Opinião
Afiar o machado
Nesta altura do ano são vários os que procuram tirar alguns dias de férias para repor energias. Se num ano normal isso já era extremamente importante, num ano de pandemia isto ainda se torna mais relevante.
Do ponto de vista pessoal, e apesar de profissionalmente as coisas estarem a correr melhor do que nunca, confesso que nunca me senti tão necessitado de parar para descansar – física e psicologicamente. E conheço vários casos de pessoas com diferentes posições que estão exatamente na mesma situação. Toda esta vivência dos últimos 18 meses teve impacto em todos nós de formas que ainda estamos para ver, mas claramente o desgaste a vários níveis é uma das consequências mais imediatas e visíveis. E isso nota-se nas nossas equipas e em nós próprios.
A responsabilidade de gestão de uma equipa traz vários desafios, sendo que o maior de todos é cuidar das nossas pessoas. Se o fizermos bem, conseguiremos ter uma equipa forte e coesa capaz de executar a estratégia por nós definida, enfrentando todos os desafios que possam surgir. Se, por um lado, e como disse o famoso Tio Ben do Homem-Aranha, “com grande poder vem grande responsabilidade”, a verdade é que “com grande responsabilidade vêm grandes preocupações”. Temos de garantir que todo um conjunto de peças se movem da forma correta e em sincronia para que o resultado final seja o que pretendemos.
E por muito que sejamos capazes de atingir com sucesso os nossos objetivos, a verdade é que há sempre um nível de preocupação presente – que será possível de atenuar se tivermos uma boa equipa que nos dê a estrutura que precisamos (como no meu caso), mas que nunca desaparece. O que apesar de ser bom, por um lado, porque nos mantém alerta e no caminho do que pretendemos atingir, tem de ser gerido – a bem da nossa saúde mental.
Escrevi no passado sobre a importância do propósito num jogo que é infinito, onde abordei o conceito de Infinite Game que Simon Sinek apresenta no seu livro com o mesmo nome. Este conceito desafia-nos a olhar para a nossa vida (a vários níveis) como um jogo que não acaba, o que nos ajuda a colocar algumas situações em perspetiva e a perceber que o facto de “o jogo nunca acabar” abre todo um manancial de possibilidades para tudo o que queremos ser e fazer. Nesse livro é partilhada uma história que se aplica, a 100%, a esta altura de férias e ao que abordei nos parágrafos anteriores, que partilho de seguida.
Numa determinada localidade havia dois lenhadores que todos os dias se encontravam, à mesma hora, para cortar lenha. Entravam à mesma hora e saíam à mesma hora, mas no final um deles cortava sempre mais lenha do que o outro, apesar de fazer uma paragem a meio do dia, afastando-se e voltando 1 hora depois. Intrigado, este último aborda o primeiro e pergunta-lhe: “Preciso que me expliques como é que, apesar de termos o mesmo horário de entrada e saída e de trabalhares menos 1 hora do que eu, consegues cortar mais lenha. O que fazes de diferente? E o que fazes nessa hora?”. A resposta do outro foi simples, mas poderosa: “Durante essa hora, vou a minha casa afiar o machado.”
É isto que todos precisamos de fazer, em particular este ano, na altura de férias. Afiar o machado, sem culpa ou receio do que acontecerá, se não estivermos sempre ligados ou disponíveis. O que isto significa, para cada um de nós, pode ser potencialmente diferente, mas é inegável a necessidade de o fazermos, a bem na nossa saúde mental e da relação com todos os que marcam presença na nossa vida: família, amigos, colegas, parceiros de trabalho, entre outros.
Boas férias a todos, voltaremos a cortar lenha juntos em breve!