Ana Rossell: a espanhola que quer transformar o futebol feminino num negócio rentável

Ana Rossell fundou há três anos a AR10, o grupo empresarial especializado em gestão desportiva que ela mesma dirige e com o qual já se posicionou num setor em crescimento.
Depois de passar metade da vida atrás de uma bola, Ana Rossell trocou o campo por um escritório, embora continue a calçar as chuteiras sempre que pode. Para trás ficaram os anos de competição ao mais alto nível no Atlético de Madrid. Rossell transformou em realidade o que muitos sonham, fazer da sua paixão o seu trabalho.
Como fundadora e conselheira delegada da AR10, o seu objetivo agora é devolver ao futebol feminino tudo o que este desporto lhe deu a ela como futebolista. E mais: “A AR10 pretende que as meninas de agora não tenham os mesmos obstáculos que eu tive, no seu dia para jogar futebol. O objetivo da empresa é minimizar essas barreiras”, afirma com convicção, cita o Expansión.
A sua empresa também trabalha para tornar o futebol feminino profissional e, para o conseguir, sabe que há que melhorar a gestão, direção e marketing das instituições e clubes. Por isso, a AR10 realiza serviços de consultoria para instituições e federações de Espanha, entre as quais a LaLiga. “Queremos mostrar que o futebol feminino pode ser rentável”, esclarece. Um objetivo que está cada vez mais próximo, agora que todas as equipas da Liga Iberdrola (a primeira divisão feminina) são profissionais.
O patrocínio da empresa do setor da energia renovável e a decisão da Mediapro de emitir, a partir desta temporada, os jogos em sinal aberto foram dois fatores chave para esta profissionalização. A AR10 também dá uma ajuda à causa e tem a única equipa de futebol da segunda divisão, o CD Tacón, com contratos profissionais para todas as suas futebolistas.
Desde que finalizou o Master em Gestão e Direção de Entidades Desportivas, Rossell trabalhou para levar a cabo a sua visão do futebol feminino: um desporto sustentável e capaz de gerar receitas com uma boa gestão. E a AR10 é a prova disso. Enquanto qualquer PME demora entre um e três anos para ser rentável, a sua foi desde o início. “A AR10 nasceu como start-up há três anos e, desde o início, conseguiu manter-se em números negros”, explica Manuel Merinero, diretor geral do grupo. “O nosso objetivo agora é aprender a gerir o sucesso, porque as coisas estão a correr bem”, acrescenta.
Parte desse sucesso radica nos quatro pilares sobre os quais sustenta o seu negócio: gestão, com a escola AR10 Soccer Talent e o clube CD Tacón; formação, com o curso de especialista em futebol feminino que é ministrado na Universidade Francisco de Vitoria e com o programa de bolsas desportivas nos Estados Unidos; consultoria, representando e assessorando jogadoras e colaborando com a RR Soccer Management Agency, a empresa de René Ramos; e tecnologia, com uma equipa de eSports e um software próprio desenhado pelo GSIC da Microsoft para a análise biomecânica postural das futebolistas.
Cada uma destas áreas de negócio é autofinanciada, o que obriga a que todas sejam rentáveis por si próprias. Esta forma de gestão é outro dos segredos da viabilidade financeira da empresa. O sucesso da AR10 e a notoriedade que Rossell conseguiu com o seu modelo de negócio para o futebol feminino tornaram-na, no ano passado, na mulher mais influente na indústria do desporto em Espanha. Um reconhecimento a nível individual que, para o futebol feminino, significa quebrar uma nova barreira.
Ainda restam muitas outras, mas a realidade é que hoje o binómio mulher e futebolista profissional deixou de ser algo impossível em Espanha. Os próximos desafios? Que nenhuma rapariga seja impedida de jogar, objetivo principal da AR10, e que as futebolistas profissionais possam viver da bola e dedicar-se 100% ao futebol. Esta última parece impensável, mas como Rossell não se cansa de repetir, “o impossível só demora um pouco mais”.