Opinião

Don’t look back in Anger

Bruno Silvestre, fundador e searcher da SLY Capital

Numa altura em que os irmãos Noel e Liam Gallagher estão de regresso aos palcos com a turnê Oasis Live 25, dei por mim a ouvir um dos seus clássicos: Don’t look back in Anger. Apesar da inusitada relação, o tema desta música fez-me recordar uma expressão que há muito tempo ouvira, a expressão Amor Fati!

Em latim significará algo como “amor ao destino”, e foi popularizada pelo alemão Friedrich Nietzsche em “Assim Falou Zaratustra”. A ideia de Nietzsche é que Amor Fati seja entendida como uma postura existencial de aceitação e amor incondicional por todos os aspetos da vida, incluindo os momentos de sofrimento, fracasso e adversidade. Ou seja, não se trata apenas de tolerar o que acontece, mas de abraçar cada evento como essencial para a construção de quem somos e porque o somos. É um convite a ver cada experiência, por mais dolorosa que seja, como uma oportunidade de crescimento e transformação, ideia que também nos é apresentada por Séneca e outros estoicos clássicos.

No contexto dos investimentos, Amor Fati pode ser interpretado como a capacidade de aceitar e aprender com os altos e baixos do mercado, transformando perdas e erros do passado em lições determinantes para decisões futuras. O investidor que adota essa mentalidade não se deixa abater por reveses, mas utiliza-os, sempre, como elementos preponderantes de aprendizagem que, no fundo, servem como degraus para alcançar o sucesso.

Aprender e Investir são processos repletos de dúvidas e, muitas vezes, quanto mais se sabe, maior é a dúvida (efeito Dunning-Kruger). O mercado financeiro é um ambiente extraordinariamente dinâmico, onde ganhos e perdas coexistem. Este dinamismo estimula o impulso de agir, de fazer alguma coisa, de tentar mitigar as perdas ou aumentar os ganhos. Ora, é precisamente aqui que temos um dos maiores legados da dupla Buffett / Munger: a importância do temperamento para um investidor. Não importa quão dinâmico esteja o mercado. Não se sinta pressionado pelo tempo, nem pelo comportamento de outros investidores. Se a sua oportunidade de investimento reúne os fundamentais que pretende, continue.

Esta abordagem não significa ignorar emoções ou fingir que perdas não causam danos, quer financeiros quer emocionais. Pelo contrário, reconhece a dor, mas escolhe não se deixar condicionar e /ou definir por ela. Amor Fati ensina-nos a perceber o mercado como um professor rigoroso, cujas lições mais duras são as mais valiosas. Abraçar isso é transformar o passado num ativo, não num peso.

Considere o Sr. Gonçalves, um investidor que apostou uma parte importante das suas poupanças numa plantação de frutos vermelhos e abacates, seduzido por promessas de crescimento exponencial. Devido à reduzida carteira de clientes inicial e devido a serem alimentos perecíveis, o Sr. Gonçalves optou por fechar o seu projeto e perdeu uma parte significativa do seu investimento. Apesar de devastado, e de considerar abandonar os investimentos, optou por estudar o seu processo de investimento para perceber os seus erros. Identificou vários lapsos de análise e premissas erradas no seu projeto, além de aprender sobre diversificação e gestão de riscos.

O Sr. Gonçalves voltou aos investimentos. Desta vez com uma abordagem mais informada e começou a investir em Bitcoin… Bitcoin? Então, mas…?! Bitcoin serve como reserva real de valor? Então, mas a Bitcoin não é considerada por Buffet como um non productive asset e assim sendo, especulação e não investimento? Cá está, Bitcoin! Será um excelente tema para futuros artigos! Fique atento….

Independentemente do investimento, Nietzsche e Séneca têm razão. Devemos aceitar as contrariedades e utilizá-las como oportunidades para aprender e melhorar. Até porque, como dizia Munger “those who keep learning will keep rising in life!


Bruno Silvestre é o fundador e o searcher de serviço da SLY Capital. Nascido e criado em Coimbra, é engenheiro mecânico e engenheiro europeu e internacional de Soldadura, tendo, mais tarde, concluído o seu MBA Executivo na Faculdade de Economia de Coimbra, antes de se lançar no empreendedorismo por aquisição.

Com 15 anos de experiência profissional em indústrias de referência como a aeronáutica militar e civil, indústria petrolífera e indústria extrativa, participou em projetos com elevado impacto nacional e internacional, como a implementação da filosofia de gestão LEAN na Manutenção da Esquadra101 da Força Aérea Portuguesa, no projeto KAOMBO da petrolífera francesa TOTAL  e, recentemente, no Projeto de Expansão de Zinco da Sociedade Mineira de Neves Corvo, sempre em contextos multidisciplinares e multiculturais.

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