Opinião

Três princípios para a gestão das organizações

Carlos Rocha, economista e gestor

“Correu mal? Não fui eu…”! Esta frase remete para uma clássica resposta observada em diversos contextos, seja ele familiar, social ou organizacional.

Esse comportamento geralmente reflete uma postura defensiva diante de fracassos ou críticas e é frequentemente acompanhado da tendência para culpar o outro ou o sistema. É uma mentalidade que evita a responsabilidade e não é pautada por princípios sólidos.

O papel dos princípios
Princípios são referências que orientam as nossas decisões e comportamentos, seja no âmbito familiar, social ou empresarial. No contexto organizacional, eles refletem a base ética e prática da nossa instrução e formação, muitas vezes aprendida no seio da família. Contudo, a incapacidade de assumir responsabilidades individuais pode comprometer a aplicação desses princípios.

A seguir, exploramos três princípios que ajudam a perceber os desafios organizacionais: o Princípio de Peter, o Princípio da Navalha de Occam (Occam’s Razor) e o Princípio de Hanlon. Eles são ferramentas úteis para a construção de relações interpessoais saudáveis, cultura organizacional sólida e processos eficientes.

Os três princípios

Princípio de Peter
Este princípio afirma que, em organizações hierárquicas, as pessoas tendem a ser promovidos até atingir o nível da sua incompetência. Essa situação pode gerar ineficiência e insatisfação no seio da organização. Para evitar esse cenário, recomenda-se adotar sistemas de promoção baseados em competência e mérito, priorizando o desenvolvimento contínuo das lideranças, ao invés de sistemas baseados apenas na antiguidade.

Princípio da Occam
Enfatiza a simplicidade como um caminho para a eficiência. Em vez de complicar os sistemas e processos para aparentar sofisticação e complexidade, devemos buscar soluções diretas e práticas. A vantagem é que simplifica estruturas organizacionais, reduz custos e aumenta a agilidade e a satisfação dos colaboradores.

Princípio de Hanlon
Muitas vezes, erros e comportamentos inadequados são resultado de desinformação ou incompetência das pessoas e não necessariamente da malícia. Aplicar esse princípio promove um ambiente de aprendizagem e colaboração, minimizando conflitos interpessoais e criando espaço para o crescimento através de uma aposta na formação e treinamento.

Aplicação dos princípios na organização

  1. Cultura Organizacional – O Princípio de Hanlon estimula uma cultura de aprendizagem, onde erros podem ser vistos como oportunidades para melhoria.
  2. Desenvolvimento de Lideranças – O Princípio de Peter destaca a importância de programas de desenvolvimento de líderes e políticas de promoção baseadas na competência e não apenas na antiguidade.
  3. Gestão de Pessoas – Aplicando os Princípios de Occam e Hanlon, é possível simplificar processos de recrutamento, avaliação e treinamento, ao mesmo tempo que se cria um ambiente mais harmonioso e eficiente.

Integração dos princípios
Quando aplicados em conjunto, esses princípios oferecem uma perspetiva abrangente para a resolução de problemas organizacionais. Lideranças competentes (Princípio de Peter), processos simples (Princípio de Occam) e um ambiente de trabalho colaborativo (Princípio de Hanlon) resultam em organizações mais produtivas e satisfatórias.

Conclusão
Incorporar esses princípios no cotidiano empresarial é um passo essencial para simplificar processos, fortalecer relações e evitar decisões desnecessariamente complexas. A mudança começa com a disposição de assumir responsabilidades e aplicar soluções fundamentadas em valores sólidos.

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Carlos Rocha

Carlos Rocha

Carlos Rocha é economista e atualmente é vogal do Conselho de Finanças Públicas de Cabo Verde e ex-presidente do Fundo de Garantia de Depósitos de Cabo Verde. Foi administrador do Banco de Cabo Verde, onde desempenhou anteriormente diversos cargos de liderança. Entre outras funções, foi administrador executivo da CI - Agência de Promoção de Investimento. Doutorado em Economia Monetária e Estabilização macroeconómica e política monetária em Cabo Verde, pelo Instituto Superior de Economia e Gestão – Lisboa, é mestre em... Ler Mais..

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