Opinião

Mais de 50? Obsoleta é a ideia de que se está obsoleto

José Crespo de Carvalho, presidente do Iscte Executive Education

A longevidade tornou-se não apenas um dado demográfico, mas um fenómeno social que reconfigura os contornos do trabalho, da aprendizagem e da realização pessoal. No entanto, há uma dissonância entre esta nova realidade e a forma como as organizações continuam a ver — ou a não ver — a faixa etária acima dos 50 anos.

Persistem preconceitos enraizados que associam a idade à obsolescência, à rigidez ou à desadequação, esquecendo-se que o tempo passou também para os estereótipos e que o mundo do trabalho de hoje já não é o de outros tempos.

Os profissionais com mais de 50 anos são, muitas vezes, tratados como estando na curva descendente e não têm função utilidade. No entanto, a verdade é que este grupo representa uma reserva de valor imensa, subaproveitada e pronta a ser mobilizada. São homens e mulheres que cresceram com a transição tecnológica, que se adaptaram às ferramentas digitais, que testemunharam (e participaram ativamente) na transformação das organizações. Esta não é uma geração desligada do presente — é, pelo contrário, uma geração que já o integra há décadas. A sua experiência não é um peso, é um ativo. Passaram por crises económicas, mudanças organizacionais, choques de cultura empresarial e reinventaram-se vezes sem conta. São resilientes, por natureza, e consistentes, via experiência.

Mais ainda: o número de pessoas com mais de 50 anos, em idade ativa, é expressivo e é crescente. Há vitalidade, há interesse, há energia para continuar a contribuir. E há, também, uma realidade que não podemos ignorar — muitos dos lugares menos atrativos para os mais jovens, especialmente em ambientes de maior exigência ou menor glamour, encontram na faixa dos 50+ um candidato ideal. O desinteresse de muitos jovens por certos setores, bem como o seu olhar mais instrumental sobre o trabalho, contrasta com a disponibilidade de uma geração que valoriza a pertença, o impacto e a continuidade.

Não se trata apenas de conhecimento técnico ou histórico. A formação acumulada ao longo de décadas — tanto formal como informal — traduz-se num ativo valioso. Esta geração continua, aliás, disponível para aprender. Está motivada para estudar, para se requalificar, para se adaptar. Falta, muitas vezes, o trigger. E é aí que se coloca o papel determinante dos programas formais de reentrada, de requalificação e de transição. Estes programas podem representar o sinal que muitos esperam para dar o passo seguinte, para mudar de área, para empreender, para se reinventar dentro ou fora das organizações.

Infelizmente, muitos empregadores ainda hesitam. Acham que os profissionais mais velhos vêm com “vícios”, que não se adaptam, que custam mais ou que não têm elasticidade. Mas esta visão é simplista e, muitas vezes, profundamente injusta. Cada ser humano é um ser humano — com o seu percurso, o seu potencial, a sua vontade. E muitas vezes, o que falta não é competência ou energia, é oportunidade e reconhecimento.

A geração dos 50+ está pronta para continuar a contribuir — e a fazê-lo com solidez, com lucidez e com consistência. O que muitos procuram já não é apenas um salário. Procuram propósito, utilidade e forma de devolver à sociedade e às organizações aquilo que aprenderam. Se fizerem um programa de formação executiva a si dedicado então, sim, trata-se de um investimento — pessoal e organizacional. Mas um investimento com elevado retorno. Basta que lhes abramos a porta, que desenhemos programas adequados, que os envolvamos e que, sobretudo, deixemos de os olhar como um “problema” e passemos a vê-los como parte da solução.

Hoje, aos 50 anos, ninguém está velho. Está, isso sim, à espera de um sinal. E esse sinal pode ser o estudo, a requalificação, o desafio certo no momento certo. Se soubermos agir agora, com visão e responsabilidade, desbloquearemos uma força silenciosa que poderá ser decisiva para o futuro das empresas, das economias e das comunidades.

Há experiência que não se ensina — vive-se. Há pessoas nestas faixas etárias que ainda têm muito para dar. Só precisam de ser chamadas a dar.

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José Crespo de Carvalho

José Crespo de Carvalho

Licenciado em Engenharia (Instituto Superior Técnico), MBA e PhD em Gestão (ISCTE-IUL), José Crespo de Carvalho tem formação em gestão, complementar, no INSEAD (França), no MIT (USA), na Stanford University (USA), na Cranfield University (UK), na RSM (HOL), na AIF (HOL) e no IE (SP). É professor catedrático do ISCTE-IUL, presidente da Comissão Executiva do ISCTE Executive Education e administrador da NEXPONOR. Foi diretor e administrador da formação de executivos da Nova SBE e professor catedrático da Nova SBE (Operations... Ler Mais..

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