Entrevista/ 5 questões a Eduardo Nunes, cofundador da Kendir Studios

“A inovação não deve ser apenas criar algo novo, mas algo que traga mais valias reais aos habitantes de um mundo cada vez mais saturado e caótico”, afirma Eduardo Nunes, cofundador da Kendir Studios, start-up que desenvolve jogos e ambientes digitais de apoio à aprendizagem e ensino.

O projeto Kendir Studios surgiu como resposta à necessidade de melhoria dos recursos digitais oferecidos aos alunos e professores. Este estúdio desenvolve “o melhor que os jogos educativos têm para oferecer, qualidade no entretenimento, histórias fascinantes e gráficos de qualidade, e cria relações positivas e duradouras entre a experiência de jogo e os temas educativos, aumentando a motivação, a retenção de conhecimento e eficiência da aprendizagem”. Enquanto empreendedor, Eduardo Nunes, um dos fundadores do Kendir Studios, explica quais os erros que uma start-up não deve cometer e fala das competências que devem estar associadas a uma boa liderança. 

O que é inovação para si?
Atualmente, muito e muito pouco ao mesmo tempo. Consigo visualizar milhares de inovações possíveis em qualquer cenário com que me depare e ao mesmo tempo questionar se é mesmo inovador, necessário ou positivo. Por isso, considero que, hoje em dia, inovação não deve ser apenas criar algo novo, mas algo que traga mais valias reais aos habitantes de um mundo cada vez mais saturado e caótico.

Qual a competência chave para exercer a liderança hoje em dia?
Capacidade de adaptação. Mas não da maneira que tradicionalmente é considerada. Refiro-me à capacidade de, enquanto líderes, sermos capazes de nos adaptarmos às necessidades de determinados comportamentos, ações e reações na nossa equipa e organização. Estes comportamentos, na minha perspetiva, centram-se, por sua vez, na busca da evolução e manutenção de virtudes cardeais.

Num determinado momento, podemos precisar que a equipa exiba coragem, enquanto noutros, podemos pedir conhecimento, justiça ou moderação, ou qualquer outra subdivisão. Seja empatia para com os colegas ou com o cliente, paciência num processo de desenvolvimento, honestidade e transparência da gestão para com os funcionários, a evolução de reações emocionais para racionais, ou outra qualquer necessidade.

Será a start-up, como um todo e como organismo vivo, que deverá funcionar em união e sintonia e corresponder ao que lhe é pedido, adaptando-se organicamente e demonstrando em cada ação o seu propósito, estratégia e valores. Quando tal não acontece, o sucesso torna-se mais improvável.

Uma ideia que gostaria de implementar?
Transformar completamente a forma como os alunos se relacionam com a educação e o seu acesso a competências e ferramentas. O resto do mundo preocupa-se com o próximo salto tecnológico, na obtenção de mais recursos naturais e económicos, na otimização de processos ou melhoria do bem-estar. Mas acredito que a primeira geração a possuir, na sua maioria, uma relação extraordinariamente positiva com o processo de aprendizagem terá vantagens competitivas e dará arranque a um processo evolutivo imparável e inultrapassável que transformará o mundo.

Que argumentos não devem faltar numa start-up para atrair investimento?
Dissuasores de risco, em particular: sustentabilidade financeira, fatores diferenciadores e validação de terceiros. É importante avaliar e justificar cada um destes três fatores cruciais antes que o investimento emocional seja elevado.

Sem sustentabilidade financeira do negócio não podemos garantir pelo menos a continuidade, transmitindo incerteza.

Sem fatores diferenciadores, corremos o risco de sermos facilmente substituídos por alguém que irá investir mais recursos, humanos e financeiros, num projeto semelhante e rapidamente tornar-nos irrelevantes. O investimento ganha também um risco acrescido.

E, por último, demonstrar que não somos só nós a achar que o projeto tem validade, procurando sempre opiniões, de preferência, contraditórias ou negativas. Para a Kendir, isso surgiu com a vitória no prémio BfK Ideas de 2020 e a participação em programas de mentoria e aceleração como o BfK Rise que está agora a decorrer!

Erros que as start-ups nunca devem cometer?
Relaxar. Desacelerar o ritmo de desenvolvimento, ignorar a aprendizagem contínua e atualizar as nossas bases, não cultivar relações e parcerias, abandonar a procura e entrega de feedback interno e externo, são tudo formas de relaxamento que não podemos deixar entrar nos nossos hábitos e organização.

Não pedir ajuda. Pedir ajuda não é desistir ou mostrar incapacidade. É mostrar que não queremos desistir. É demonstrar resiliência.

Arrogância. Se as coisas começam a correr bem, provavelmente é por bons motivos. Por um bom trabalho e bases sólidas da start-up. E devemos ficar orgulhosos. Mas não arrogantes. Arrogância torna-nos ignorantes das falhas e de novas oportunidades. Torna-nos desleixados e despreocupados. É, muitas vezes, o princípio do fim.

Comentários

Artigos Relacionados