Mantivemos ao longo de 2020 o foco nos nossos clientes e nas suas necessidades num período tão especial como o que vivemos e tivemos um aumento de 12% na faturação face a 2019, o que nos indica que a estratégia aplicada produziu resultados.

A combinação de flexibilidade e competência revelou-se essencial para assegurarmos a ligação e proximidade com os nossos clientes e ajudá-los a ultrapassar os desafios que esta pandemia trouxe, que se traduziu neste aumento de faturação que, naturalmente, nos alegra e nos motiva para o período complexo que ainda teremos pela frente. Apesar das dificuldades, é bom saber que os nossos clientes contam connosco e com a nossa capacidade de resposta personalizada e rigorosa para os acompanhar nestas alturas.

(…) as mudanças que estão a ser preparadas na legislação laboral são prova de uma tendência crescente para a flexibilização dos horários e local de trabalho dos colaboradores (…)”.

Que mudanças vieram para ficar e que outras consegue antecipar no seu setor?
A forma como trabalhamos é, ao que tudo indica, uma mudança que veio para ficar, mesmo após o período pandémico. As mudanças que estão a ser preparadas na legislação laboral são prova de uma tendência crescente para a flexibilização dos horários e local de trabalho dos colaboradores e de uma mudança na rotina laboral, nos vários setores em que o tipo de trabalho não obrigue a uma presença física. É algo a que as organizações se têm vindo a adaptar e que, com o suporte legislativo que está a ser preparado, se vai aprofundar.

Depois há várias áreas que terão, provavelmente, um maior crescimento ao longo dos próximos anos no setor da advocacia, mas não só: o ESG, que já é fundamental, mas vai continuar a crescer. As empresas que se querem manter relevantes deverão, cada vez mais, aplicar políticas de sustentabilidade e governance. É um tema transversal a toda a sociedade e deve ser cada vez mais uma prioridade estratégica de todas as empresas que queiram ser mais inovadoras e competitivas, independentemente da sua dimensão. Com a provável reformulação do tecido empresarial português provocada pela pandemia poderá assistir-se a uma crescimento das áreas de Reestruturação, Insolvência e Fusões e Aquisições.

Com o crescimento da digitalização e da transformação tecnológica, a cibersegurança vai assumir cada vez mais um papel de destaque, de forma a manter as redes seguras e garantir que os sistemas e os dados se mantêm protegidos contra ameaças cibernéticas. Por fim, a área das infraestruturas, que irá beneficiar de uma importante fatia do Plano de Recuperação e Resiliência e que, por isso, terá nos próximos anos uma dinâmica muito relevante com várias oportunidades de negócio e de investimento.

“A digitalização da economia ou a inteligência artificial são desafios transversais a todas as áreas e setores (…)”.

Na era da inteligência artificial, qual deve ser a posição dos advogados e das próprias sociedades a este fenómeno?
Os advogados e as sociedades de advogados devem acompanhar e antecipar as mudanças do mundo atual e esse tem sido sempre o foco da Abreu Advogados. Esta capacidade de adaptação a um mundo, cada vez mais, em constante mudança é uma premissa essencial para podermos crescer nos tempos que correm. A digitalização da economia ou a inteligência artificial são desafios transversais a todas as áreas e setores e que irão afetar não apenas o modo como o mundo laboral se vai organizar, mas a nossa própria vida em sociedade.  A economia está cada vez mais interligada e sujeita à digitalização ou robotização e, por isso, assistimos neste momento a uma nova era, a digital, que terá certamente impactos profundos na maneira como nos relacionamos.

As sociedades de advogados não podem alhear-se destas realidades e devem olhar para elas como uma oportunidade de dinamização do setor e de desenvolvimento do seu negócio. Da nossa parte estamos atentos a estes fenómenos e temos uma presença de liderança nestas matérias: fazemos um investimento significativo na formação tecnológica dos nossos advogados e com a criação de novos serviços inovadores que possam ir ao encontro das necessidades dos clientes; temos uma equipa especialmente dedicada a estas matérias e, além disso, todos os anos organizamos o “Lisbon Law & Tech”, um evento dedicado precisamente à tecnologia.

Em que medida a experiência que acumula a preparou para ser bem-sucedida nessa nova missão?
Acredito que todo o meu percurso profissional me trouxe experiências importantes que, de alguma forma, têm ajudado na minha função atual. Ao longo da minha carreira tive a sorte de estar envolvida em vários projetos desafiantes, com colegas talentosos, que me permitiram alargar horizontes, melhorar a minha capacidade de reação e adaptar-me mais facilmente a novas realidades. Sinto que todas essas experiências me tornaram uma melhor profissional, mais preparada para o cargo e missão que agora assumo.

Durante estes anos aprendi, por exemplo, um princípio de gestão quotidiano que levo para a vida e que passa por não deixar as coisas a meio. Nem perguntas por fazer, nem dúvidas por tirar, nem decisões por tomar. Levo essa atitude muito a sério e estou certa que os nossos clientes sentem essa nossa determinação: asseguramos um serviço que lhes dá as respostas e a segurança que procuram, assente em critérios de qualidade e de exigência.

(…) ainda um longo caminho a percorrer para termos uma maior igualdade de géneros nesta matéria  (…)”.

É segunda mulher a chefiar a sociedade de advogados. O que acha que ainda precisa de ser feito para haver uma maior igualdade de géneros em funções de chefia, no geral, e na área da advocacia, em particular?
O ano passado em Portugal, de acordo com o World Economic Forum, apenas 16% das mulheres assumiam um cargo de direção em empresas. Este número mostra-nos que há ainda um longo caminho a percorrer para termos uma maior igualdade de géneros nesta matéria e que é cada vez mais importante que a sociedade e os decisores políticos e corporativos possam estar alinhados sobre esta temática. No entanto, esta é uma responsabilidade de todos, não apenas das sociedades de advogados ou das empresas. Cada um de nós, enquanto cidadãos, deve fazer a sua parte.

Sou a segunda mulher managing partner da Abreu Advogados, a primeira foi a Carmo Sousa Machado que exerceu seu mandato entre 2004 e 2007, e orgulho-me de dizer que somos uma sociedade de pessoas, cujo sucesso depende intrinsecamente de todos e de cada um, independentemente do género, raça, credo ou qualquer outro fator. Valorizamos a meritocracia, essa é a premissa básica na Abreu Advogados.

Que competências foi desenvolvendo, nas formações e no terreno, que a conduziram à posição que hoje ocupa?
A profissão de advogado é altamente dinâmica e obriga a uma atualização constante, não só sobre a nova legislação, mas sobre as mais recentes tendências de mercado para estarmos preparados a responder às necessidades dos nossos clientes. Essa necessidade constante de procurar aprender e saber mais tem, naturalmente, um impacto importante na posição que hoje ocupo.

Depois, outro aspeto que aprendi ao longo do meu percurso foi que uma liderança consequente deve assentar em cinco grandes planos: capacidade de antecipação, de análise, de adaptação, decisão e comunicação. Acredito que, acima de tudo, a melhor liderança é aquela que se faz pelo exemplo e que assenta no propósito de dar aos outros a possibilidade de crescerem profissionalmente e de darem o melhor de si nesse contexto. Esta é a visão que trago comigo para esta missão e que adquiri ao longo do meu percurso profissional, fruto de projetos nacionais e internacionais e da convivência com os meus pares e para a qual foram muito importantes os anos em que integrei a Comissão Executiva da Sociedade.

(…) é importante haver disponibilidade para aprender, seja com os colegas, em livros ou na internet, e ser audaz, não ter medo de novas realidades e projetos ou de sair da zona de conforto (…)”.

Que conselho deixa a uma jovem executiva que tenha ambição de chegar a cargos de liderança?
No mundo em que vivemos, onde tudo muda tão rapidamente, uma característica importante para singrar no meio profissional é a capacidade de adaptação e de encontrar soluções para as adversidades, tudo isto conjugado, naturalmente, com uma grande capacidade de trabalho. Além disso, é importante haver disponibilidade para aprender, seja com os colegas, em livros ou na internet, e ser audaz, não ter medo de novas realidades e projetos ou de sair da zona de conforto, é isso que nos faz crescer ao longo da carreira. Por fim, e talvez o conselho mais importante é gostar daquilo que se faz porque isso, mais tarde ou mais cedo, fará toda a diferença e é o que nos motiva a dar o melhor de nós.

Como se imagina daqui a cinco anos?
Daqui a cinco anos espero estar na Abreu Advogados, com novos desafios profissionais e a ajudar a Sociedade a crescer cada vez mais e os clientes a ultrapassar os desafios que terão pela frente.

Respostas rápidas:
O maior risco: Não arriscar.
O maior erro: Pensar que conseguimos fazer tudo sozinhos.
A maior lição: Sem diversidade não há evolução.
A maior conquista: A minha família.

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