Opinião

A revolução da inteligência artificial e o futuro do trabalho

Nuno Melo, CEO e cofundador da Nexus Capital

O mercado de trabalho sempre foi moldado por ciclos de destruição e criação de profissões. O avanço tecnológico, as mudanças económicas e as transformações sociais têm continuamente redefinido as competências necessárias para prosperar em cada era.

Segundo um estudo do MIT, cerca de 60% dos empregos nos EUA em 2018 não existiam em 1940. Se recuarmos ainda mais no tempo, até a Revolução Agrícola, há cerca de 10 mil anos, assistimos à transição de caçadores-coletores para agricultores. Ou seja, a adaptação sempre foi a chave para a sobrevivência profissional.

Se queremos prever o impacto da Inteligência Artificial no mercado de trabalho, é essencial olhar para as grandes revoluções anteriores. A Revolução Industrial, iniciada no Reino Unido, marcou uma mudança radical: o artesanato deu lugar à produção em massa, a força humana foi substituída pelo vapor e, mais tarde, pela eletricidade. As cidades cresceram, os transportes evoluíram e surgiram novas profissões, impulsionando um grande crescimento económico. No entanto, este processo demorou aproximadamente 150 anos.

A grande diferença para a revolução da Inteligência Artificial está na velocidade. Se a Revolução Digital levou cerca de 70 anos, a IA poderá transformar o mundo num espaço de poucos anos. A digitalização gerou quantidades brutais de dados (big data), essenciais para treinar modelos de IA, enquanto a computação em nuvem tornou o processamento escalável e acessível. Assim, a Revolução Digital preparou o caminho para a atual transformação.

A rapidez com que a IA está a alterar o mercado de trabalho é impressionante, mas a sua adoção total dependerá de fatores como regulamentação, adaptação humana e evolução tecnológica. Embora traga inúmeras oportunidades, também apresenta desafios significativos. Os modelos de IA não “pensam” nem verificam fontes; apenas preveem o próximo conteúdo mais provável com base nos dados de treino. Isto pode levar à distorção da realidade e ao agravamento da desinformação. Já lá vai o tempo em que as fake news eram o maior problema—agora, enfrentamos a geração automatizada de conteúdo sintético, tornando cada vez mais difícil distinguir o real do artificial.

Entre os avanços recentes que aceleraram esta revolução está o DeepSeek, um modelo de IA que redefine o processamento e geração de linguagem natural cujo desenvolvimento foi de apenas 6 milhões de euros. Quando o DeepSeek foi apresentado, o impacto foi tão grande que fez com que as shares da Nvidia perdessem 17% num único dia.

Mas se um modelo de 6 milhões de euros já é impressionante, o que acontecerá quando surgirem modelos que custam apenas 6 euros?

Como encarar a revolução da IA?

As revoluções anteriores demonstram um padrão claro:

  • Quem se adapta e domina as novas ferramentas obtém vantagens competitivas.
  • A Inteligência Artificial não eliminará apenas empregos; criará novos papéis e modelos de trabalho.
  • A diferença entre ser substituído pela IA ou usá-la como aliada dependerá da capacidade de adaptação e aprendizagem.
  • Empresas e profissionais que investirem tempo a compreender e integrar a IA terão uma vantagem estratégica.

A pergunta que fica é: vais resistir à mudança ou vais liderar a próxima fase da transformação?

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Eugénio Viassa Monteiro, professor da AESE-Business School