Opinião

O papel das empresas Corporate no desenvolvimento do ecossistema empreendedor

Teresa Fiúza, vice-presidente executiva da Portugal Ventures

Trabalhar em rede, conectar mundos, estabelecer alianças, partilhar ensinamentos. Todos sabemos que é o caminho para chegar mais longe e mais depressa.

Se compararmos o panorama empresarial atual com o do virar do século, são notórias as diferenças. Não só nos produtos e serviços disponíveis, mas igualmente nos materiais utilizados e na forma de comercialização dos mesmos. A globalização, o ritmo de awareness e adoção, a inquietude das novas gerações, alteraram a forma de concretizar negócios.

É válido extrapolar para o futuro e afirmar que o mundo dos negócios, como o conhecemos hoje, sofrerá igualmente transformações disruptivas no futuro.

Tendo esta consciência, as empresas mais estabelecidas, de várias dimensões e setores, têm feito um esforço de integração no ecossistema empreendedor, com vantagens para ambos.

As start-ups beneficiam da experiência das empresas mais maduras, para testarem os seus produtos, para poderem fazer as primeiras vendas (é fundamental para uma start-up começar a ganhar tração e poder apresentar uma carteira de clientes de referência) e por vezes acabam por ser investidas pelas empresas Corporate que as acolhem ou pelos veículos que criam para o efeito.

As empresas Corporate beneficiam de informação sobre inovação: no mercado em que operam e nos mercados de interesse; ganham formas alternativas de solução de problemas atuais e comungam do espírito irreverente, resiliente e fresco que caracteriza as start-ups em geral. Não menos importante, permitem aos seus colaboradores o contacto próximo com o mundo empreendedor, o que pode ser um fator de captação e retenção de talento.

É muito interessante perceber que as empresas Corporate partilham entre si formas de se manterem atualizadas no ecossistema empreendedor, de inovação e académico. Aumentando assim o alcance de cada uma das suas redes e criando verdadeiras constelações.

Os modelos divergem: algumas empresas têm veículos de investimento, os chamados Corporate Funds, outras têm programas de aceleração, algumas patrocinam concursos de ideias, outras fazem incubação. Algumas oferecem mentoria a start-ups.

A área de ciências da vida há muito que percorre este caminho, por perceber a importância das start-ups em áreas terapêuticas e de diagnóstico e por ter a convicção que os investidores mais generalistas não aportam fundos suficientes a esta área, onde a incerteza predomina e onde os prazos de investimento e validação são mais longos.

Mas hoje assiste-se a uma disseminação deste movimento para outros setores: banca, seguros, turismo, construção, transportes, consultoras, sociedades de advogados, etc.

É preciso que todos trabalhemos para que este sistema seja seguro e credível, para que o equilíbrio de poderes prevaleça. Para que (com humildade) cada parte entregue o que está ao seu alcance, tendo presente a justiça de repartição dos proveitos. Porque no final, todos temos a ganhar! Todos os players de um ecossistema que assim se fortalece e energiza, através de laços de confiança e entre ajuda com benefícios mútuos.


Nota biográfica: 51 anos, casada, mãe de dois filhos rapazes, encho-me de energia nos meus momentos em família, com os meus amigos e não abdico de momentos comigo própria. Apologista dos equilíbrios na vida: trabalhar muito, sem nunca deixar de ter tempo para os meus e para mim. Dar atenção a quem necessita e não ter receio de a pedir, quando me faz falta

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