Opinião

O império dos papéis…e os seus prazos

Rosário Pinto Correia, Católica Lisbon School of Business and Economics

Hoje escrevo em jeito de desabafo… e como pedido de ajuda a quem pode ajudar! Sobre o que senti na pele quando, aos 60 anos, decidi tornar-me empresária e tornar realidade um projeto que há muito tempo ganhava forma.

O império dos papéis, um emaranhado que se autoalimenta.
Onde, quando achamos que temos tudo o que é preciso… falta ainda mais um papel. E os prazos. Que existem. Que são de lei. Que determinam o andamento do nosso projeto.

E que são sistematicamente ignorados e sobre os quais não temos sequer o direito de questionar (porque oh minha senhora, já sabe que isso está aí escrito, mas é impossível cumprir…!)

A quem me ler peço que não desista antes de chegar ao fim e perceber o que me desespera… e porquê

Mas peço, sobretudo, que se tente pôr nos sapatos de quem está do lado de cá do telefone ou do balcão, e que não está por dentro de todos os meandros infernais de um processo desesperante que parece infindável

Ficamos perdidos.
Entre call centres onde nos tentam responder com um guião que não tem as respostas de que precisamos.
Com emails que ficam sem resposta.
Em sites para onde nos remetem e onde não se encontra o que precisamos.
Nas listagens cheias de itens descritos em linguagem que não compreendemos.
Nos meandros da legislação com decretos que remetem para versões anteriores sem as reproduzir.
Com requisitos de diferentes entidades que não se identificam mutuamente…
E  desesperamos quando nada acontece nos prazos e da forma que devia acontecer!

Dir-me-ão que se queremos entrar numa determinada área de negócio temos de ter connosco quem dela sabe… mas nem todos os projetos sustentam estes apoios, e garanto que não são fáceis de encontrar.
E justificam os atrasos com falta de pessoal e que por isso as coisas se atrasam… ao que eu pergunto o que temos nós – os que estamos de fora e queremos fazer acontecer projetos – a ver com as decisões de política de recursos humanos das empresas ou organismos?

Pior ainda quando nos explicam (e explicam com veemência e até por vezes com irritação) que são os procedimentos…
Mas não conseguem perceber que os procedimentos e regras internos são procedimentos e regras internos,  e que não podem ser uma razão para justificar o inexplicável a um cliente ou utilizador.
Será que não poderíamos tornar todos estes processos mais simples?
Dar as respostas que de facto ajudem quem faz as perguntas?
Ter os sites mais virados para quem os usa?
Tornar as listagens de requisitos mais fáceis de perceber…
E, sobretudo, criar um sistema que junte todos os requisitos de todas as entidades que terão de se pronunciar, por forma a que quem quer construir qualquer coisa consiga duma vez só saber tudo o que precisa fazer?

E os prazos? São para cumprir, certo ?
Então porque nada acontece às entidades e empresas que não os cumprem?
E porque não está nada nunca previsto para compensar quem sofre com esses atrasos?
Se alguém tem duvidas sobre o que descrevo, só posso sugerir que faça um cliente mistério de todos os serviços que necessitamos utilizar para pôr qualquer projeto a funcionar.
Experimentem sentir-se na pele de quem os tem de utilizar.
Vão perceber muito melhor o que sentimos e o que deve ser feito…

É este o meu pedido. A quem pode!
Portugal precisa de investimento, certo?
O tecido empresarial português assenta nas PME, não é?
Então façam com que não desistamos!
Simplifiquem a vida e ajudem quem quer construir alguma coisa em Portugal. Talvez assim se consiga mais crescimento económico e mais investimento privado.

Desculpem o desabafo… mas tal como está é preciso ter um grau de resiliência e capacidade financeira brutais para fazer alguma coisa… e nem todos os temos!

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Maria do Rosário Pinto Correia

Maria do Rosário Pinto Correia

Maria do Rosário Pinto Correia é Founder e CEO da Experienced Management e regente da disciplina de Marketing in The New Era (licenciatura em Business Management) na CLSBE. Coordena, ainda, três programas de Executive Education - PGV - Programa de Gestão de Vendas, EI - Estratégias de Internacionalização e CE – Comunicação Estratégica, e é responsável pelo desenvolvimento de atividades da Executive Education da CATÓLICA-LISBON no Brasil e na Ásia. Licenciada em Ciências Económicas e Empresariais pela Universidade Católica Portuguesa,... Ler Mais..

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