Entrevista/ “Lembrem-se de que nem tudo na robótica se transforma em ouro”

A EBAN tem reunido algumas das mais emblemáticas histórias de sucesso dos business angels da sua rede e a Universal Robots é um desses casos. Enrico Krog Iversen, ex-CEO e partner da empresa, e uma das primeiras pessoas envolvidas na Universal Robots, fala sobre a jornada que foi “construir” o projeto e como este evoluiu.
A Universal Robots (UR) foi fundada em 2005 como uma spinout da Universidade do Sul da Dinamarca por três pesquisadores que queriam tornar a robótica acessível para pequenas e médias empresas. Os robôs colaborativos leves e flexíveis (cobots) da empresa acabaram se adaptando ao mercado, conquistando investimentos importantes da Syddansk Innovation, da Vækstfonden (agora EIFO) entre outros, e expandiram-se internacionalmente.
Em 2015, a empresa foi adquirida pela americana Teradyne. Hoje, Odense, cidade dinamarquesa origem da Universal Robots, abriga mais de 160 empresas de robótica, muitas das quais têm suas raízes exatamente na Universal Robots.
Enrico Krog Iversen, uma das primeiras pessoas envolvidas no projeto, do qual foi CEO e partner entre 2008 e 2016, explicou à EBAN (European Business Angels Network) porque investiu nesta empresa de robótica e como esta foi escalando internacionalmente ao longo dos anos.
Como conheceu a Universal Robots e o que fez querer envolver-se no projeto?
Foi uma coincidência. Eu tinha concluído outro projeto e estava à procura algo novo para fazer. Anunciei anonimamente no Børsen (o maior jornal de negócios da Dinamarca) perguntando quem poderia usar minhas skills e experiência. A Vækstfonden (agora EIFO) foi uma das empresas que respondeu. Com base na minha experiência anterior, entendi o produto e o seu potencial imediatamente, mas não gostei do plano de negócios. Passei alguns meses a reescrever a estratégia e o plano de negócios e, então, entrei para a empresa.
Na época, não havia realmente uma indústria de robótica em Odense [cidade dinamarquesa]. Como era o cenário quando entrou?
Na realidade, isso não é verdade. Odense já era muito ativa em robótica muito antes da Universal Robots, mas não tinham tido grandes sucessos comerciais.
Quais foram os maiores desafios iniciais ao tentar levar a tecnologia da pesquisa ao mercado?
Consciencialização. Consciencializar as pessoas (tanto utilizadores finais quanto parceiros de distribuição/integração) para a nova tecnologia, para as oportunidades de mercado e de como agora é possível automatizar de forma viável várias aplicações que não poderiam ser geridas por robôs industriais tradicionais. E muitas discussões sobre segurança e certificações de segurança com autoridades em diversos países.
“Não creio que a Universal Robots tivesse existido sem o financiamento público inicial”.
Qual foi o papel do financiamento público e dos investidores early stage para permitir o crescimento da Universal Robots?
Não creio que a Universal Robots tivesse existido sem o financiamento público inicial. Os business angels desempenharam um papel insignificante para a Universal Robots. Também vale a pena lembrar que a UR exigiu muito pouco financiamento.
Na sua opinião, qual foi o ponto de viragem que fez da Universal Robots um sucesso comercial?
Não houve um ponto de viragem. Foi um desenvolvimento diário.
A UR é frequentemente descrita como a centelha que deu origem ao ecossistema robótico de Odense. Imaginou esse tipo de impacto na época?
Não, não imaginei. O foco estava 100% no crescimento da UR e no sucesso da empresa. O resto veio depois.
Desde então, lançou e investiu em diversas start-ups de robótica. O que o motiva a continuar a investir neste setor?
Ainda há boas oportunidades de negócios em robótica/automação industrial. Mais, gosto de apoiar outras pessoas que gostam de construir empresas… e acho que “devo” algo à comunidade.
“(…) nem tudo na robótica se transforma em ouro. Sejam seletivos (…)”
Que conselho daria aos investidores ou empreendedores que procuram apoiar a próxima geração de empresas de robótica?
Lembrem-se de que nem tudo na robótica se transforma em ouro. Sejam seletivos tal como são em todas as outras indústrias e investimentos.
A publicação desta entrevista insere-se na parceria entre o Link To Leaders e a EBAN, rede europeia de investidores em fases iniciais.