Opinião

Acredita no outsourcing da educação dos seus filhos?

Anabela Possidónio, fundadora da Shape Your Future

No momento em que vivemos é quase inultrapassável falar de inteligência artificial, assim como de quais serão as competências chave que irão permitir às pessoas prosperarem no mundo que se constrói todos os dias.

Uma vez que sinto que existem pessoas com muito maior conhecimento da primeira, vou-me focar na segunda. É cada vez mais evidente que aquilo que nos torna humanos será aquilo que nos irá verdadeiramente diferenciar.

Começando pelo início, e tendo em consideração a velocidade a que tudo se desenrola, a capacidade de desaprender e reaprender parece estar no topo da lista. A ideia de ter um percurso formativo com alguma duração, que culmina na entrada no mercado de trabalho, está completamente ultrapassada. O mais importante é que as pessoas desenvolvam a curiosidade e o gosto por aprender e explorar aquilo que é o novo.

Esta questão não deixa de ser um paradoxo, tendo em consideração que o sistema educativo continua a valorizar mais a memória dos alunos, do que a sua capacidade para pensarem criticamente sobre as coisas.

Simultaneamente a escola não os está a ajudar a desenvolverem competências que lhe permitam gerir a mudança de uma forma mais eficaz, quando esta é uma competência fundamental para se ter sucesso num mundo cada vez mais imprevisível. Aliás, mesmo sem olhar para a frente, podemos perceber a importância desta competência num contexto como a Covid, a Guerra na Ucrânia e os impactos na situação económica.

A gestão da mudança, acompanhada da resiliência, serão, sem dúvida, competências chave para o futuro. A capacidade de lidar com o fracasso e avançar, mesmo perante dificuldades, é crítica para ajudar os jovens a lidar com a pressão, manter o foco e alcançar os seus objetivos.

Neste contexto não posso deixar de partilhar a história do João, mas que também podia ser a da Maria. O João está no 9.º ano. Nesta fase da sua vida tem apenas que decidir se vai escolher a área de Científico-Humanísticos, mas aos 14 anos já quer a certeza que curso vai escolher. Por muito que lhe expliquemos que as diferentes opções que está a considerar estão dentro da área que vai escolher, sente uma angústia gigante nesta escolha. Para ele qualquer pequena mudança representa uma enorme situação de stress, o que não deixa de ser alarmante.

Já o caso da Francisca é um pouco diferente. Tem tido uma vida relativamente facilitada e nunca teve que se esforçar muito para conseguir nada. Inclusive em contexto escolar, onde com pouco estudo conseguiu tirar notas razoáveis até ao 9.º ano. O problema é que o 10.º ano trocou-lhe as voltas e falta-lhe o foco e a resiliência para atingir os seus objetivos. E como a resiliência é também uma competência chave para ter sucesso no futuro, mais até do que os bons resultados académicos, essa é a competência que terá que treinar.

E quanto a competências como a criatividade, originalidade e iniciativa? Para muitos jovens (e adultos), quando se fala em arte parece estar a falar-se de algo que não é suficientemente sério e que não merece estar ao nível das áreas científicas. Aliás, ainda continua a ser comum olhar para os alunos de Artes (acontecendo muitas vezes o mesmo com os alunos de Línguas e Humanidades) como os preguiçosos. Dito isto, o pensamento criativo é uma competência que promove a inovação, o pensamento aberto e a resolução de problemas. Os alunos são incentivados a explorar novas ideias e a encontrar soluções originais, o que os ajuda a ter maior capacidade para gerir a mudança.

Finalmente não posso deixar de falar em empatia, trabalho em equipa e comunicação. Entender o outro, ter capacidade de escuta, valorizar o trabalho do grupo, cumprir com o prometido, são competências que contribuem para que o todo seja bastante melhor que a soma das partes.

Estas são algumas das competências chave e, se é verdade é que se o sistema educativo tem que fazer a sua parte, cabe-nos a nós educadores fazer a nossa. Se quer ajudar os seus filhos a desenvolver alguma destas competências há algumas coisas que poderá fazer:

  1. Inscreva-os em atividades desportivas e/ou artísticas. Com isso está a promover o desenvolvimento de competências como a resiliência, o trabalho em equipa e a comunicação;
  2. Promova um ambiente de discussão de vários temas, por forma a estimular o pensamento crítico e a resolução de problemas;
  3. Experimentem coisas novas em família, por forma a que a mudança e a ambiguidade faça parte da vida dos seus filhos;
  4. Incentive-os a desenvolverem hábitos de leitura. A leitura é uma das melhores formas de ajudar os filhos a desenvolverem competências de comunicação e compreensão;
  5. Estimule a criatividade: ofereça-lhes materiais para desenhar, pintar ou construir e incentive-os a explorarem ideias e a experimentarem novas atividades. Isso ajuda a desenvolver a imaginação, a resolução de problemas e a capacidade para pensar fora da caixa;
  6. Motive-os a fazerem voluntariado e/ou a fazerem parte de associações em que desenvolvam capacidades de trabalho em equipa, entreajuda e comunicação e em que possam ter uma visão mais abrangente do mundo;
  7. Finalmente, e não menos importante, fomente a autonomia. A autonomia é uma competência importante para a vida, uma vez que os ajuda a desenvolver um rol alargado de outras competências, ao mesmo tempo que lhes dá confiança para experimentarem, errarem e não desistirem.

Não caia na armadilha de fazer o outsourcing da educação dos seus filhos! Faça a sua parte e ajude-os a navegar e prosperar neste maravilhoso Mundo Novo!

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Anabela Possidónio

Anabela Possidónio

Anabela Possidónio é fundadora e diretora-geral da Shape Your Future, que tem como missão ajudar jovens e adultos a tomarem as melhores decisões académicas e profissionais. Assume também o cargo de diretora-geral da Operação Nariz Vermelho. Tem uma vasta carreira corporativa de mais de 25 anos, onde assumiu posições de liderança em diversos setores (Saúde - CUF; Educação - The Lisbon MBA; Retalho - Jerónimo Martins e Energia - BP), em diferentes países (Inglaterra, México, Espanha e Portugal) e empresas... Ler Mais..

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