O segredo do sucesso de Danielle Steele: trabalhar 22 horas por dia

Uma das mais lidas romancistas da atualidade descreve o seu processo criativo como “brutal e exaustivo”. Mas será aconselhável seguirmos a sua rotina de trabalho?

A autora de 71 anos tem 179 livros publicados, o que faz uma média de sete obras escritas por ano. Um pequeno comentário numa entrevista de perfil dada à revista Glamour sobre as suas maratonas de 20 a 22 horas diárias – já para não falar nas ocasionais sessões de 24 horas – provocou uma onda de admiração nas redes sociais.

Mas, de acordo com a notícia publicada no The Guardian, esta não foi a primeira vez que Danielle Steele fez referência à sua rotina de trabalho. Numa outra entrevista de há alguns anos disse “quando começo um livro, não abandono a minha secretária antes de ter terminado o primeiro esboço.” Nesse processo, a autora passa da secretária para a cama, da cama para o duche para se sentar de novo à secretária. Todos os contactos são evitados à parte dos estabelecidos com os seus nove filhos. “Durante essas semanas, nem sequer me penteio”, refere. As refeições são-lhe, também, trazidas à secretária onde escreve continuamente até que os dedos inchem e “todos os músculos gritem de dor”.

O artigo publicado no site de negócios Quartz considerou a rotina de Steel uma inspiração para todos, descrevendo que, se todos a seguíssemos como um exemplo “realmente libertador” de insónia laboriosa, rapidamente também veríamos resultados. Contudo, as recomendações da National Sleep Foundation, referem que alguém com a idade da autora devia dormir entre 7 a 8 horas  por noite.

Danielle Steele descreve o seu processo de 22 horas de trabalho consecutivas como “fisicamente brutal” mas, será que é mesmo possível? Maryanne Taylor da Sleep Works é peremptória: “simplesmente, não!”. Seria possível trabalhar durante todo esse tempo, sobretudo a título de exceção, mas o impacto que teria na produtividade não compensaria. “A ideia de que alguém pode manter-se nessa rotina durante muito tempo não me parece real.” confirma Katie Fisher, consultora do sono. “Se Steele dorme consecutivamente apenas quatro horas por noite, está a subestimar muitíssimo o impacto negativo que esse comportamento pode ter” acrescenta Alison Gardiner, fundadora do Sleepstation, um programa de mlheroa da qualidade do sono. “Este comportamento provoca um estado semelhante à embriaguez.”

É possível que Steele esteja a exagerar. A privação do sono auto-imposta tornou-se uma “espécie de símbolo de estatuto”, diz Taylor. Ou seja, uma forma errada de provar o quão poderosa e produtiva é uma pessoa. Consta que Margaret Thatcher era também uma adepta das noites de quatro horas de sono, que Marissa Mayer, antiga diretora executiva da Yahoo! completava 130 horas de trabalho semanais e que muitos outros grandes nomes da tecnologia consideravam esses níveis elevados de produção como a chave para o seu sucesso.

Esta tendência está, contudo, a mudar graças ao aumento da consciencialização sobre a importância do sono para a saúde mental. “As pessoas começam a perceber que o sono não deve ser algo que se encaixa em tudo o resto”, explica Taylor.

No entanto é possível, embora estatisticamente muito improvável, que Danielle Steele possa ser um caso excecional de alguém que tenha nascido com uma mutação do gene que regula o ciclo circadiano. “As pessoas com esta mutação tendem a acordar cerca de três a quatro horas depois de adormecerem, sentindo-se totalmente alerta sem que para isso tenham de recorrer a cafeína ou mais horas de sono”, diz  Sophie Bostock do programa de melhoria do sono Sleepio.

Mas esta situação é extremamente rara, estando, provavelmente, presente em menos de 1% da população. “Mesmo que a escritora se enquadre nesta pequena minoria”, conclui Bostock, “sugerir que uma rotina de trabalho de 22 horas diárias é apenas uma questão de disciplina é de uma grande irresponsabilidade.”

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