Opinião
A saúde mental como músculo invisível dos empreendedores

Ser empreendedor é, muitas vezes, um ato de fé. Fé numa ideia, numa equipa, num propósito. Acima de tudo, fé em si próprio. Mas entre o sonho e a realidade, existe um território quase sempre silencioso: o do desgaste mental.
Vivemos uma cultura que glorifica a resiliência, a produtividade e o “hustle”, como se o sucesso dependesse apenas de quantas horas conseguimos ficar acordados ou quantos desafios conseguimos suportar. Pouco se fala do preço. E o preço, muitas vezes, é a saúde mental.
O empreendedorismo é um desporto de alto rendimento. As emoções oscilam entre a euforia de uma conquista e o pânico de uma incerteza. Os dias trazem vitórias efémeras e noites longas, marcadas pela dúvida. Investidores exigem confiança, equipas procuram inspiração, famílias esperam segurança — e no meio de tudo isso, o empreendedor luta para não se perder de si mesmo.
O custo invisível deste caminho não é apenas financeiro. É emocional.
Ansiedade, insónias, medo do fracasso, solidão, síndrome do impostor são realidades partilhadas, mas raramente ditas em voz alta.
E, no entanto, cuidar da mente deveria ser tão essencial quanto gerir o fluxo de caixa.
Como qualquer atleta, o empreendedor precisa de ferramentas para proteger o seu equilíbrio: sono, movimento, meditação, fé, tempo de silêncio, momentos com os que ama. Estes não são luxos, são mecanismos de sobrevivência.
Como escreveu Ben Horowitz em The Hard Thing About Hard Things: “Só se vivem duas emoções: euforia e terror. E a falta de sono intensifica ambas.”
Reconhecer esta dualidade é o primeiro passo para normalizar o tema.
Falar sobre saúde mental não é sinal de fraqueza é, sim, um ato de liderança. É garantir que a chama da ambição não se apaga por falta de oxigénio emocional.
No Dia Mundial da Saúde Mental, vale a pena lembrar: O sucesso é importante. Mas continuar inteiro é fundamental. E, no fim do dia, não há melhor investimento do que aquele que fazemos em nós próprios.
*Start-up portuguesa de saúde e impacto social