Entrevista/ “Acreditamos na complementaridade entre público e privado na saúde”

O Lusíadas Saúde – Hospital de Cascais, unidade Parceria Público-Privada (PPP) que em 15 meses conseguiu ganhos de eficiência de 1,5 milhões de euros, recebeu recentemente uma validação que o torna no hospital tecnologicamente mais avançado do país.
O Lusíadas Saúde – Hospital de Cascais é uma unidade de saúde que tem vindo a acumular reconhecimentos. Com a criação do Núcleo de Eficiência, que globalmente e em cerca de 15 meses conseguiu ganhos de eficiência de cerca de 1,5 milhões de euros, tornaram-se vencedores do prémio Kaizen Lean “Excelência no Setor da Saúde”.
A sua recente validação pelo HIMSS Stage 6, fez desta unidade de saúde o hospital tecnologicamente mais avançado do país e trabalha hoje para alcançar o Triple Aim (promovido pelo Institute for Healthcare Improvement).
Falámos com Vasco Antunes Pereira, presidente do conselho de administração do Hospital de Cascais, sobre o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido, bem como sobre o ecossistema empreendedor na área da saúde e a Healthcare City, uma incubadora de projetos na qual participa enquanto uma das entidades fundadoras.
Como asseguram a qualidade dos serviços prestados?
O Hospital de Cascais empenha-se diariamente em proporcionar cuidados de saúde de excelência à população, baseando as práticas diárias na evidência científica e nos mais altos padrões de qualidade e segurança para o utente. Ao longo dos últimos anos, temos revelado um elevado nível da demonstração de qualidade clínica e de resultados em saúde. São evidências disso não só os reconhecimentos externos de entidades certificadoras, como também os resultados ao nível da satisfação dos utentes (8.4 em 10).
O Hospital de Cascais é acreditado desde 2012 pela Joint Commission International, que garante a qualidade dos melhores hospitais do mundo e que reconhece no nosso hospital a qualidade e segurança que sempre imprimimos nos cuidados prestados. É também certificado pela qualidade em conformidade com a ISO 9001, em cinco serviços do hospital: Farmácia, Esterilização, Imunohemoterapia, Anatomia Patológica e Imagiologia. Foi considerado, em 2016, o melhor hospital na sua categoria (C) pelo IASIST, tendo por base a qualidade clínica dos cuidados prestados. Também a recente validação pelo HIMSS Stage 6 faz do Hospital de Cascais o hospital tecnologicamente mais avançado do país, pela promoção do uso de tecnologias e sistemas de informação como parte da estratégia de segurança do utente. Utilizamos a tecnologia não como um fim, porque nunca dispensamos a humanização, mas como um meio para atingir a excelência dos cuidados de saúde prestados no nosso hospital.
Quais as grandes prioridades do Hospital de Cascais?
Num hospital a prioridade é sempre o doente. Desde 2013, altura em que o UnitedHealth Group adquiriu a Lusíadas Saúde, que o Hospital de Cascais tem vindo a reafirmar o seu projeto transversal de melhoria contínua de forma crescente e sólida. Apostamos na eficiência e na tecnologia para a criação de um projeto de saúde de qualidade, diferenciado e que se distingue pela humanização dos cuidados que presta, dando corpo ao lema da Lusíadas Saúde: “Sabemos Cuidar”. Para isso, levamos a cabo várias iniciativas que promovem a melhor experiência do doente, familiares e visitantes no nosso hospital. No entanto, e tal como está espelhado na nossa missão, também procuramos cuidar dos nossos profissionais. Apostamos na formação contínua, pautamos a nossa estratégia de comunicação pela transparência e atualização de informação junto das equipas, envolvemos os colaboradores em novos projetos e desafios, e mais recentemente, criámos o “Comité da Felicidade”, constituído por membros de todas as categorias profissionais e que visa promover o bem-estar e a positividade no ambiente trabalho.
A poupança e a eficiência têm sido uma preocupação recorrente no setor da saúde. O que têm feito para se tornarem eficientes e sustentáveis?
Esse é de facto um dos maiores desafios que uma instituição de saúde enfrenta, sobretudo uma parceria público-privada como é o Hospital de Cascais. Um dos objetivos estratégicos das PPP na saúde foi o de criar ganhos em qualidade e acessibilidade (através de indicadores de performance), com uma redução de custo e risco para o Estado.
Neste sentido, e tendo em conta que ambicionamos alcançar o Triple Aim (promovido pelo Institute for Healthcare Improvement) e que equilibra a melhor experiência de cuidado e a melhor saúde da população a um menor custo, tornou-se vital um foco na eficiência como garantia da sustentabilidade.
Foi este o mote para a criação do Núcleo de Eficiência, que globalmente, e em cerca de 15 meses, desenvolveu cerca de 22 projetos com ganhos de eficiência de cerca de 1,5 milhões de euros. Os impactos destes projetos de eficiência refletem-se na aculturação da equipa para a prossecução da melhoria contínua nas práticas diárias, com a eliminação de desperdícios e racionalização de recursos, otimização e normalização de processos e circuitos, eficácia da comunicação, redução de tempos de espera, entre outros. Foram também estes projetos que contribuíram para sermos considerados o melhor hospital público na nossa categoria – hospitais de média dimensão – fazendo com que eficiência e qualidade clínica caminhem em conjunto.
Estes projetos têm incrementado a agilidade operacional do hospital, o que contribui para a sustentabilidade, melhoria contínua e reinvestimento continuado na operação para uma melhor qualidade e maior equidade no acesso aos cuidados de saúde.
Que desafios trazem a inovação e crescimento das start-ups de healthcare à Lusíadas Saúde?
O grupo Lusíadas Saúde pretende continuar a diferenciar-se pela qualidade dos cuidados de saúde que presta e pela forma inovadora como enfrenta os desafios atuais da área da saúde. Nesse sentido, não só aplaudimos as iniciativas inovadoras que se traduzam numa melhoria global da qualidade de cuidados que são prestados, como vamos mais além e somos uma das entidades fundadoras de uma incubadora de projetos na área da saúde – a Healthcare City – com centenas de projetos apresentados desde a sua criação e várias start-ups provenientes de Portugal, Brasil e Argentina já a trabalhar com a equipa da Healthcare City para lançar os seus negócios no mercado global de saúde.
Como avaliam a intervenção do Estado ao nível da prestação de cuidados de saúde no país?
A subida de seis posições do nosso país no ranking Euro Health Consumer Index diz muito sobre a qualidade do sistema público de saúde em Portugal, que ficou à frente de países como a Inglaterra ou Espanha. Está também provado que a introdução pelo Estado português do modelo PPP nos últimos anos veio contribuir em muito para elevar o standard de prestação de cuidados de saúde e garantir a eficiência do modelo de saúde pública no nosso país.
Já o dissemos noutras ocasiões, acreditamos na complementaridade entre público e privado na área da saúde como uma das formas de promover e assegurar o acesso de todos os cidadãos, garantindo ao Estado ganhos de eficiência e de qualidade no setor público da saúde.
Quais os maiores desafios que enfrentaram nos últimos anos?
Definitivamente a manutenção da excelência dos cuidados de saúde que prestamos. Todos os dias os profissionais do Hospital de Cascais estão envolvidos em ações que visam a melhoria dos cuidados clínicos, muitas delas com vista a auditorias por entidades nacionais ou internacionais que asseguram a qualidade daquilo que fazemos. Ser acreditado pela Joint Commission International, ser o melhor hospital público na sua categoria, ser o hospital mais evoluído tecnologicamente só se consegue porque os nossos colaboradores, de todas as categorias profissionais, se empenham em ultrapassar desafios diariamente. Para todos, sem exceção, quero deixar uma palavra de enorme gratidão porque, de facto, só o altruísmo dos nossos profissionais, sejam eles clínicos ou não clínicos, têm feito com que o Hospital de Cascais alcance tamanhas distinções.
Como veem o ecossistema empreendedor português?
Desde que integrámos como empresa fundadora a Healthcare City que temos contactado mais de perto com a realidade do empreendedorismo na área da saúde. Reconhecemos muito dinamismo e interesse não só de portugueses como de estrangeiros nesta área. Exemplo disso são as centenas de candidaturas que a incubadora recebeu nos últimos meses. Sabemos que nem todos os projetos irão ver a luz do dia, mas estamos certos de que o empreendedorismo nacional é forte e que as empresas, sejam grupos nacionais ou internacionais, estão atentas aos desenvolvimentos e ideias nesta área.
Que dicas partilham com os empreendedores nacionais que querem apostar na área da saúde?
Uma das bases para o sucesso é a identificação das necessidades reais do mercado. O sucesso de um projeto está diretamente ligado à necessidade que o mercado sente de ver resolvido um problema identificado no dia-a-dia pelos profissionais de saúde ou mesmo num nicho de mercado, mas que faça de facto a diferença na resposta dada pelas instituições. A forma como as start-ups entram no mercado está, felizmente, a mudar e é isso que a Lusíadas Saúde está a ajudar a impulsionar através da sua integração como parceira da Healthcare City. A Lusíadas Saúde reconhece neste projeto em concreto e nos empreendedores em geral uma nítida vontade de mudança para um melhor futuro na área dos cuidados de saúde, o que vem ao encontro da nossa cultura corporativa.
Foram os vencedores do prémio Kaizen Lean “Excelência no Setor da Saúde”. O que está na base da atribuição deste prémio?
Foi com enorme orgulho que recebemos o 1º Prémio Kaizen Lean “Excelência no Setor da Saúde”. O que esteve na base deste reconhecimento foi a criação do Núcleo de Eficiência no Hospital de Cascais e os resultados que foram obtidos no primeiro ano e meio de existência. Esta decisão estratégica atendeu ao contexto económico atual e teve como objetivo o desenvolvimento e promoção de projetos que promovam a eficiência de forma transversal e sistemática nas várias linhas de produção e áreas de suporte do hospital, garantindo um sólido desempenho, quer ao nível dos ganhos de qualidade e segurança para o doente, como também ao nível económico-financeiro.
*Vasco Antunes Pereira, presidente do conselho de administração do Hospital de Cascais