Opinião

Descomplicar o “Crypto” e alinhar incentivos

Pedro Cerdeira, Investor in Residence da CLSBE*

O mundo do Crypto não é propriamente novo, mas ainda escapa ao entendimento de muita gente. Democratizar conceitos como blockchain, criptomoedas, NFTs e Smart Contracts é indispensável num mundo financeiro já digital, para a literacia e o conhecimento das oportunidades.

A digitalização do mundo financeiro e dos negócios já está a acontecer e, numa primeira abordagem, pode causar confusão, uma vez que não é um processo exatamente linear. Assente em conceitos de dois mundos tipicamente distintos, o financeiro e o tecnológico (que muitas vezes se apresentam interligados de formas pouco intuitivas), este cruzamento coloca em questão pontos chave como: o controlo, a identidade, a propriedade, a segurança, e a regulação, entre outros.

O universo da De-Fi (decentralized finance), pela desintermediação dos processos financeiros atuais, e pela simplificação e transparência que introduz, tem o potencial de revolucionar a sociedade atual e as respetivas formas de gestão existentes. Desde já, tecnologias como a blockchain, enquanto sistema descentralizado e fonte única de verdade, na organização de sistemas comerciais, ao permitir, por exemplo, a rastreabilidade da propriedade de um bem e as condições em que foi transacionado, introduzindo um elemento de confiança que não existe no mundo físico.

Outra pedra basilar, são os Smart Contracts. A utilização de blockchain permite que duas partes acordem e codifiquem um conjunto de regras objetivas, que serão incondicionalmente executadas quando se verifique determinado conjunto de condições. Resolve-se assim a eterna questão da confiança entre as partes, que no paradigma antigo exigia o recurso, por exemplo, a um notário. A desintermediação do processo e a garantia de cumprimento do acordado são valores de importância fundamental no relacionamento comercial.

A tokenização que, numa abordagem muito simplificada, pode ser vista como a criação e implementação de um sistema de “pontos” segundo um conjunto de regras próprias, tem também sérias implicações na forma de ajustar incentivos em sistemas complexos. A digitalização do processo permite, por exemplo, incentivar a retenção de talento numa empresa, de uma forma muito interessante. Ao subordinar esse token a uma lógica de moeda ou de ação, permitindo a sua negociação em bolsa, onde existe oferta e procura e, portanto, liquidez e flutuação do preço, permite que um colaborador possa ser compensado pelo seu trabalho. Está então criado o conceito de DAO (Decentralized Autonomous Organization), que altera o paradigma societário atual de trabalho.

Um conceito muito popular atualmente são os NFTs (tokens não fungíveis, ou seja, ativos digitais com garantia de autenticidade e unicidade), empregáveis também, por exemplo, em artigos de arte ou colecionáveis. A criptografia assegura a sua origem, propriedade e proveniência, o que abre não só a porta a garantir a sua autenticidade, mas também a novos modelos de negócio, onde por exemplo o criador beneficia com cada venda que é feita da sua obra. É uma mudança de paradigma interessante, face ao modelo atual.

Importa entender melhor estes conceitos pois a digitalização financeira já está a acontecer e o interesse e as oportunidades são enormes. Em colaboração com o Center for Technological Innovation & Entrepreneurship (CTIE) da Católica-Lisbon, e outros peritos da indústria, estamos a fazer as “CryptoThursdays”, durante todas as quintas-feiras de julho – eventos online com o intuito de descomplicar um pouco o tema.

*Católica-Lisbon School of Business and Economics

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Pedro Cerdeira é licenciado em Engenharia Electrotécnica e de Computadores pelo Instituto Superior Técnico, com dois programas executivos da Universidade Católica Portuguesa, Programa Avançado de Gestão para Executivos e Programa Avançado de Empreendedorismo e Gestão da Inovação.

Tem mais de 25 anos de experiência em diversas posições internacionais seniores no mercado de Tecnologias de Informação Enterprise, nas áreas de desenvolvimento de negócio, gestão de vendas e gestão de alianças e parcerias, em empresas como Oracle, Brocade, EMC2, Compaq/HP, Alcatel e Accenture.

Participa ativamente no ecossistema empreendedor, como business angel, mentor (TechStars, StartupLisboa, BGI, Demium), Expert Evaluatorda União Europeia, Advisor do Denmark Innovation Fund e Membro do board da APBA – Associação Portuguesa de Business Angels. É fundador e managing diretor da Businessplug.com, apoiando o sucesso de start-ups, investidores e empresas, a escalar e a desenvolver negócios internacionais.

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