Ao contrário da maioria dos países europeus, Portugal investiu menos em tecnologia em 2020

Enquanto a Europa aumentou os seus investimentos em tecnologia e bateu recordes, Portugal diminuiu significativamente o capital investido em novas tecnologias. Ainda assim, tem aumentado a percentagem de ofertas de emprego na área da tecnologia, revela o mais recente relatório da Atomico.

A pandemia de COVID-19 acelerou a transformação digital e os dados do mais recente relatório State of European Tech revelam que a indústria tecnológica europeia foi uma das grandes beneficiárias da mudança. No entanto, Portugal sentiu o forte impacto negativo da crise de saúde pública, traduzindo-se numa forte redução do financiamento anual.

De acordo com o relatório publicado pela Atomico, a tecnologia europeia continua a crescer e as previsões apontam para um novo recorde de financiamento privado na ordem dos 34 mil milhões de euros até ao final de 2020. Neste panorama, 18 empresas europeias alcançaram o estatuto de “unicórnio”, ou seja, passaram a ter uma avaliação superior a mil milhões de dólares.

Ao contrário de Portugal, de Espanha e até da Alemanha e Reino Unido, a França, a Suécia, a Finlândia e a Bélgica registaram níveis recorde de financiamento. Os dados demonstram que os investidores institucionais, onde se incluem fundações da Europa e de todo o mundo, estão agora a investir três vezes mais dinheiro na indústria tecnológica europeia do que há cinco anos.

“Estamos a assistir a uma interação crescente na tecnologia europeia entre o capital de risco, o capital privado e os mercados públicos, criando mais oportunidades de M&A [fusões e aquisições], um forte plano de futuros candidatos à IPO [oferta pública inicial] e uma reorientação de talentos experientes para construir novas gerações de empresas. Para acelerar este ciclo virtuoso, a Europa precisa de ver um maior número das suas principais empresas de tecnologia a encontrar caminhos apropriados para a liquidez, de uma forma que beneficie os construtores e os investidores europeus, mantendo o seu talento de classe mundial”, disse Tom Wehmeier, parceiro na Atomico e coautor do relatório.

“Desbloquear e reter mais valor das empresas de tecnologia europeias irá apoiar o crescimento económico da região e, em última análise, assegurar a competitividade do seu ecossistema tecnológico na cena mundial. Já está a acontecer e tenho a convicção de que vamos agora assistir a esta aceleração; os fundadores europeus nunca tiveram uma confiança tão grande na sua capacidade de construir as empresas mais importantes do mundo a partir da Europa”, acrescentou.

O relatório delineia quatro tendências-chave que sustentam o setor tecnológico em Espanha e em Portugal, nomeadamente: a tecnologia europeia tem registado níveis de investimento recorde – incluindo de investidores americanos -, mas o investimento em Espanha e Portugal diminuiu significativamente; há sinais de esperança para os ecossistemas tecnológicos de Espanha e Portugal; o movimento “Black Lives Matter” fez aumentar os baixos números da diversidade étnica da Europa, enquanto o progresso na diversidade de género estagnou e o enfoque dos cidadãos e dos decisores políticos na ação climática acelerou ainda mais o papel deste propósito como diferenciador da tecnologia europeia.

Portugal está a emergir como um forte hub de talentos tecnológicos
Segundo o relatório, 2020 está no bom caminho para estabelecer um novo recorde de 34 mil milhões de dólares (mil milhões de euros) investidos em tecnologia europeia, impulsionados por megarondas.

A Europa tem agora 115 empresas apoiadas por capital de risco avaliadas em mais de 1 mil milhão de euros, contra 46 em 2016. Hopin atingiu o recorde de empresa mais rápida de sempre da Europa a conseguir uma valorização de mil milhões de euros: 17 meses desde a sua fundação.

O valor empresarial total estimado das empresas tecnológicas europeias fundadas após 2000, nos mercados públicos e privados, atingiu quase 803 mil milhões de euros, um aumento 5 vezes superior em relação aos 160 mil milhões de euros em 2016.

A Talkdesk destacou-se como o campeão português, por ter sido uma das 13 empresas europeias apoiadas pelo capital de risco a atingir uma avaliação de 836 mil milhões de euros este ano.

Ainda de acordo com Portugal está a emergir como um forte hub de talentos tecnológicos, com oferta de empregos tecnológicos, medidos por postos de trabalho tecnológicos que aumentaram em 45% – o número mais alto em empresas europeias como a Cloudfare que está a abrir escritórios em Lisboa.

A ação climática afirma-se cada vez mais como um fator diferenciador. O investimento nas start-ups europeias viradas para o clima disparou. Nos últimos cinco anos, mais de 9 mil milhões de euros foram investidos em empresas tecnológicas europeias orientadas para a ação climática e 8 mil milhões de euros em empresas orientadas para a energia limpa e acessível.

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