Opinião
Turismo no Centro de Portugal: oportunidades e desafios na era do crescimento

O turismo é, reconhecidamente, uma das grandes alavancas da economia portuguesa. O impacto positivo desta atividade reflete-se não apenas nas receitas diretas, mas também na criação de emprego, na revitalização de áreas urbanas e rurais e na projeção internacional do país.
No entanto, este crescimento traz consigo desafios, especialmente em destinos que enfrentam fenómenos de overtourism – turismo excessivo – como já se observa em várias cidades europeias.
O conceito de overtourism refere-se à saturação turística que afeta a qualidade de vida dos residentes e a experiência dos visitantes, comprometendo a sustentabilidade a longo prazo. Destinos turísticos como Barcelona, Veneza ou Amesterdão adotaram ou preparam-se para adotar medidas para controlar esta pressão, que passam por limitar a oferta de alojamento e regular o acesso a pontos turísticos. Nalgumas cidades do nosso país, já se notam sinais semelhantes, que nos obrigam a repensar no obrigatório equilíbrio entre turismo e a qualidade de vida das comunidades.
No Centro de Portugal, uma oportunidade de crescimento sustentável
Ao contrário de grandes metrópoles, regiões como o Centro de Portugal não enfrentam esta pressão. Pelo contrário, os desafios são outros e prendem-se com a captação de mais turistas, durante mais tempo, num esforço de equilíbrio de fluxos por toda a região.
Esta é uma oportunidade de desenvolvimento para o Centro de Portugal, que está preparado para acolher mais visitantes, sem perder a autenticidade ou sobrecarregar os recursos disponíveis. A capacidade de alojamento e restauração no território é ampla e diversificada, e a geografia heterogénea do Centro oferece um fator diferenciador: em vez de concentrações massivas de turistas, proporcionamos experiências diferentes e personalizadas.
O Centro de Portugal é um território para todos. Do turismo de natureza ao turismo cultural, da gastronomia ao enoturismo, do turismo desportivo ao turismo religioso, a oferta é vasta e diferenciada. De nada serviriam estes atrativos se a oferta hoteleira e de restauração não dessem resposta à procura. Mas a qualidade da oferta tem vido a subir na região, que oferece hoje experiências de restauração e de alojamento ao nível das melhores.
Toda esta oferta turística reflete-se num assinalável aumento da procura. Se o ano de 2023 bateu todos os recordes, com quase 8 milhões de dormidas na região, a tendência de crescimento continua este ano, com uma subida de 5,5% até agosto. A subida nas receitas é ainda mais expressiva, na ordem dos 9,6 por cento, o que abre as portas a novos investimentos.
Turismo com futuro: o equilíbrio entre crescimento e sustentabilidade
Enquanto há cidades que lutam para gerir os efeitos do turismo excessivo, o Centro de Portugal está bem posicionado para crescer de forma sustentável. A estratégia não passa apenas por aumentar o número de visitantes, mas por atrair turistas conscientes e interessados em conhecer a cultura, a natureza e a gastronomia da região, distribuindo a procura ao longo de todo o território e evitando concentrações indesejadas.
Esta é, acima de tudo, uma oportunidade nacional. Se o país apostar em alterar os fluxos de visitantes, encaminhando parte dos que chegam para os territórios menos massificados, aliviamos os destinos com mais pressão e desenvolvemos os que mais precisam, combatendo assim as evidentes assimetrias regionais.
Para isto ser uma realidade, terá de haver um investimento muito mais concreto, a nível da ferrovia e da rede de estradas, que facilite a deslocação dos visitantes por todo o território. A mobilidade eficiente é uma questão decisiva nesta estratégia.
Este modelo de crescimento é, acima de tudo, uma aposta no futuro. Ao manter a autenticidade da oferta e ao melhorar continuamente a qualidade dos serviços, o Centro de Portugal vai afirmar-se como um destino de referência, capaz de acolher mais turistas, sem sacrificar a sustentabilidade do território nem o bem-estar dos residentes – pelo contrário, melhorando as condições de vida de quem aqui vive.
O futuro do turismo, em Portugal e na Europa, passará necessariamente por encontrar este equilíbrio. E o Centro de Portugal está pronto para ser um exemplo de como crescer com qualidade e consciência.
Raul José Rei Soares de Almeida nasceu em Moçambique, em 30 de março de 1971, e reside na freguesia da Praia de Mira, no concelho de Mira. Licenciado em Direito, pela Universidade Lusíada do Porto, exerceu advocacia, especializando-se em Direito Informático numa sociedade de advogados em Lisboa. Em 2013, venceu as eleições para a Câmara Municipal de Mira, tendo sido reeleito em 2017 e 2021, funções que exerceu até tomar posse como presidente da Turismo Centro de Portugal em 2023. Faleceu a 27 de dezembro de 2024.