Opinião

A primeira (e única) vez que escrevo sobre a Covid (aqui)

Diogo Alarcão, CEO da Mercer Portugal

Aproveitei o dia 1 de maio (apesar da COVID ainda foi Dia do Trabalhador em muitos países do Mundo) e escrevi no Google Trends a palavra que todos dizemos e teclamos no computador várias vezes ao dia nos tempos que correm: CORONAVÍRUS.

Os resultados não me surpreenderam, exceto um: as 5 perguntas mais frequentes feitas na véspera (no dia 30 de abril) relacionadas com a palavra coronavírus. Foi este o resultado que obtive:

  • Nos EUA
  1. Who makes Remdesivir? CEO da Mercer Portugal
  2. When will Disney World reopen?
  3. Is there a 2nd stimulus check?
  4. Are we getting another stimulus check?
  5. How to change the background on Zoom?
  • No resto do Mundo (sem EUA)
  1. How many People died from coronavirus in the world?
  2. When will lockdown end?
  3. Who can be tested for coronavirus?
  4. What caused coronavirus?
  5. Is coronavirus man made?

Parece-me que as preocupações dos norte-americanos (pelo menos na véspera do 1 de maio) são essencialmente económicas (perguntas 2, 3 e 4) e lúdicas (a mesma pergunta 2 e a 5 que acho particularmente interessante). Já o resto do Mundo parece mais interessado em saber as causas e consequências do que estamos a viver (perguntas 1, 3, 4 e 5) e menos sobre as consequências económicas desta pandemia (pergunta 2).

Creio que este pequeno exercício, obviamente limitado e não científico, diz muito destas duas realidades: os EUA e o resto do Mundo.

Pessoalmente, embora europeu e claro está preocupado com a origem e consequências para a saúde pública desta pandemia, estou muito mais alinhado com os norte-americanos. Confesso que não estou nada interessado em saber quando é que a Disney World reabrirá e já sei mudar o fundo nas zoom calls, mas estou muito preocupado com as consequências económicas da COVID. Creio que ainda ninguém consegue calcular o que é que este isolamento social (lockdown) representará em termos de insolvências, falências, despedimentos coletivos, disrupção de cadeias de valor, nacionalizações, aumento da carga fiscal, reequilíbrio (ou desequilíbrios) geo-estratégicos entre outros. Sobre isto não arriscarei cenários, mas gostava de partilhar o que podemos começar a fazer para tentar, pelo menos, minimizar esses impactos.

Para tal, apresento-vos a estratégia dos “Três Rs”, recentemente desenvolvida pela empresa onde trabalho que é (!) uma multinacional norte-americana. Estes três “Rs” correspondem aos três desafios que as empresas enfrentam atualmente:

  • Responder
  • Regressar
  • Reinventar

O primeiro desafio (ou etapa, se quiserem) prende-se com a atitude que queremos ter (ou temos tido) face à COVID 19. Estamos apenas a reagir ou estamos a tomar ações para controlar os impactos da pandemia? A resposta desejável é claramente a segunda. As empresas que controlarem a pandemia, em vez de se deixarem controlar por ela, terão mais hipóteses de sobreviver e proteger os seus colaboradores.

Ficam aqui algumas sugestões práticas de ações que podemos tomar para RESPONDER (primeiro “R”) à pandemia:

  1. Apoiar, virtualmente, os colaboradores proporcionando-lhes coberturas extra de saúde e apoio psicológico que os ajude a manter bons níveis de produtividade;
  2. Garantir cash-flow e eliminar todos os custos não-essenciais
  3. Comunicar, comunicar, comunicar garantindo níveis de confiança elevados e feedback regular.

Alguns de nós, entretanto, já estamos a planear o REGRESSO (segundo “R”) dos nossos colaboradores aos locais habituais de trabalho abandonando progressivamente o trabalho remoto. Sabemos que este regresso trará consigo novos riscos e, muito provavelmente, decisões difíceis de tomar e comunicar. Este será o momento de procurar conciliar o que pode parecer inconciliável: Negócio e Empatia.

Por um lado, temos que garantir que preservamos a saúde, bem-estar e os postos de trabalho, mas, ao mesmo tempo, sabemos que as novas formas de trabalhar e a procura de muitos dos nossos serviços e soluções não será a mesma nos próximos 6, 12, 18 meses… Para tal, será necessário repensar a composição e alocação das equipas em função das áreas que irão crescer mais, dotar as pessoas de novas ferramentas e competências que as permitam prosperar no futuro e dar resposta às novas solicitações e necessidades dos cliente, rever modelos de avaliação de desempenho ajustando-os à nova realidade, entre muitas outras medidas.

Terminada a fase do Regresso, surgirá o terceiro “R” ou, se quiserem, a fase em que seremos chamados a REINVENTAR as nossas empresas e os nossos negócios. O Mundo será diferente depois deste enorme travão e, como sabem, acredito que “Os travões servem para acelerar” pelo que acredito que os anos de 2021 e 2022 trarão novas boas oportunidades de crescimento e expansão económica.

Para fazer face a este Mundo pós-COVID será necessário apostar rapidamente na inovação e na diferenciação. As empresas que se conseguirem reinventar na forma como organizam o trabalho, interagem com os diferentes stakeholders (acionistas, colaboradores, clientes e fornecedores) e comunicam a sua proposta de valor ao mercado estarão em melhores condições de prosperar. Da mesma forma, quem ousar fazer diferente trilhando caminhos desconhecidos e arriscando ser pioneiro irá certamente surfar na onda de crescimento que todas as grandes crises mundiais sempre geraram.

É, pois, tempo para redesenharmos os nossos modelos organizacionais e de negócio, repensarmos o nosso EVP, preparar as competências do futuro, rever modelos de remuneração e incentivos, apostar na crescente customização de benefícios na área da saúde e bem-estar, apostar nas múltiplas formas de trabalho flexível e redesenhar as funções de suporte apostando tudo na sua digitação.

Esta é, pois, uma oportunidade única que se coloca à nossa geração: Thrive or Survive. Eu sei claramente de que lado quero estar. E tu?

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Diogo Alarcão

Diogo Alarcão

Diogo Alarcão tem feito a sua carreira essencialmente na área da Gestão e Consultoria. Atualmente é Vogal do Conselho de Administração da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões. Foi Chairman da Marsh & McLennan Companies Portugal e CEO da Mercer Portugal. Foi Diretor da Direção de Investimento Internacional do ICEP, de 1996 a 2003. Foi assessor do Presidente da Agência Portuguesa para o Investimento de 2003 a 2006. Licenciado em Direito, pela Universidade de Lisboa, concluiu posteriormente... Ler Mais..

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