Entrevista/ “A crise da Covid-19 fez com que o mundo inteiro saltasse para a digitalização”

Profissional multifacetado e com uma longa lista de atividades, Matteo Rizzi tem um denominador comum em todos os seus projetos: ligar pessoas, negócios e conteúdos sempre com paixão.
Autor do livro “The FinTech Revolution” e, mais recentemente, de “Talents & Rebels”, Matteo Rizzi tem mais de duas décadas de experiência em serviços financeiros, é empreendedor, investidor e fundador de vários projetos ao longo da sua carreira. Atualmente lidera a FinTechStage LTD, uma plataforma para investidores, inovadores e start-ups que cofundou em 2015. Rizzi vai ser um dos oradores da Expo RH Live , um evento 100% virtual onde vai partilhar a sua visão sobre por que razão para as empresas os talentos são inovação e os rebeldes são sobrevivência. Em entrevista ao Link To Leaders, o autor e empreendedor falou, entre outras coisas, da “revolução” que as fintech estão a fazer no mundo financeiro e do ecossistema de start-ups “incrivelmente vibrante” de Portugal.
Empreendedor, investidor, inovador, autor… Qual deles é o Matteo Rizzi?
Não é fácil responder “qual é o seu trabalho” francamente, a minha mãe ainda se pergunta. Sou tudo, com um ponto em comum, tento constantemente ligar pessoas, negócios e conteúdos de uma forma que faça sentido na minha cabeça, e não faço nada em que não possa injetar paixão
É considerado por muitos como um empreendedor não convencional. Que características deve ter um empreendedor não convencional? E um convencional?
Acho que a parte não convencional diz mais respeito ao facto de não precisar de “sair” dos meus negócios, estou mais interessado na construção do que na gestão, e aprendi que posso não ser o melhor gestor de pessoas. Além disso, sempre que trabalhei para uma grande empresa, não demorou muito até construir um negócio dentro da empresa, como um Intrapreneur. Também tendo nunca recusar o que é intelectualmente desafiador e impulsionado pelo impacto, o que explica a longa lista de atividades em que estou envolvido.
“Não há melhor altura do que uma crise mundial de saúde, social e económica para as empresas pensarem na reinvenção”.
De qual deles é que o mundo precisa mais neste momento?
Todo o objetivo do meu livro [Talents & Rebelds] é que os rebeldes, os desajustados e os dissidentes são necessários para a inovação mais disruptiva. Não há melhor altura do que uma crise mundial de saúde, social e económica para as empresas pensarem na reinvenção. Não se pode reinventar com recursos convencionais.
No seu mais recente livro, Talents & Rebelds, defende que qualquer empresa precisa de inovadores para se manter competitiva e rebelde para sobreviver. A que se deve isso?
Porque a maior parte da inovação das grandes empresas estão a focar-se, neste momento, é na inovação incremental, para a qual você precisa de pessoas inteligentes, rápidas, estruturais, conhecedoras. Para entender o que pode vir para baralhar o seu jogo, você precisa de dissidentes, desajustados e pensadores laterais, que – quase sempre – se preocupam mais em reinventar o negócio que mantém o seu emprego.
“Fintech tem tudo a ver com tornar os serviços financeiros mais fiáveis, eficientes e inclusivos, em última análise mais justos”.
Foi repetidamente nomeado como um dos “40 executivos mais influentes de FinTech na Europa”. Que impacto acha que pode trazer ao mercado, aos seus pares, às novas gerações?
Durante muito tempo, os serviços financeiros eram todos sobre confiança, e depois de 2008 as pessoas começaram a questionar essa afirmação. Fintech tem tudo a ver com tornar os serviços financeiros mais fiáveis, eficientes e inclusivos, em última análise mais justos.
Insisto no caráter incluso: colocando as pessoas da economia informal na economia formal, aumentamos a sua oportunidade de obter crédito e de crescer. Dois mil milhões de pessoas estão hoje excluídas da economia formal e as fintechs ajudam a trazê-las para economia formal.
Escreveu o livro “A Revolução FinTech” em 2016. Agora, em 2020, que revolução estão as fintechs a fazer no mundo financeiro, no mundo em geral?
No que diz respeito à inclusão financeira, que é o aspeto que mencionei anteriormente, penso que a banca digital, tanto o retalho como as PME, é o resultado de uma década de inovação nas fintech, onde os neo banks estão em parceria com start-ups para melhor servirem os seus clientes, utilizando o open banking como motor para partilhar as suas infraestruturas e abrir os dados a terceiros.
Como fundador de vários projetos ao longo dos anos, como o Innotribe e FinTech Stage, por exemplo, quais são os principais desafios que enfrentou? Que dicas dá àqueles que estão a passar pelo mesmo?O conselho cada vez mais importante seria garantir que sabem quais são os seus pontos fortes quando constroem o seu negócio e certifiquem-se de que se rodeiam de cofundadores e membros da equipa capazes de o superar em coisas em que não é bom.
O segundo conselho, sempre, é não acreditar nas suas próprias tretas, e entender o facto de que o mundo não se vai adaptar à tua solução, e tens de defender o valor acrescentado que a tua ideia pode trazer.
“A crise da Covid-19 fez com que o mundo inteiro saltasse para a digitalização (…)”.
Quais os setores que mais beneficiaram com a inovação e a transformação digital?
Os serviços financeiros, tremendamente. Agora, a crise da Covid-19 fez com que o mundo inteiro saltasse para a digitalização, transversal a todas as idades, negócios e classes. Agora, a maioria das empresas tenta acompanhar, e em breve veremos os que têm um melhor desempenho.
Que desafios esperam os empreendedores, os venture capitalist… o ecossistema em geral, nos próximos anos? Que tendências vê?
Para não parecer trivial ou demasiado genérico, vejo uma tendência crescente para o impacto no investimento e no financiamento sustentável, porque os investidores estão a levar mais em consideração estes fatores.
“Portugal é, na minha opinião, o banco de ensaio perfeito para a inovação(…)”
E quanto a Portugal, país que escolheu para viver. Como analisa a evolução do país em termos de inovação, empreendedorismo e transformação digital?
Tenho assistido à evolução de Portugal nos últimos quatro anos, e tenho participado em alguns ecossistemas e iniciativas (como alguns procedimentos regulamentares que lançaram) e com certeza o ecossistema de start-ups é incrivelmente vibrante.
O desafio é subir na cadeia de valor e juntar os incríveis ativos de Portugal como país para se tornar uma verdadeira plataforma tecnológica europeia para onde os investidores possam olhar e, portanto, pensar global desde o início.
Portugal é, na minha opinião, o banco de ensaio perfeito para a inovação, e a história já provou que os unicórnios podem ser construídos aqui. Estou entusiasmado por trazer o meu contributo para fazer de Portugal um centro ou excelência para a inovação de serviços financeiros também.